José Donoso e o pássaro que devorou suas entranhas
Por Aurora Villaseñor José Donoso. Foto: Miguel Sayago. Nem a vocação para a medicina do pai e dos irmãos, nem a aplicação à lei dos avós advogados conseguiram oferecer a José Donoso um interesse genuíno pelas pessoas. Em entrevista concedida em 1989, aos 65 anos, declarou: “Não de estar comprometido, confesso, mas não sou um homem político. A polis para mim é outra coisa, é um interesse. Sou muito mais egoísta do que tudo isso, muito mais individual, muito mais focado em mim mesmo. Estou muito mais interessado nas minhas doenças do que nas doenças da sociedade”, disse o escritor. A intensidade com que parava de escrever era paralela a um sofrimento de úlceras que o faziam cair de cama, e que o tornaram um doente focado em seu próprio desconforto. Mas muitos anos antes de somatizar os contratempos da escrita, o chileno que fez parte do Boom latino-americano foi um inconformista que deixou sua cidade natal Santiago e fugiu para Magalhães, onde chegou resignado por não poder embarcar e