António Ramos Rosa. Quatro poemas de Delta (seguido de Pela Primeira Vez) (1996)
Por Pedro Belo Clara Estar na montanha na imóvel ondeação com uma lua delgada como uma navalha De narinas dilatadas com as veias e os ossos numa profunda paz Que as palavras venham através do basalto e das lâminas aceradas do xisto na sonolenta aspereza dos muros Somos parte da trama silenciosa nesta ascensão da vagarosa força fibra a fibra até à alta profundidade vegetal Estamos no cerne do presente respirando a densa vibração de um tranquilo silêncio e somos a expansão imóvel da montanha *** Quando o corpo é um sorriso aberto ao sol o alento dança e o coração estremece como um peixe livre Pertencemos a um corpo de claridade nua com a viva delicadeza vegetal com a transparência do desejo na languidez de um leito de lentidão aérea e voluptuosa inocência Toda a terra se torna um país amoroso e a boca fascinada é concha e água no instante amado As fontes da palavra jorram de um ventre branco ou dos cabelos que navegam entre nuvens e veias Não precisamos procurar a raiz o ane