Boletim Letras 360º #458
DO EDITOR
1. Caro leitor, a semana que agora
finda foi a nossa última com atividades diárias aqui no Letras. De agora até o
final de janeiro, as publicações entram em ritmo lento, uma ou outra post, ou
nenhuma. E este boletim, passa a circular em formato reduzido, sem as seções de
costume. As redes sociais que têm presença do blog continuam a funcionar
normalmente.
2. E, em quase gesto de despedida de
2022, aproveito para lembrar à solidariedade de final de ano sobre o segundo
sorteio do pequeno clube de apoios ao Letras. Desta vez, o leitor premiado
receberá três excelentes livros da Pontoedita: Ida Um romance, de
Gertrude Stein; Faça-se você mesmo, de Enzo Maqueira (anunciado por aqui
na edição anterior deste Boletim); e Desvio, de Juan Francisco Moretti.
3. Para saber como se inscrever para
sorteio que acontece em janeiro visite aqui. E caso busque algo mais sobre esses
títulos pode consultar o site da editora ou visitar uma das publicações nas
nossas redes sobre o clube: aqui, no Facebook, ou no Instagram.
4. Obrigado pela leitura e pelo
apoio ao nosso trabalho!
Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Arquivo Museu da Imagem e do Som (MIS). Reprodução. |
LANÇAMENTOS
Três primeiras visitas ao ano
do modernismo. No centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo, vários estudos
revisitam o panorama das artes dentro e fora do lugar escolhido como epicentro
de um dos nossos períodos mais efervescentes.
1. Uma visita ao modernismo mineiro
a partir do seu centro.
Desde os anos 1970, Sergio Miceli
se destacou como estudioso da trajetória de intelectuais. Seus muitos trabalhos
transformaram o modo de entender as relações entre cultura e sociedade. Este
livro dá continuidade a esse projeto singular. No centro da análise estão
Carlos Drummond de Andrade e seus contemporâneos em Minas Gerais. Aos vinte e
poucos anos, Drummond dispunha de menos trunfos que os colegas. Sua formação
dera-se em Farmácia — o caminho natural seria o Direito. Havia acabado de
consumar um casamento que não lhe trouxe capital econômico ou social. E sua
família estava falida. A proximidade com Gustavo Capanema, interventor em Minas
e mais tarde homem forte do Estado Novo, é a chave que torna inteligível não só
o seu percurso profissional na juventude, mas também as possibilidades de sua
expressão poética. Se a contribuição da obra de Drummond não pode ser reduzida
a essa circunstância — e Miceli é o primeiro a reconhecer isso —, ela também
não pode ser entendida longe desse contexto. Lira mensageira traz ainda
olhares sobre o modernismo paulista e sobre a classe política na Era Vargas. Em
ensaio com foco nas obras de estreia de Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia,
Ribeiro Couto, Guilherme de Almeida, Plínio Salgado, Mário de Andrade e Oswald
de Andrade, Miceli traça um panorama do escrete literário que integraria a
Semana de 22, cravejado de tensões que seriam diluídas na fortuna crítica
posterior. No terceiro e último texto, o autor examina a elite política dos
anos 1930 e 1940 a partir do embate entre a União Democrática Nacional e o
Partido Social Democrático, ainda hoje reconhecível nas feições da classe
dirigente brasileira. O livro é publicado pela Todavia.
2. Vinte e nove ensaios
inéditos que festejam, questionam e provocam reflexões sobre a Semana de 22 e
seus desdobramentos, revisitando suas memórias e fortuna crítica.
