Mãe, de Hugo Gonçalves
Por Pedro Fernandes Hugo Gonçalves. Foto: Manuel Manso. Caso curioso o do romance, descrito algumas vezes como a forma mais instável da prosa. E isso é notável quando encontramos livros que assim se designam sendo apenas o romanesco enquanto possibilidade. Mãe , de Hugo Gonçalves, que por razões óbvias recebeu um título diferente do original no Brasil — em Portugal, saiu como Filho da mãe — é um desses casos. Trata-se do itinerário de um escritor às voltas por reconstituir a memória da mãe que morreu vitimada de um câncer quando ele ainda criança. A obsessão por essa ideia assume direções variadas e a de descrevê-la se demonstra nascer, primeiro como silêncio e fuga, e depois como fala e compreensão do acontecido, a história possível. Esses dois movimentos fundem-se e oferecem o conteúdo do livro, mas o conteúdo procurado, este se realiza — e daí porque falamos de um romance enquanto possibilidade — apenas como imaginação. Agora, não será isso mesmo um romance, o vivido perspectivado?