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Mostrando postagens de agosto 27, 2021

O segredo da perdurabilidade: a obra de Sara Gallardo

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Por Ana Llurba Sara Gallardo. Foto: Paula Pico Estrada.   Na última década, a obra ficcional e jornalística de Sara Gallardo (Argentina, 1931-1988) tem sido reeditada por editoras latino-americanas independentes. Mas, qual é o segredo de sua perdurabilidade, além de três décadas de sua morte e quatro de sua última obra publicada? Tentamos responder revisitando sua obra, consultando seus editores, assim como escritores contemporâneos que admiram seu trabalho.   Desde seu primeiro romance, Janeiro (1958), Gallardo explorou o desconcerto das classes sociais ricas, as pequenas hipocrisias, a perda da inocência, bem como uma reconfiguração da forma como o campo era abordado como um espaço literário, tocando temas polêmicos de sua época. Como, por exemplo, o estupro e as tentativas subsequentes do aborto de Nefer, a protagonista neste romance. Lida modestamente com “uma história de amor contrariado”; em Janeiro , a filha de um feirante de uma fazenda é vítima de abuso sexual por parte de se

No meu tempo

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Por Lourenço Duarte © Sabine Pigalle. É do poeta Horácio a frase laudatio temporis acti , ou em português o “louvor do tempo antigo”. Este verso da Ars Poetica alude exatamente a isso: o passado é superior ao presente. E de quem pretendia Horácio troçar? Ora, dos velhos que também nós conhecemos. Dos senhores de bengala nos bancos de jardim a mastigar alguma coisa (uma dentadura desobediente, por exemplo), que murmuram de quando a quando “no meu tempo é que era bom!”; das velhinhas à janela, atentas como falcões à menor das imoralidades (um jovem de cabelo pintado, duas raparigas que se beijam) para de seguida rosnar “antigamente...”.   Mas a crítica de Horácio estende-se a todos nós. O passado é o sítio mais seguro para se viver. É, por excelência, o token da infalibilidade. E isto porque ele já aconteceu. Por já ter acontecido, mitificamo-lo. Erguemos muralhas de afeto em torno de certas memórias, e nomeamo-las assim guardiãs da nossa felicidade. “Ah, como era bom voltar a ser cria