Neste volume, organizado por
Gênese Andrade e com ensaios inéditos de José Miguel Wisnik, Lilia Moritz
Schwarcz, Walnice Nogueira Galvão, Regina Teixeira de Barros e outros vinte e
cinco pesquisadores, é instigante perceber como temas e questões que envolvem a
Semana de 22 não se esgotam. Revisitar aqueles dias de fevereiro envolve
avanços e recuos, novas perguntas e respostas em aberto numa reflexão
centenária que gira em torno de antecedentes e desdobramentos, sobre os quais
não há consenso. Do diálogo com o pensamento feminista, que ecoa nas herdeiras
da Antropofagia que marcam a literatura e a música contemporânea, à
representação e representatividade do negro na produção artística do período;
das reflexões sobre a força do design gráfico de livros e revistas de vanguarda
à controversa relação de Tarsila do Amaral com a moda parisiense; das relações
dos modernistas com a política à apropriação da temática indígena em algumas de
suas principais obras. Os textos reunidos neste livro têm como objetivo trazer
para o debate as manifestações e as obras artísticas modernistas, reconhecendo
suas virtudes e controvérsias, as relações com seu contexto político, social e
cultural de produção e recepção, com o mesmo vigor que moveu seus
protagonistas. Modernismos 1922-2022 é publicado pela Companhia das
Letras.
3. Uma análise inovadora e
surpreendente sobre a indumentária de dois nomes incontornáveis do modernismo
brasileiro.
Entre 1923 e 1929, Tarsila do
Amaral e Oswald de Andrade formaram um par icônico da cultura brasileira. O
casal Tarsiwald — apelido cunhado por Mário de Andrade — se consagrou como um
símbolo tanto no campo das artes visuais quanto no da literatura. Em O
guarda-roupa modernista, a professora e pesquisadora Carolina Casarin
mostra como os dois se apropriaram da moda para deixar a sua marca. Inédita, a
farta pesquisa revela como os ideais modernistas e as contradições do movimento
podem ser compreendidos a partir da escolha das roupas de dois notáveis
intérpretes do Brasil. Por meio de diferentes registros da época — vestimentas,
fotografias, pinturas, obras literárias, correspondências, depoimentos e
recibos —, a autora nos apresenta a um casal vibrante que soube traduzir em sua
aparência a irreverência, a elegância e as ambiguidades do nosso país. O livro
é publicado pela Companhia das Letras.
O segundo volume da poesia completa de Emily Dickinson.
Neste volume, acompanhamos Dickinson fora do âmbito dos fascículos, quando, depois de haver alcançado simultaneamente as fronteiras mais longínquas de seu estilo e os limites do livro-códice, ela entrou mais uma vez numa fase de profunda experimentação. Aqui, longe da ordem dialética dos fólios, e para além de um locus de poder, a ambição de Dickinson foi redirecionada, e sua escrita — uma escrita sem fim — deixou-se governar pelo Eros da invenção. Marcados por notáveis e novos passos rumo ao exílio e à alegria, ao desprendimento e ao deleite, tais textos também nos levam a conhecer mais a fundo o processo lírico de seus esboços, quando a mão que corre pelas folhas soltas é acometida e tomada por uma estranha agência, por um Outro que, como a poeta escreveu, “baixa” e “toma conta da mente da gente”. Aí as palavras, que esperam quietas os pensamentos, de repente os capturam em arapucas, traçando uma trilha numa escrita que segue o passo destes — e, quiçá, os ultrapassa. Dos pássaros, que são corporificações de seus poemas, Dickinson enunciou este auspício: “Esses testaram o nosso horizonte”. As traduções exorbitantes de Adalberto Müller querem acompanhá-los em sua rota, reportando sua crise estilística no presente tenso de uma nova linguagem. (Marta Werner) O livro é publicado pela Editora da UnB e pela Editora da Unicamp.
Uma leitura existencial sobre a
obra de Fiódor Dostoiévski.
