Anna Kariênina, de Lev Tolstói
Por Joaquim Serra Anna Kariênina , o maior romance social da literatura mundial, como escreveu Thomas Mann, oferece ao leitor a possibilidade de entender um modo de representação que já não existe mais, uma história pensada e a serviço da suposição de um mundo visto em sua totalidade – por isso, perfeitamente trabalhada no modo de narrar. Essa representação épica das características individuais que levavam ao modo de vida de uma época, ali mesmo, na Rússia da segunda metade do século XIX, convivia com o mundo visceral e distorcido de Dostoiévski e seria abalada pelos contos de Anton Tchekhov, o “realista do colapso”, como o chamou Raymond Williams. Thomas Mann, numa síntese comparatista invejável, escreve: “É do elemento homérico que falo, do eterno-narrativo como arte-natureza, como ingênua magnificência, corporeidade, objetualidade, saúde imortal, realismo imortal. Isso era forte em Tolstói, muito mais forte do que em qualquer artista épico da época moderna, o que diferencia seu gên