Naufrágios, de Diego Kullmann
Por Marcelo Moraes Caetano Temos diante de nós uma excelente obra nova de Diego Kullmann. Seu livro Naufrágios (Jaguatirica, 2021) revela um autor capaz de navegar linguagens, cenários e personagens tão marcantes quanto diferentes — e até díspares. O livro desconcerta por sua anotação (seria advertência?) pré-textual: “Baseado em histórias reais”. Isso se dá porque o texto parece aproximar-se da literatura surrealista, de uma metáfora muito concreta, de obras como A jangada de pedra , de José Saramago, ou Incidente em Antares , de Érico Veríssimo. Em todos esses livros, incluído o de Diego Kullmann, o território geográfico parte de uma possível inércia e ruma em direção ao protagonismo subjacente, como verdadeiro personagem-espaço com vez e voz. As histórias (sur)reais, assim, se trançam num emaranhado claustrofóbico, na agonia sufocante de uma cidade que o mar deixa de “costelas expostas”, corroendo e engolindo, com sua selvageria indócil, “doze quarteirões inteiros” de uma só