Em Encontrar o homem no homem,
Víktor Eroféiev (1947), renomado escritor e ensaísta russo, faz uma leitura “existencial”
do legado literário de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), Jean-Paul Sartre
(1905-1980) e Albert Camus (1913-1960) e, no fundo, mostra como eles se
relacionaram com o sentido da vida ou com a falta dele. O livro desvela os
olhares desses autores inescapáveis sobre a “tragédia do individualismo” que
marca o mundo ocidental, oriunda do rompimento das “relações entre o indivíduo
e o clã” ou entre o indivíduo com algo que se encontra além dele. Representados
em personagens enclausuradas em si mesmas, os conflitos nascidos dessa ruptura
surgem continuamente e “de maneira incisiva na obra de Fiódor Mikháilovitch
Dostoiévski, não apenas no plano social, mas também no ontológico”. Não por
acaso os existencialistas franceses tornaram-se, em certa medida, seus “seguidores
espirituais”. A familiaridade de Eroféiev com a França vem de longe. Filho de
um diplomata soviético que serviu à embaixada russa em Paris, o autor teve sua
formação marcada pela cultura francesa. Dedicou-se à figura do Marquês de Sade
e, como tema de doutorado defendido em Moscou (1975) — que deu origem ao
presente livro —, escolheu Fiódor Dostoiévski e autores do existencialismo
francês, delineando uma espécie de linha de sucessão entre eles. Com efeito, se
Sartre elegeu como ponto de partida do existencialismo a célebre frase
atribuída a Dostoiévski “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”, Camus
afirmou que, “sem Dostoiévski, a literatura francesa do século XX não seria o
que ela é”. E Eroféiev capitulou: “Camus também não teria sido Camus”. Assim
como nós, sem todos eles, não seríamos nós. A tradução de Marina Darmaros
direta do russo é publicada pela editora Kalinka.
Reencontrar Denis Diderot.
Denis Diderot é frequentemente
associado à existência da primeira enciclopédia abrangente do mundo. Mas sua
escrita mais ousada ocorreu nas sombras. Levado à prisão por seu ateísmo em
1749, decidiu reservar seus melhores livros para a posteridade. Cada vez mais
atual em um mundo que discute a polarização política, desafiou todas as
verdades de seu século, desde a santidade da monarquia até a justificativa
racial do comércio de escravos. Com tradução de José Geraldo Couto, “Diderot e
a arte de pensar livremente” é publicado pela editora Todavia.
Um primeiro clube de livros de
poesia.
As editoras Luna Parque e Fósforo
se uniram para o projeto do clube Círculo de poemas. Serão publicados doze
livros por ano, a começar em janeiro de 2022. A ideia é reunir obras de poetas
brasileiros e estrangeiros inicialmente compreendidos entre os séculos XX e XXI
com obras inéditas, reuniões, antologias, resgates de livros esgotados, novas traduções.
Os assinantes recebem além do livro do mês uma plaquete também inédita e
preparada exclusivamente para o clube. Os dois primeiros livros são:
1. Dia de garimpo, um título há muito
fora de catálogo. Publicado originalmente em 1939, o livro de Julieta Barbara é
um dos poucos livros da fatura modernista de autoria feminina e ficou esquecido
por mais de oitenta anos. Esta nova edição da obra realiza um resgate
necessário de uma autora do século XX que pode nos ajudar a ler as questões dos
dias atuais. Nascida em 1908, Julieta Barbara foi uma escritora de seu tempo,
em sintonia com as mudanças culturais de sua época. Sensível a alguns
princípios modernistas, como a pesquisa de temas, mitos e referências da
cultura brasileira, o livro parece depurar a pesquisa estética de seu tempo,
trabalhando com uma linguagem coloquial e com registros orais, além de acenar
para outras linguagens artísticas como a música, a dança e as artes visuais. Raul
Bopp destaca, no prefácio da edição, que há, por detrás dos versos de Julieta,
“uma porção de coisas que a gente não sabe, um desejo de reunir distâncias […]
e uma mistura de vozes acordando sangues continentais.” Além de reproduzir o
material que constava na primeira publicação — ilustrações da própria Julieta
Barbara, uma carta-prefácio do poeta Raul Bopp e um retrato da autora por
Flávio de Carvalho —, esta nova edição traz também dez poemas inéditos de
Julieta, um posfácio de Mariano Marovatto e orelha de Veronica Stigger.
