Boletim Letras 360º #462
DO EDITOR
1. Caro leitor, estas foram
algumas das notícias que passaram pela página do Letras no Facebook
durante a semana.
2. Volto a lembrar sobre o sorteio
do Kit com três livros da PontoEdita: Ida um romance, de Gertrude Stein;
Desvio, de Juan Francisco Mortetti; e Faça-se você mesmo, de Enzo
Maqueira. Os dois últimos títulos foram resenhados aqui no Letras e estão entre
os Melhores Livros de 2021 na categoria prosa.
3. Volto a lembrar também sobre a importância
do seu apoio a iniciativas como o Letras; é com os recursos dos sorteios
que buscamos ajuda para custear hospedagem e domínio do blog na web. Esse
reforço tem outra preocupação: até este final de semana, apenas uma pessoa estava
inscrita.
4. Você sabe todas as informações
sobre como participar do sorteio aqui. No mais, muito agradeço pela companhia, a
leitura e o apoio ao trabalho com o Letras!
Alan Pauls. Foto: Alejandra Lopez. |
LANÇAMENTOS
Dobradinha do argentino Alan
Pauls.
1. A reedição de um dos livros
mais conhecidos de Alan Pauls. Depois de doze anos de casamento, Rímini e Sofía
têm de encarar a separação e aprender a lidar com o que ficou para trás. O que
fazer com as centenas de fotos — momentos congelados, mas ainda pulsantes, de
uma história viva — que jazem em duas grandes caixas de papelão? Mas o passado
não passa e torna-se um pesadelo, um incômodo, uma aflição. constrói um
tratado moderno sobre a educação sentimental, um relato exemplar das
metamorfoses que as paixões sofrem quando entram no buraco negro da
posteridade. Um romance de terror e amor, que expõe o outro lado, ao mesmo
tempo sórdido e revelador, sinistro e hilário, da comédia que os seres humanos
chamam de “um casal”. Publicado no Brasil inicialmente pela extinta Cosac
Naify, a tradução de Josely Vianna Baptista para O passado é reeditada
pela Companhia das Letras.
2. A mesma casa editorial
apresenta o inédito A metade fantasma com tradução de Josely Vianna
Baptista. Savoy é um homem de cinquenta anos obcecado por apartamentos e casas
para alugar. Passa os dias visitando lugares, conhecendo corretores,
tornando-se um intruso fugaz na vida dos outros. A tecnologia o exaspera, mas
vaga pela internet comprando coisas de que não precisa. Quando conhece Carla,
uma jovem na casa dos trinta anos, que viaja de um país a outro sem nunca se
fixar, cuidando de casas, plantas e pets alheios, Savoy inicia com ela uma
relação virtual que dará o tom do romance. Entre eles há um oceano de distância,
a mesma entre um homem mais velho e obsessivamente meticuloso e uma mulher
jovem e despreocupada. Os mecanismos do amor, da paranoia e da paixão, que tão
bom resultado rendeu em O passado, voltam com vigor aqui.
A longa herança modernista em mais três lançamentos.
1. A edição crítica da obra de Oswald de Andrade. Oswald de Andrade. Obra incompleta é produto de um projeto que pertence à Coleção Archivos (volume 37) de obras clássicas latino-americanas, e com vários títulos de escritores brasileiros já publicados (Mário de Andrade, Clarice Lispector e outros). A edição de crítica genética reúne a poesia completa, dois romances — Memórias sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande —, manifestos, textos de tese, cronologia, histórias de texto (3 ensaios), leituras do texto (11 ensaios), dossiê da obra (33 ensaios), glossário e bibliografia. Há textos inéditos de Antonio Candido, Haroldo de Campos, Nicolau Sevcenko e outros. O estabelecimento de texto da poesia foi feito por Gênese Andrade; o dos romances, por Maria Augusta Fonseca. O volume tem 1656 páginas e conta com um caderno de imagens com mais 40 páginas. Em dois tomos coordenados por Jorge Schwartz os livros saem pela Edusp.
