Nove poemas de Para que mar embarcas, Noé?, de Adonis
Por Pedro Belo Clara Adonis. Foto: Magali Delporte A palavra esquece a palavra é raro a palavra falar Aram arim ram rama Ararat 1 Da montanha das neves estenderam-se até mim as mão de uma História errante espalhada no deserto da época mãos que cosem travesseiros às estrelas que sangram nos mapas e a impressão de tocar estilhaços de cabeças e de corpos nas nuvens que os tocam *** De onde e como vindes caminhos que conduzis ao precipício vertentes-declives mentira cósmica souks 2 cegos arrastam cidades cegas arrastadas por guerras cegas Neve de Ararat diz às tuas vasilhas para derramarem os seus álcoois aos pastores das estrelas e das lendas e sabe que as bocas das tuas profundezas explodirão um dia e que a tua neve confraternizará com os campos e os canais de irrigação *** Déspotas cada glândula é um furúnculo a saliva é Inflamação os lábios latido uma corrente em cada pescoço Para eles as guerras são conversa de água os