2. Poemas reunidos, de
Miriam Alves, trazem pela primeira vez compilados os poemas de uma das vozes
mais importantes da literatura brasileira dos últimos quarenta anos. Além de
seus dois livros Momentos de busca (1982) e Estrelas no dedo
(1985), o volume reúne também a poesia de Miriam Alves presente nos Cadernos
Negros, os poemas publicados em diversas antologias e revistas e até hoje
não recolhidos em livro e três plaquetes editadas por Miriam nos anos 2010 e às
quais ela chamou de “zines” graças ao seu caráter caseiro de feitura. Também
estão presentes na edição as mini-autobiografias da autora publicadas nos Cadernos
Negros e os prefácios originais de seus dois livros, escritos
respectivamente por Abelardo Rodrigues e Jamu Minka. O posfácio fica a cargo de
Emerson Inácio e o texto de orelha é de Heleine Fernandes. Política e lírica, a
poesia de Miriam Alves mobiliza diversas vozes e temporalidades para a
construção de uma subjetividade singular e poderosa.
Um romance que reconstrói o
Vietnã de ontem de hoje.
Uma mulher viaja através do caos
das memórias: a infância numa gaiola de ouro em Saigon, a chegada do comunismo
no atemorizado sul do Vietnã, a fuga no ventre de um barco ao largo do Golfo da
Tailância, a reclusão em um campo de refugiados na Malásia, os primeiros
arrepios no frio do Quebec. Relato entre a guerra e a paz, Ru fala da escassez
e do excesso, do desvario e da beleza. Desse rebuliço, incidentes tragicômicos
e objetos ordinários emergem com tantas outras marcas de um percurso. Evocando
um bracelete de acrílico repleto de diamantes, tigelas azuis circundadas de
prata, Kim Thúy reconstitui o Vietnã de ontem e de hoje com a maestria dos
grandes escritores. Ru é publicado pela editora Âyiné.
Novo livro de Djaimilia
Pereira de Almeida
Desde quando foi originalmente
publicado em Portugal, em 2015, Esse cabelo vem traçando um dos caminhos
mais originais, sensíveis e afiados da literatura em nossa língua. Isso porque
a obra de estreia de Djaimilia Pereira de Almeida dialogava — já com absoluta
originalidade — com o romance pós-colonial, o ensaio de identidade, a
autoficção e (não menos importante) a tragicomédia. Um novo caminho
estabelecido por essa que está entre as vozes mais singulares da literatura
contemporânea em qualquer idioma. “A verdade é que a história do meu cabelo
crespo intersecta a história de pelo menos dois países e, panoramicamente, a
história indireta da relação entre vários continentes: uma geopolítica”, diz
Mila, a narradora de inspiração autobiográfica de Djaimilia Pereira de Almeida.
Nascida em Luanda, Mila é filha de mãe negra angolana e pai branco português.
Chega a Lisboa com a tenra idade de três anos e sente-se uma forasteira desde o
início. É pela lente do seu cabelo indomavelmente cacheado que a história de
Mila entrelaça memórias de infância e adolescência, história familiar e
alentadas reflexões sobre o tenso equilíbrio — interno e externo — de uma
identidade europeia e africana. Escrito num estilo que mescla a melhor
fabulação romanesca com o ensaio, a crônica, o manifesto e a comédia cultural, Esse
cabelo traz a contribuição única da língua portuguesa a um diálogo global
cada vez mais fervente sobre racismo, feminismo, colonialismo e independência.
Irresistível de ponta a ponta, amorosa e um tanto irônica, essa é a história da
maturidade, em uma nação na periferia da Europa, de uma mulher negra que é
considerada forasteira em seu próprio país e não consegue enxergar a
possibilidade de “retornar” a uma pátria que, de fato, nunca foi sua. O livro é
publicado pela Todavia.