2. Os anos de Mário de Andrade junto ao Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo. A obra de carteador de Mário de Andrade ainda não totalmente publicada já é reconhecida como um monumento literário, digno de figurar com orgulho em qualquer língua. Esse personagem múltiplo, que se autodefinia sem modéstia como “trezentos”, “trezentos-e-cinquenta”, foi também protagonista de uma experiência inédita, a de diretor do Departamento de Cultura e Recreação da prefeitura de São Paulo entre 1935 e 1938. As cartas que enviou a Paulo Duarte, seu companheiro dessa aventura política, são candentes, confessionais e muito esclarecedoras das condições em que se implantou uma improvável intervenção do poder político na máquina pública para promover o acesso à cultura de indivíduos desprovidos de lazer numa cidade que cultua o trabalho. Paulo Duarte concebeu o Departamento de Cultura e teve o mérito adicional de convocar Mário de Andrade, Sérgio Milliet e Rubens Borba de Moraes para conduzi-lo. A si reservou o papel de tutor do projeto, instalado na chefia de gabinete do esclarecido prefeito Fábio Prado. Foram três anos palpitantes de muita dedicação, descoberta e realização. No entanto, a experiência não vingou. Foi esterilizada pela ditadura do Estado Novo. Mário nas cartas irá se lamentar de não ter sido capaz de institucionalizar o Departamento de Cultura. Teria isso sido possível num país que nunca concluiu a inserção da população numa sociedade de direitos básicos? Mário de Andrade viveu o drama do Departamento de Cultura como uma derrota pessoal. E chegou a declarar: “O Departamento é o meu túmulo”. Este livro é de Mário de Andrade, mas também de Paulo Duarte, unidos na paixão comum pela potência da cultura como fator de emancipação social. Com prefácio de Antonio Candido, Mário de Andrade por ele mesmo é publicado pela editora Todavia.
3. Organizada por Yussef Campos coletânea reúne diversos textos dispersos de Mário de Andrade. São obras dispersas de Mário de Andrade reunidas agora pela primeira vez; os textos foram originalmente publicados em revistas, jornais, periódicos e livros que se inserem no contexto da Semana de Arte Moderna e seus antecedentes. E, como o próprio polímata disse: “Bem poderíamos em 2022 celebrar o 1.º Centenário de nossa independência literária”. Trata-se, principalmente, de debates e reflexões de Mário de Andrade sobre a estética artística denominada “modernista”, organizados da seguinte forma: em “Mestres do passado”, estão Glorificação; Francisca Júlia; Raimundo Correia; Alberto de Oliveira; Olavo Bilac; Vicente de Carvalho; Prelúdio, coral e fuga; segue-se o “Prefácio interessantíssimo”, “A escrava que não é Isaura”; e os textos publicados na revista Klaxon. Inda bebo no copo dos outros: por uma estética modernista é publicado pela editora Autêntica.
Mais literatura hispânica. A
estreia de Elena Medel no Brasil.
Qual o peso da família nas nossas
vidas, e qual o peso do dinheiro? O que acontece quando uma mãe decide não
cuidar da filha, e quando uma filha decide não cuidar da mãe? Seríamos
diferentes se tivéssemos nascido em outro lugar, em outro tempo, em outro
corpo? Em As maravilhas, celebrado romance de Elena Medel, há duas
mulheres: María, que no final dos anos 1960 deixa sua pacata cidade de
província para trabalhar em Madri; e Alicia, que faz o mesmo caminho trinta
anos mais tarde, por razões bem diferentes. E há, claro, a mulher que as une e
de quem praticamente não se fala: filha de uma e mãe da outra. Este é um
romance sobre o dinheiro, ou melhor, sobre como a falta de dinheiro pode
determinar uma vida inteira de precariedade e matar, um a um, todos os sonhos
de alguém. Uma história sobre afetos, cuidados, responsabilidades e
expectativas. E, também, uma jornada sobre o passado recente da Espanha, do
final da ditadura franquista até a explosão do feminismo, contada por duas mulheres
que tampouco podem ir às manifestações lutar pelos seus direitos porque têm,
claro, de trabalhar para garantir o seu sustento. Vencedor do Prêmio Francisco
Umbral de Livro do Ano e já uma sensação na Espanha e em mais de uma dezena de
países, As maravilhas traz meio século do movimento feminista à tona.
Seu mergulho na vida interior das protagonistas é tão profundo e articulado
quanto suas reflexões acerca do mundo do trabalho para milhões de assalariadas.
O lirismo de Elena Medel revela suas raízes como poeta, mas sua narrativa —
rápida e com pleno domínio da forma — mostra que ela é uma romancista cheia de
bravura, dona de uma prosa hipnotizante. Este é um romance que inaugura uma
nova e inimitável voz na ficção contemporânea. Com tradução de Rubia Goldoni, o
livro é publicado pela editora Todavia.
O primeiro livro de um russo
falando sobre a obra de um dos nomes mais importantes da literatura russa.
Referência incontornável na
fortuna crítica de Fiódor Dostoiévski, este livro do professor russo Nikolai
Tchirkóv (1891-1950) analisa de forma detalhada a partir de seus principais
romances, de Gente pobre (1846) a Os irmãos Karamázov (1880).
Jogando luz sobre o processo de construção das narrativas do escritor, que
inicialmente parte da Escola Natural e do romantismo para depois encontrar seu
estilo próprio baseado nas figuras do “homem do subsolo” e do “homem-universo”,
este volume é uma excelente porta de entrada para os leitores que quiserem
conhecer mais a fundo a obra deste gênio da literatura. Com tradução e posfácio
de Paulo Bezerra, O estilo de Dostoiévski é publicado pela Editora 34.
Uma narrativa avassaladora que
entrelaça o retrato do racismo na sociedade estadunidense com a violência que
existe nas relações humanas.
O que deve prevalecer: a lealdade
à família ou à verdade? Será que dizer a verdade é sempre um erro e mentir
pela família é sempre justificável? É possível fazer o que é certo, mas se
arrepender amargamente? Em uma sucessão de episódios vividamente rememorados,
Violet Rue contempla as circunstâncias de quando ainda era a adorada filha
mais nova dos Kerrigan. Até que seus irmãos assassinam brutalmente um
adolescente negro e ela os denuncia para a polícia. Expulsa de casa, e
rejeitada pela família, Violet passa sua vida consumida pela culpa e presa à
fugidia esperança de retornar ao lar. A premiada autora Joyce Carol Oates
apresenta uma narrativa avassaladora que entrelaça o retrato do racismo na
sociedade americana com a violência que existe nas relações humanas, questionando
o real significado do amor familiar. Minha vida de rata tem tradução de
Luisa Geisler e é publicado pela HarperCollins Brasil.
Chega ao Brasil um segundo
romance da escritora portuguesa Ana Teresa Pereira.
Dona de uma prosa elegante,
sincopada e por vezes quase inefável, a autora retoma a história de Rebecca de
Winter imortalizada nas páginas do romance de Daphne du Maurier, no clássico
filme de Alfred Hitchcock e, mais recentemente, em uma nova produção
cinematográfica. Romance que embaralha o que é real e imaginário, o que é
inspiração e criação, o livro constitui-se numa das mais engenhosas peças da
ficção contemporânea em língua portuguesa. O verão selvagem dos teus olhos
é publicado pela editora Todavia.
Volume fundamental que reúne toda
poesia publicada em vida por James Joyce e a peça Exílios.
Antes da publicação de Ulysses,
James Joyce lançava a peça Exílios, em 1918. Nela, o autor explora
temas que aparecerão em sua obra magna, como as relações complexas de adultério
e desejo. Joyce também trabalhou constantemente em seus poemas e em 1917
lançava Récita privada. Neste volume estão reunidas a peça e sua
produção poética oficialmente recolhida em livro, sendo possível ter uma visão
mais ampla da ideia do autor não só sobre o exílio, como também sobre a própria
literatura. Além da peça e dos poemas, esta edição conta com um conjunto de
notas que Joyce elaborou durante o processo de escrita e alguns fragmentos de
diálogos não incluídos na versão final do texto. A tradução de Caetano W.
