Stendhal descobre um amor de Michelangelo
Por Juan Forn Michelangelo. O Gênio da Vitória (A Vitória), 1532. Era uma vez um escritor francês que conseguiu virar italiano. É assim que Stendhal queria ser lembrado (até pediu que em sua lápide estivesse escrito: “Enrico Beyle, italiano. Viveu, escreveu. Amou.”). Isso não o impedia de confessar que toda vez que tinha que falar algo importante para si mesmo, falava em inglês, porque é preciso ser conciso para coisas importantes. Stendhal se percebia um falastrão, numa época e num lugar que não era aconselhável ser esse tipo. Daí que assinava seus livros sob um pseudônimo e viveu fora da França: na realidade, ele era Henri Beyle, o vice-cônsul de seu país em Civitavecchia, um posto de pouca importância mas única maneira que ocorreu a um bonapartista como ele de se manter fora da França naqueles tempos monárquicos. Na Itália, possuía, do seu jeito, algum divertimento: como se apaixonar por todas as belas mulheres de sua época. Muitas partiram seu coração; ele alegremente chorava e