Os melhores de 2021
Por Pedro Fernandes
Ilustração: Leonard Beard. |
Exceto para o trabalho — uma
necessidade — não faço listas de perspectivas. Aliás, talvez seja, justamente
por isso ser rotina de professor que na prática adjacente prefiro não construir
mais projeções. Leio e vejo o que na ocasião me apetece, ou o que está há muito
no meu horizonte de interesse por motivação diversa, incluindo a revista dessas
listas agora publicadas e desde pelo que li sobre ao o que um objeto artístico
sugeriu, ou mesmo porque preciso responder aos compromissos das editoras
parceiras.
Agora no final do ano, depois de
passar a vista no que anotei para o possível lugar dos melhores, confesso — se
por enfado, preguiça ou falta de estímulo, não sei — pensei muito se valeria a
pena levar adiante a divulgação dessas listas. A desmotivação foi tanta que nem
mesmo abri consulta para o público nas redes ou pedi aos colunistas suas
preferências.
Bom, depois de idas e vindas, aqui
estão os Melhores de 2021, o que me pareceu melhor neste ano. De alguma
maneira, o trabalho estava pronto, e isso que se publica resultou apenas de uma
sistematização e da escrita deste breve texto de introdução.
Eu que não acompanho listas antes
de fechar as minhas, fico agora saturado só com essa nossa agonia pelo fim, o
que nos tem consumido cada vez mais cedo. E é sempre a crendice bestial do
diferente, da antecipação de uma felicidade plena e de outros clichês, o que cobra
o fechamento das portas do ano precocemente sem que dobremos o dia 31 de dezembro.
A outra parte dessa ansiedade responde pela necessidade, outra vez falsa, de
ser o primeiro veículo a publicar suas listas como se isso fosse um atestado de
competência aos incompetentes que remancham com as suas eleições. Terrível! A
meu ver, janeiro é que seria o mês para se preocupar com o balanço do ano
terminado e a projeção do ano que começa, mas terapia nenhuma ainda conseguiu
resolver o nosso mal-estar com o tempo.
Em outras ocasiões iguais a essa,
falei sobre alguns dos meus distanciamentos, como a leitura de narrativas
breves, cito a novela e o conto, e das narrativas visuais. Ora, talvez nada
supere este ano: foi quando mais li contos e foi quando não vi ou revi, até
agora, nenhum filme. A impossibilidade de ir ao cinema por causa da Covid-19,
algo que não faço mesmo agora com o oba-oba pós-pandemia que transformou este
país num celeiro para o vírus (tenha o destino, se existe, alguma piedade de
nós), é a razão primeira; a segunda, foram as obrigações de trabalho que muito
me cobraram este ano; e, certa impaciência para buscar alguma coisa no streaming.
Como não vi nada, não acrescentarei às listas, a de melhores filmes — óbvio.
As listas de leituras, no entanto,
foram bastante generosas, o que me obrigou a fazer algumas escolhas com base em
novos critérios a fim de, ao contrário dos anos anteriores, ficar apenas com
dez títulos em cada uma. No balanço final, sempre me pergunto as razões da presença
de determinado livro e não de outro, mas sempre me decido por aquele que marcou
de alguma maneira. É verdade que muito do que gosto vira texto aqui no Letras,
simplesmente porque não sou de perder tempo falando sobre o que não me presta.
Não sou pago para isso e nem preciso agradar o fulano autor, o ciclano leitor
ou a editora beltrana.
Então, outro critério foi se o
livro apareceu publicado entre nós entre 2020 e 2021. Isso significa que algumas
maravilhas como Viagem ao fim da noite, de Louis Ferdinand Céline, Eu
hei-de amar uma pedra, de António Lobo Antunes, Ninguém precisa
acreditar em mim, de Juan Pablo Villalobos, A ausência, de Peter
Handke, Fim de uma viagem, de Heinrich Böll, A violoncelista, de
Michael Krüger, O companheiro de viagem, de Gyula Krúdy, Jerusalém,
de Gonçalo M. Tavares, Antonio, de Beatriz Bracher e A montanha
mágica, de Thomas Mann — que não cheguei a escrever sobre porque já
constava alguma leitura e material variado aqui no blog —, títulos que estão entre
os meus favoritos do ano, não passaram para a lista aqui apresentada. Apesar
dos exemplos abundantes na prosa, a mesma orientação acompanhou também na
feitura da lista dos livros de poesia. Trapaceei o redondo número par, que tanto
gosto, e fechei com onze títulos cada.
Para o ano vindouro, espero manter
mais ou menos esse ritmo, com algum retorno à sétima arte. Espero levar adiante
o projeto de leitura de obras da literatura brasileira — apresentada uma vez
por mês aqui no Letras —, porque é sempre valioso conhecer melhor de nós
mesmos, ainda que tudo seja muito intricado. Há outras ideias, em termos de
leitura, anotadas aqui às margens das minhas listas, que, se tomarem corpo
serão divulgadas ao seu tempo. Enfim, sem promessas, que disso estamos fartos;
além do mais, 2022 é o ano em que elas serão usadas e abusadas à farta, não é
mesmo?
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