As vidas de duas pessoas — o romancista Rocco Carbone e a escritora e tradutora Pia Pera, amigos de muito tempo do autor e mortos prematuramente, de maneira trágica — dominam o centro de interesse de Emannuele Trevi em livro que chega ao Brasil em 2022.
“Porque nós vivemos duas vidas,
ambas destinadas a acabar: a primeira é a vida física, feita de sangue e
respiração; a segunda é a que se desenrola na mente de quem nos ama.” Nestas
linhas de Duas vidas estão o mote do texto de Emanuele Trevi. E talvez a
grande arte — e a grande angústia — do ensaísta seja a tentativa de unir essas
duas vidas entre duas capas, entre o início do primeiro parágrafo e o último
ponto-final. São as vidas de duas pessoas: o romancista Rocco Carbone e a
escritora e tradutora Pia Pera, amigos de muito tempo do autor e mortos
prematuramente, de maneira trágica — a morte sempre o é. Emanuele Trevi
percorre as memórias que guarda dos dois e sua investigação resulta em retratos
vívidos e comoventes, em odes às personalidades daqueles que ama. Esse olhar é
também narrador, pois a vida que se desenrola na mente é fictícia, em busca de
seu próprio meio de existência e expressão. Rocco e Pia são memórias que pulsam
e persistem — uma oliveira sobre o concreto, um jardim frondoso e secreto — e
que, graças ao exercício zeloso de Emanuele Trevi, não desbotarão, mas seguirão
inspirando o exercício da atenção. “... escrever sobre uma pessoa real e
escrever sobre um personagem imaginado é a mesma coisa: é preciso é [...] fazer
cintilar um fogo psicológico a partir de alguns gravetos úmidos catados aqui e
ali” — neste livro, as pessoas Rocco e Pia tornam-se personagens de Trevi —
como Elpenor, de Homero; Francis Macomber, de Hemingway; Tatiana, de Onêguin —
e podem, enfim, descansar em seu manso desassossego. Duas vidas, de Emanuele
Trevi, traduzido por Davi Pessoa é publicado pela editora Âyiné.
Um retorno a Melody.
A história deste romance começa em
2001, na noite da cerimônia de maioridade de Melody, então com dezesseis anos,
na casa de seus avós no Brooklyn, em Nova York. Assistida com amor por seus
parentes e amigos, e entrando ao som da música vibrante de Prince, ela usa um
vestido especial feito sob medida. Mas o evento não é despido de pungência.
Dezesseis anos antes, esse mesmo vestido foi medido e costurado para um corpo
diferente: o de Iris, a mãe de Melody, para uma celebração que, no fim das
contas, nunca aconteceu. Em carne viva centra-se em duas famílias negras
que se uniram quando Iris e Aubrey, um casal de adolescentes ainda no colégio,
descobriram que seriam pais. Ao revelar a história da família de Melody — e
remontar ao massacre racial de Tulsa em 1921 — Jacqueline Woodson mostra como
todos os personagens chegaram neste momento, e direciona o foco não apenas para
suas ambições e seus sucessos, mas também para o preço das escolhas que fizeram
a fim de superar as expectativas e escapar das armadilhas da história
afro-americana. À medida que explora desejo sexual, identidade, ambição,
gentrificação, educação, classe e status, e as mudanças de vida advindas da
parentalidade, este romance impressionante olha para o fato de que os jovens,
muitas vezes, devem tomar decisões duradouras sobre suas vidas — até mesmo
antes de começarem a descobrir quem são. A tradução é de Claudia Ribeiro
Mesquita e é publicada pela Todavia.
Lançado em razão do Tolkien
Reading Day, uma caixa de luxo em formato pocket com quatro títulos de J. R. R. Tolkien.
