A carta de Flaubert que inspirou “Memórias de Adriano”
Por Manuel Llorente “Quando os Deuses tinham deixado de existir e o Cristo ainda não viera, houve um momento único na história, entre Cícero a Marco Aurélio, em que o homem ficou sozinho.” Este fragmento da carta que Gustave Flaubert escreveu em 1861 (?) para Edna Roger des Genettes foi o que despertou em Marguerite Yourcenar a ideia que a levou escrever Memórias de Adriano (1951), seu romance mais conhecido. Assim pensou a escritora francesa: “Muito da minha vida passaria na tentativa de definir, depois de retratar, este homem sozinho e, ao mesmo tempo, ligado a tudo”. O autor de Madame Bovary foi um livro aberto. Ao longo das quase 4.500 cartas preservadas, deixou amostras de como progredia, muito lentamente, em seus romances, as decepções, os projetos, as reflexões literárias ou mundanas. Devem ser lidas ao mesmo tempo que seus livros para compreender a complexidade de um escritor solitário, tenaz e desencantado. E durante anos marginalizado, até que em meados do século passad