Cinco poemas de Adam Zagajewski
Por Pedro Belo Clara Adam Zagajewski. Foto: Elżbieta Lempp. OS TRÊS ANJOS De súbito, três anjos apareceram aqui ao pé da padaria na Rua de São Jorge; mais um inquérito sociológico, suspirou um homem enfadado. Não, começou por explicar, com paciência, o primeiro anjo, gostaríamos só de saber em que é que se tornaram as vossas vidas, que sabor têm os dias e porque é que as noites estão marcadas pelo desassossego e pelo medo. É verdade, pelo medo, interveio uma adorável mulher de olhos de sonho; mas eu sei o porquê. As obras do pensamento humano soçobraram e precisam de ajuda e apoio, que não conseguem encontrar. Senhor, veja – chamou «senhor» ao anjo! – o exemplo do Wittgenstein¹. Os nossos sábios e líderes são tristes e loucos e sabem ainda menos do que nós, pessoas comuns (mas ela não era comum). E também, disse um garoto que andava a aprender a tocar violino, as tardes são apenas uma maleta oca, uma caixa vazia de mistérios, enquanto de madrugada