Pela primeira vez no Brasil, as
duas principais obras de J.R.R. Tolkien são vendidas juntas, em um box rígido e
com alto grau de acabamento. Em um mesmo conjunto o leitor poderá conferir
todos os eventos do final da Terceira Era da Terra Média, começando com a
jornada Lá e De Volta Outra Vez de Bilbo Bolseiro, até suas implicações a longo
prazo, que culminaram na jornada de Frodo Bolseiro e na Demanda do Um Anel,
eventos narrados em O Senhor dos Anéis. Os diferenciais da edição:
quatro livros — O Hobbit, A Sociedade do Anel, As Duas Torres
e O Retorno do Rei. Capas em couro macio e flexível com cantos
arredondados. Fitilhos marcadores de página nas cores de cada capa. Lombada
costurada que permite total abertura do livro. Acabamentos em baixo relevo e hot
stamping nas capas e na caixa. Box rígido chanfrado revestido em couro
macio. Mapas coloridos nas guardas de todos os livros; papel premiun na cor
creme e com cantos arredondados. Mancha e espaçamento de linhas confortáveis.
Tamanho pocket padrão que permite melhor manuseio dos livros. Leveza, beleza e
qualidade combinados. Produto exclusivo da HarperCollins Brasil.
O segundo romance-folhetim de
Nelson Rodrigues, publicado, como o primeiro ― Meu destino é pecar ―, em 1944, sob o pseudônimo de Suzana Flag.
Crimes, mistérios, personagens
pouco confiáveis e intensas tramas de amor formam esta história, que, criada
com o objetivo de aumentar a venda de exemplares de "O Jornal", onde
era publicada, e primando por despertar nos leitores a curiosidade pelo
próximo capítulo, não abandona o olhar social crítico que marca as obras que
Nelson assinou com o próprio nome. Se a trama principal traz paixões
arrebatadoras, acontecimentos estranhos e planos diabólicos que buscam vingança
por um amor perdido, encontramos em seus personagens a representação de uma
classe social para a qual nada no mundo é tão importante quanto a própria
aparência, a própria reputação. Esta edição conta com texto de apoio da atriz
e roteirista Dadá Coelho. Escravas do amor é publicado pela
HarperCollins Brasil.
Chega ao Brasil um dos primeiros
livros do escritor camaronês Max Lobe.
Escrito numa linguagem musical,
cintilante e inventiva, A Trindade Bantu é o segundo romance do escritor
camaronês Max Lobe, há anos residente na Suíça. A obra apresenta aos leitores brasileiros
a voz pungente de um escritor que expõe com ironia, humor e ternura as
contradições e falsas ilusões de uma sociedade multicultural como é a das
cidades da Helvécia, um país no coração da Europa, palco da narrativa desse
romance fulgurante. O protagonista, Mwána, um jovem africano que vive em
Genebra, narra sua odisseia à procura de um emprego, ao passo que vive dividido
entre a cultura bantu de origem e o amor por Rüedi, o companheiro ruivo
suíço-alemão. Ambos partilham um cotidiano marcado por dificuldades econômicas
e pelo fantasma da fome, porém, sempre atravessado por um espírito vivo e
confiante. Nessa narrativa, em que as línguas e os mundos se sobrepõem
constantemente, o leitor é levado ao encontro de personagens carismáticas como
a Senhora Bauer, uma militante progressista que trabalha numa ONG em defesa dos
direitos dos estrangeiros; a irmã Kosambela, extremadamente católica e, ainda,
a mãe Monga Míngá, internada numa clínica suíça para se tratar de uma doença de
brancos, e que cobra de Zambi uma explicação sobre essa travessia. A riqueza da
oralidade da cultura bantu é protagonista também desse romance que é um
verdadeiro canto à vida, desenhando a personalidade instigante do protagonista,
Mwána, um entre os muitos habitantes que tentam sobreviver com dignidade e
certo humor numa Helvécia atravessada por ventos de intolerância e xenofobia.
Com tradução de Lucas Neves, o livro é publicado pela Âyiné.
Uma história sobre a natureza
da percepção e a maneira como um coração apaixonado pode se provar tão
misterioso quanto as estrelas.
