A violoncelista, de Michael Krüger
Por Pedro Fernandes Michael Krüger. Foto: Matthias Ziegler “O mundo nasceu de um soluço e vai acabar num soluço. Assim como Deus se entediou ao brincar com a matéria morta, com as esferas incandescentes que, numa órbita mais ou menos precisa, zuniam-lhe ao redor da cabeça, sem um desvio perceptível ou contingência, vai entediá-lo também assistir às mascaradas sempre renovadas dos homens. E, de qualquer forma, ele não entende nada de música contemporânea. Parou em Bach.” O autor dessas palavras, se não enfurecidas, repletas de um cortante sarcasmo, é um compositor alemão que, situado no outono da sua vida — pessoal e profissional — se mostra interessado passar a limpo uma existência devotada ao interesse continuado pela música. A essa altura, transita entre o limite de compor uma peça musical acerca da morte da lírica tendo por base a vida e obra do poeta russo Óssip Mandelstam e o contato de maneira repentina com o seu passado a partir da chegada em sua vida de Judit, a jovem filha