Édipo ou Hamlet: nenhum sistema poético é filho de si mesmo
Por Marcelo Moraes Caetano Ilustração: Atelier Tout va bien Vamos começar com uma hipótese bem simples: o primeiro teórico a dizer algo não é necessariamente a mais importante referência naquilo que ele, pela primeira vez, enunciou. Não se trata de uma regra, mas de um eixo de reflexão. Deixo elucidado, também, que este meu texto não terá nenhum viés psicanalítico, perspectiva que eu, como psicanalista, encaminharei em outros momentos. Assim, por exemplo, Aristóteles foi, decerto, o primeiro a escrever um tratado de Semântica no ocidente (a “Lógica”, de que De interpretatione faz parte). No entanto, não é, nem de longe, hoje, a maior autoridade em semântica no mesmo ocidente onde a semente foi plantada. Os que o sucederam e recompuseram sua obra, através de sucessivas reformulações (Santo Agostinho de Hipona em suas Confissões , Frege, Russell, Wittgenstein em seu Tractatus Logico-Philosophicus ) em demolições (do alemão Abbau, no sentido de Heidegger, em Ser e tempo ) ou descons