Galindo é publicada pela Penguin / Companhia das Letras.
Um novo livro na bibliografia de
poeta de Guilherme Gontijo Flores.
Dividido em quatro seções — “A
parte da perda”, “Colheita estranha”, “Três estáticas” e “Cantos pra árvore
florir” —, Potlatch é o breviário portátil de uma lírica tão afiada
quanto encantatória; tão meditativa quanto sensual; tão pessoal quanto marcada
por uma visão contundente da História e da nossa relação com a natureza, esse
presente que insistimos em destruir. Amor e devastação ambiental, passado e
utopia, eis os grandes polos em que oscila a lírica de Guilherme Gontijo
Flores. O livro é publicado pela editora Todavia.
Premiada biografia se
aprofunda, pela primeira vez, na trágica experiência de Tolkien na Primeira
Guerra Mundial.
No verão de 1916, aos 24 anos de
idade, o jovem acadêmico de Oxford embarcou para a França como segundo-tenente
da Força Expedicionária Britânica. Chegou a tempo de participar da Batalha de
Somme, a ofensiva que continua a ser considerada a mais letal da história
militar britânica. Para John Garth, os horrores que Tolkien vivenciou na Grande
Guerra, incluindo a perda de dois de seus amigos mais próximos, são a base para
a construção de O Senhor dos Anéis. A mente criativa de Tolkien
encontrou uma válvula de escape, e ele começou a escrever os primeiros
rascunhos de sua mitologia sobre a Terra-média “em abrigos sob o fogo de
granadas”. Com base em uma meticulosa pesquisa histórica sobre a Primeira
Guerra e a partir das cartas e documentos pessoais de Tolkien nessa época, este
livro é uma adição valiosa ao corpo ainda crescente de biografias de escritores
forjados, moldados ou meramente influenciados por este evento histórico. Ao
contrário de muitos de seus contemporâneos que se renderam à desilusão, Tolkien
manteve o encantamento vivo, remodelando toda uma tradição literária em uma
forma que segue fascinando milhões de leitores pelo mundo e ressoando até os
dias de hoje. Com tradução de Ronald Kyrmse, Tolkien e a Grande Guerra: O
limiar da Terra-média é publicado pela HarperCollins Brasil.
Reunindo mais de trinta ensaios,
entrevistas e discursos, Por que escrever? traz aos leitores um Philip Roth
raro e excepcional, deslocado dos artifícios do romance e mais próximo de si
mesmo.
Philip Roth foi um dos mais
notáveis escritores de língua inglesa do século XX. Dono de uma carreira
literária incomparável, dedicada sobretudo à ficção, ele ainda nos legou uma
extraordinária coleção de textos não ficcionais — muitos deles para responder a
provocações de diferentes naturezas, agradecer o recebimento de algum prêmio ou
chorar a morte de um amigo. O resultado dessa produção é uma série de
declarações e comentários sobre seu trabalho e o dos escritores que admirava, seu
processo criativo e a cultura americana. Último volume da obra completa do
autor publicado pela Library of America antes de sua morte em 2018, Por
que escrever? traz o indispensável de sua não ficção, reunida pela
primeira vez em livro: estudos sobre a obra de Kafka e os judeus na literatura,
palestras sobre os seus romances mais polêmicos e balanços de uma vida dedicada
à escrita. A tradução de Jorio Dauster é publicada pela Companhia das Letras.
REEDIÇÕES
Ainda o influxo do centenário
da Semana de Arte Moderna de São Paulo. Duas reedições.
