Viagem ao fim da noite, de Louis-Ferdinand Céline
Por Pedro Fernandes Louis-Ferdinand Céline. Foto: François Pages. Os romances que melhor dizem de nós são os escritos sem quaisquer toques melodramáticos porque apenas assim não se contaminam com os limites impostos pela força do egocentrismo que nos regula mesmo quando acreditamos libertos dela. Machado de Assis, por exemplo, fez uso — para recuperar uma expressão sua muito adequada — da pena da galhofa. Esse tom, o escritor brasileiro encontra a partir de uma posição nenhum um pouco irmanada aos de seu tempo; ele propositalmente os trapaceia, qual o homem do subsolo, de Dostoiévski, não porque os renegue, mas porque motivado por visão desencantada desse mundo em que apenas na aparência se manifesta razoavelmente ideal prefere reconhecê-los à contrapelo. No caso de Viagem ao fim da noite , o desconcerto interior encontra forte correspondente com o exterior e traga qualquer possibilidade de uma mínima noção de idealismo. Isso significa dizer que, ao contrário do recorrente na lit