Louise Glück. Quatro poemas de Uma vida de aldeia (2009)
Por Pedro Belo Clara Louise Glück. Foto: arquivo Williams College. FADIGA Dorme todo o Inverno. Então, levanta-se, faz a barba – é preciso muito tempo até ficar um homem outra vez, o seu rosto ao espelho surge todo eriçado de cabelos negros. A terra é agora como uma mulher, aguardando-o. Um grande sentido de esperança – é isso que os une, a ele e a esta mulher. Agora ele terá de trabalhar todo o dia para provar que merece o que tem. Meio-dia: está cansado, está sedento. Mas, se desistir agora, perderá tudo. A transpiração que lhe cobre costas e braços é como a própria vida a esvair-se dele, sem nada que a substitua. Trabalha como um animal, depois como uma máquina, sem a menor réstia de sentimento. Mas a união jamais será quebrada, por muito que agora a terra dê luta, bravia ao calor do Verão – Ele agacha-se, deixando que a terra lhe escorra entre os dedos. O Sol põe-se, chega a escuridão. Agora que o Verão acabou, a terra torna-se dura, gelada; junto à est