Clarice Lispector: a liberdade
Por Gisela Kozak Rovero Clarice Lispector. Foto: Correio da manhã . Arquivo Nacional. Quantos escritores na casa dos vinte anos gostariam de se dar ao luxo de escrever em um romance de estreia uma indagação tão radical sobre a liberdade como a feita por Joana, a protagonista de Perto do coração selvagem (1944): “O que seria então aquela sensação de força contida, pronta para rebentar em violência, aquela sede de empregá-la de olhos fechados, inteira, com a segurança irrefletida de uma fera? Não era no mal apenas que alguém podia respirar sem medo, aceitando o ar e os pulmões? Nem o prazer me daria tanto prazer quanto o mal, pensava ela surpreendida. Sentia dentro de si um animal perfeito, cheio de inconsequências, de egoísmo e vitalidade.” Nos anos quarenta, tempo de uma guerra cujas consequências moldaram o planeta, Clarice Lispector (1920-1977) se pergunta, com espírito nietzschiano, sobre os limites da moral, esses limites que no caso da mulher implicam seu corpo e sua vontade. “