1. Vanguarda europeia e
modernismo brasileiro, de Gilberto Mendonça Teles, sai acrescida de novo
prefácio. Grande parte dos intelectuais e artistas que estiveram à frente desse
movimento tinham vivido na Europa após a Primeira Guerra Mundial e enfim
traziam ideias e técnicas que lá se desenhavam desde as últimas décadas do
século XIX. O livro de Gilberto Mendonça Teles apresenta um rico panorama dos
movimentos modernistas, uma viagem em companhia de textos de artistas que foram
capazes de antever os sopros da mudança ainda no século XIX — como Charles
Baudelaire, Arthur Rimbaud e Stéphane Mallarmé —, nomes que protagonizaram as
vanguardas europeias — como André Breton, Vladimir Maiakovski e Tristan Tzara
—, expoentes do modernismo brasileiro — como Mário de Andrade, Oswald de
Andrade, João Cabral de Melo Neto e Murilo Mendes — e, enfim, aqueles que
marcaram um momento mais experimental da arte brasileira — como Décio Pignatari
e Wlademir Dias-Pino. Este é um título que convida leitores a compreender os
caminhos de um dos movimentos artísticos mais importantes do século XX,
responsável por refletir sobre um novo sentido para o homem no mundo e por
ajudar na construção desta percepção: o que é ser moderno. O livro é publicado pela
José Olympio.
2. Macunaíma — o herói sem
nenhum caráter é um marco na história da literatura brasileira. Foram
muitas as perspectivas utilizadas por Mário de Andrade na construção da
linguagem singular neste romance, pois ele se valeu de sua ampla visão da
cultura popular para criar o personagem-título — Macunaíma foi forjado a partir
de lendas indígenas e populares, colagens de histórias, mitos e modos de vida
que, nele somados, deram existência a um tipo brasileiro ideal. Um ser mágico,
debochado e zombeteiro, que viaja pelo país — de Roraima a São Paulo, descendo
o rio Araguaia, do Paraná aos pampas, até chegar ao Rio de Janeiro —,
acompanhado de seus irmãos, Jiguê e Maanape, numa aventura para recuperar seu
amuleto perdido: a muiraquitã. Publicado pela primeira vez em 1928 e custeado
pelo autor, Macunaíma teve sua segunda edição lançada pela Livraria José
Olympio Editora, em 1937. É esse texto que o leitor tem agora em mãos, com
atualização ortográfica, preservação do estilo da prosa e projeto editorial que
reproduz a arte gráfica de Thomaz Santa Rosa, icônico artista visual
responsável pelos livros da editora nos anos 1930 e 1940. A importância de Macunaíma
para a cultura brasileira é imensurável. A nova edição conta com prefácio de
Veronica Stigger.
Nova edição dos Melhores Contos
de Nélida Piñon.
Autora de mais de vinte livros e
com uma trajetória consagrada e admirada, Nélida nasceu para vencer distâncias
e cruzar fronteiras. Colecionadora de prêmios de grande relevância, como
Príncipe de Astúrias, Nélida abriu novas possibilidades para as escritoras
brasileiras e para a literatura nacional como um todo, desbravando espaços internacionais
que até então não haviam sido ocupados por nossos autores. Neste volume, o 38º
da coleção dirigida pela escritora e dramaturga Edla van Steen para a Global
Editora, a apresentação e a seleção da coletânea é do escritor e crítico Miguel
Sanches Neto. Com uma linguagem elegante, um forte olhar feminino sobre o que
existe e personagens que, mesmo em situações dolorosas, celebram a vida, Nélida
Piñon pode ser considerada como a mais universal das escritoras brasileiras.
Esta reunião de contos apresenta a essência de sua arte literária, onde a
preocupação com o humano tem um lugar de destaque.
Dois novos títulos na reedição
da obra de Nelson Rodrigues.
1. Publicada em 1941, A mulher
sem pecado, é sua primeira peça, escrita, diz Nelson, para ganhar dinheiro.
Motivo mais que justo. A genialidade, porém, impõe ao criador um destino para
além dele. Num enredo aparentemente simples, já encontramos traços de sua
escrita. Olegário, preso a uma cadeira de rodas, é casado com Lídia, sua
segunda esposa, por quem nutre um ciúme doentio. Levado por sua obsessão, cria
uma verdadeira rede de espiões, personagens comezinhos e próximos da mulher,
para ter a prova, não da verdade, mas daquilo que lhe corrói as entranhas. “A
única coisa que me interessa é ser ou não ser traído!”, diz Olegário, esse
Hamlet de araque, sem castelo, sem reino, mas possuído por seu dilema
existencial. Mas o pai de Hamlet foi mesmo assassinado, e Lídia é fiel!
