O que se aprende nos romances
Por David Toscana Ilustração: Paul Davis Em Humilhados e ofendidos , Dostoiévski tem uma personagem que celebra a prosa e condena a poesia. Pois “os versos são absurdos”, enquanto “com a prosa pode instruir-se o povo, falar do amor da pátria, da virtude”. Assusta-me pensar em um romance instrutivo ou didático, mas é verdade que lendo ficção se aprende muito. Dom Quixote é meu mestre em muitos sentidos, acima de tudo foi meu professor de ética; também aprendi com ele muito sobre a ousadia, ainda mais do que com a Ilíada ; oferece aulas de liberdade de atitude, expressão e pensamento, e basta lê-lo ou ouvi-lo ler para compreender as belezas da língua espanhola. Alguém pode dizer que um romance não deve ser didático ou moralizante, mas a verdade é que em muitas passagens Dom Quixote é exatamente isso. Muitos diálogos com Sancho têm esse tom, principalmente quando ele dá conselhos sobre governar. E não esqueçamos o discurso das armas e das letras, em que dá destaque às armas porque: