O corpo escrito de Severo Sarduy: a paixão do corpo, a paixão da escritura
Por Gustavo Guerrero Severo Sarduy, 1971. Foto: Antonio Galvez / Arquivo: Centro Virtual Cervantes Queria descartar de início toda interpretação biográfica ou autobiográfica do tema aqui tratado. Acredito que o melhor testemunho sobre o corpo escrito de Severo Sarduy devemos a ele próprio nas páginas memoráveis de El Cristo de la rue Jacob onde descreve suas cicatrizes e compõe, com elas, um possível relato sobre sua existência. A marca deixada por uma espinha, os quatro pontos de sutura na sobrancelha direita, a operação do apêndice, um lábio partido, uma verruga e até o umbigo são aí capítulos essenciais da vida de nosso autor, tal como quis relê-la através de seus estigmas. Cada um é signo de uma história pessoal que se dispersa fragmentariamente no tempo e só alcança uma certa continuidade graças ao suporte espacial que o corpo representa. Engenhosa e, talvez algo mais, genial, esta autobiografia dérmica limita, a meu ver, tudo o que se possa dizer stricto sensu sobre o corpo e