Em 1666, um astrônomo lança uma
previsão que ninguém no mundo fez. Há rumores de que ele estaria utilizando o
maior telescópio já construído e de que seria cego. Herdeiro de Franz Kafka e
Thomas Bernhard, o autor cria um romance histórico que é ao mesmo tempo uma
fábula cômica e uma nova visão do passado. A tradução de Os órgãos dos
sentidos, de Roberto Taddei, é publicada pela editora Todavia.
Uma visita à vida e obra de Paulo
Leminski.
Publicada em 2018 pela Biblioteca
Pública do Paraná, a coleção Roteiro Literário trazia, a cada título, um ensaio
sobre um escritor paranaense já falecido. Contemplados os nomes de Jamil Snege
e de Helena Kolody foi a vez de Roteiro Literário — Paulo Leminski, de
autoria do escritor e jornalista Rodrigo Garcia Lopes. O livro, que foi um dos
três vencedores do Prêmio da Biblioteca Nacional em 2019 na categoria Ensaio
Literário, estava esgotado há dois anos. Agora ela sai pela Kotter com um novo
título, Foi tudo muito súbito: um ensaio sobre Paulo Leminski, em edição
revisada e ampliada. Neste livro temos não só a apresentação da vida meteórica
do curitibano Paulo Leminski, mas a oportunidade de um mergulho na vigorosa
obra do criador múltiplo que, há algumas décadas, é referência maior para
escritores, artistas e leitores brasileiros. O ensaio se divide em três partes.
A primeira, “Um clássico contemporâneo”, nos conta como Leminski viveu e
reproduziu a agoridade absoluta do mundo atual, como seus textos pensantes
amalgamaram influências até atingir uma essência própria na tradição dos inventores
da linguagem. Também as estações da vida-obra do poeta aparecem num registro
desde a primavera da infância, o verão na onda da Tropicália, o outono, momento
da “desova”, até o inverno, do Leminski “parnasiano chique”, já fragilizado
pela doença que o levaria em 1989. “Habitante da linguagem”, a segunda parte,
traz uma análise da poética leminskiana, marcada pelo rigor & delírio da
escrita. E a última, “Besta dos Pinheirais”, investiga como Leminski, num
embate de forças como a “mística imigrante do trabalho” e a “autofagia
araucariense”, absorveu a cidade de Curitiba em sua obra, e como Curitiba foi
absorvendo a obra do seu poeta maior. Complementa a publicação a “Geografia
Literária” que, com fotos e breves textos, nos leva a seguir as pegadas de
Leminski por Curitiba, da maternidade em que nasceu, às casas em que morou, até
os principais lugares que costumava frequentar. Por fim, a entrevista que
Leminski concedeu a Rodrigo em 1983, quando o conheceu. Ao nos aproximar de
alguém que, num grau máximo, defendeu a ligação da poesia e da vida, Foi
tudo muito súbito: um ensaio sobre Paulo Leminski nos oferece uma profunda
experiência de leitura e reflexão. Ao final do ensaio, o autor, Rodrigo Garcia
Lopes, nos lembrará que nunca mais vai haver outro Paulo Leminski. Outro não.
Mas o nosso polaco loco paca, único e pulsante como seu texto, ora é reavivado,
belamente, e nos chega às mãos.
O retorno de Chacal à poesia.
Lúbrico e lírico, Brotou
capivara é a volta do poeta Chacal às artimanhas do verso. Enquanto flana
por alamedas do Jardim Botânico, escuta a fala dos bichos, vira semente, vira
flor. Este longo poema é acompanhado por desenhos de Laura Erber, irrupção de
formas em estado de broto. A poesia de Chacal é a prova dos nove oswaldiana,
não desiste de ser alegre e marota, antidoto contra os estragos do tempo
presente. O livro é publicado pela Zazie Edições.
Uma novela construída como
aporia: a interrupção de formação se torna deformação.