Conhecendo ou intuindo os mecanismos da grande dramaturgia, Nelson nos brinda
com um final surpreendente.
2. Herculano, um viúvo moralista,
inicia uma relação conturbada e repleta de sentimentos antagônicos com a
prostituta Geni. Opondo-se a toda sua família, casa-se com Geni, e ela acaba se
envolvendo com o filho do marido. Essa traição gera ainda outros incidentes,
culminando na dissolução familiar. Apontada pela crítica como uma das peças
mais amargas de Nelson Rodrigues, Toda nudez será castigada estreou em
1965, com Cleyde Yáconis como protagonista. Os dois livros são reeditados pela
editora Nova Fronteira.
OBITUÁRIO
Morreu Neide Archanjo.
Neide Archanjo nasceu em São Paulo
em 1940. Formada em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco da
Universidade de São Paulo, sua vida na literatura começa ainda no período de
estudante com o livro Primeiros ofícios da memória (1964). Depois do
curso de Direito, conclui o curso de Psicologia nas Faculdades Metropolitanas.
A carreira literária, no entanto, nunca esteve em segundo plano; Neide atuou em
várias frentes da promoção ao acesso à literatura enquanto publicava títulos
que mereceram a atenção de colegas e da crítica. Dos seus livros destacam-se O
poeta itinerante (1968), Poesia na praça (1970, livro que registra o
movimento por ela criado em que poetas expunham seus textos em cartazes e
faziam recitais livres na cidade de São Paulo), Quixote, tango e foxtrote
(1975), Escavações (1980), As marinhas (1984), Tudo é sempre
agora (1994), Pequeno oratório do poeta para o anjo (1997) e Epifanias
(1999), seu trabalho mais conhecido. Em 2005, o livro que reúne sua obra
poética até então, Todas as horas e antes recebe o Prêmio Jabuti e o Prêmio
da Academia Brasileira de Letras; antes, em 1980, recebe da Associação Paulista
de Críticos de Arte (APCA) o prêmio com Escavações. Neide Archanjo
morreu em 14 de janeiro de 2022.
Morreu Thiago de Mello.
Thiago de Mello nasceu a 30 de
março de 1926 em Barreirinha, Amazonas. Ainda na infância mudou-se com a
família para Manaus, onde realizou seus primeiros estudos. Mais tarde, para o
Rio de Janeiro e chega a ingressar na Faculdade de Medicina, mas nunca concluiu
o curso. Passou, desde então, a se dedicar ao trabalho com a literatura; sua
estreia acontece com o volume de poemas Coração da terra, em 1947. Pelo
trabalho em veículos de oposição à ditadura de Getúlio Vargas, foi perseguido,
preso e obrigado ao exílio; regressou ao Chile, onde havia trabalhado como
adido cultural, e viveu neste país por mais de uma década. No retorno ao
Brasil, volta a viver em Barreirinhas. Sua obra se desenvolve em contínuo
diálogo com seu tempo, interessada pela renovação do homem em sua reintegração
com a natureza, este último, um interesse feito exercício pelo próprio poeta
que na terra de origem passa ao convívio e ao trabalho de luta com as
comunidades ribeirinhas na região amazônica. É dele livros como Silêncio e
palavra (1951), Narciso cego (1952), A lenda da rosa (1956), Faz
escuro mas eu canto (1966 e sua Magnum Opus), Poesia comprometida com a
minha e a tua vida (1975), Os estatutos do homem (1964, seu poema
mais popular), Vento geral (1981), Horóscopo para os que estão vivos
(1984), Mormaço na floresta (1984), Num campo de margaridas
(1986), dentre outros. Também escreveu prosa (crítica e ensaio) e traduziu
obras de nomes como T. S. Eliot, Pablo Neruda (com quem convive no Chile),
Ernesto Cardenal, Cesar Vallejo, Eliseo Diego, entre outros. Thiago de Mello
morreu no dia 14 de janeiro de 2022.
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