Bom Crioulo, de Adolfo Caminha
Por Pedro Fernandes “Era um misto de ódio, de amor e de ciúme, o que ele experimentava nesses momentos. Longe de apagar-se o desejo de tornar a possuir o grumete, esse desejo aumentava em seu coração ferido pelo desprezo do rapazinho. Aleixo era uma terra perdida que ele devia reconquistar fosse como fosse; ninguém tinha o direito de lhe roubar aquela amizade, aquele tesouro de gozos, aquela torre de marfim construída pelas suas próprias mãos. Aleixo era seu, pertencia-lhe de direito, como uma cousa inviolável. Daí também o ódio ao grumete, um ódio surdo, mastigado, brutal como as cóleras de Otelo...” Bem sabemos que nenhuma referência visível ou claramente sugerida num texto deve ser desprezada. O excerto acima está situado muito próximo do episódio final de Bom Crioulo ; trata-se de uma descrição oferecida pelo narrador que perscruta os volteios psicológicos da personagem principal da narrativa; nessa ocasião, Amaro encontra-se metido no interior da formação de uma angústia profu