Uma vida comum, de Uberto Pasolini
Por Solange Peirão Causa impacto esse filme, criado e dirigido pelo cineasta Uberto Pasolini, começar com cenas de serviços fúnebres religiosos de crenças variadas. No espaço, o morto, o celebrante e uma pessoa que se conhecerá mais adiante. Trata-se de John May, o funcionário público londrino, acionado para inspecionar a casa dos que são e morreram só. A princípio, lembra um perito procurando as provas de um crime. Paramentado, cauteloso, vasculha o ambiente da casa, que em geral já encontra revirado. E nessa procura, o cineasta expõe as marcas, ainda frescas, de uma antiga vida solitária: um pote de creme com a marca dos dedos, um travesseiro afundado no centro, um varal com calcinhas. E fotografias. E elas, as fotografias, vão compor a mola mestra que costura a narrativa desse belo filme. Servem para dar pistas sobre a identidade do morto. Mas, para esse obcecado perito, são o caminho também para localizar seus entes queridos. Afinal, ambos merecem esse derradeiro encontro. Em todo