Através de fragmentos de memórias,
acompanhamos a história de um jovem órfão, nos anos da última ditadura
brasileira. Protegido por um amigo de seu pai, Floriano, este lhe dá um novo
nome, Balta, e passa a viver os anos de exceção em anonimato, mas sendo
constantemente engolido pela História. O livro remete de forma indireta a
vários eventos da ditadura, como o assassinato do empresário Henning Albert
Boilesen apoiador da ditadura e que gostava de presenciar as torturas; a morte
de Maria Auxiliadora Barcelos, a Dôdora; a guerrilha do Araguaia e seu líder Osvaldão
e seu assassinato, expondo seu corpo dependurado em um helicóptero na região da
guerrilha; a paranoia das universidades brasileiras durante o período, entre
outros. A fragmentação do texto também reflete sobre o próprio processo da
memória do período ditatorial brasileiro, como aponta Flora Süssekind, em que o
trauma impede uma visão completa, apesar das feridas abertas. O próprio objeto
livro constrói o jogo entre transparência e opacidade presente nas próprias
memórias do narrador. O projeto conta com fotos de
Patrick Arley. Balta. Fragmentos de deformação é publicado pela
Relicário Edições.
DICAS DE LEITURA
Anualmente por essa época
dedicamos algumas postagens em nossa conta no Instagram com dicas de presentes
(livros, é claro) para o final de ano. Agora, em 2021, desistimos da ideia, por
alguns motivos: a situação dos brasileiros para presente é mínima, as dificuldades
financeiras são altas num país dominado por tempo sem-saídas; as edições deste
Boletim divulgam, sábado a sábado, pelo menos três títulos, ou seja, só neste
ano recomendamos algo em torno de 140 títulos; além disso, com frequência o nosso
próprio Instagram divulga livros como incentivo aos leitores. Todas essas
atividades, veja, podem servir de alternativa a quem, porventura, se sentir
perdido sobre a escolha de um livro para presente. Bom, agora, eis mais três:
1. O escrivão Coimbra e outros
contos, de Machado de Assis. Há várias opções nas livrarias de acesso a
livros com a contística de um dos nossos mais célebres escritores — incluindo as
edições que reúnem os cerca de duzentos textos nesta forma narrativa que
dominava tão bem, embora falte dos editores um trabalho sistemático e várias
antologias. Dessas, há exemplos sérios, como as antologias organizadas por John
Gledson para a Companhia das Letras e esta que agora publica a editora Carambaia.
A coletânea preparada por Luiz Ruffato é menos generosa em quantidade — são
apenas dezessete textos —, mas valiosa em qualidade; pode-se dizer, a parte do suprassumo
dos contos machadianos estão aqui. Das peças célebres, a ausência marcante é
mesmo O alienista, o melhor do escritor. Para leitores que em fase de entrada
na obra do Bruxo do Cosme Velho é uma boa pedida.
2. Cabeça de obsidiana: Malraux
diante de Picasso, de André Malraux. Após a morte de Pablo Picasso, André
Malraux visita a segunda companheira, com quem vivia o pintor então, Jacqueline
Roque com o intuito de ajudá-la a selecionar os trabalhos que deveriam ser doados
ao estado francês. O texto apresentado pela primeira vez ao leitor brasileiro é
resultado do trabalho de uma vida do professor, crítico (e tradutor do livro) Edson
Rosa da Silva. Nele acompanhamos um Malraux que passa em revista a produção
artística de Picasso e estabelece, assim, um diálogo memorável com o pensamento
do pintor e sua própria concepção estética. O livro foi publicado pela Editora
da UFRJ.
3. Caixa Adélia Prado. Para
celebrar o trabalho de uma das destacadas poetas da literatura brasileira, a
Editora Record preparou uma caixa contendo quatro dos principais livros da mineira:
Bagagem, seu primeiro título, publicado em 1976; O coração disparado,
com o qual Adélia Prado alcança importante reconhecimento ao receber o Prêmio
Jabuti de 1978; A faca no peito (1988) e Oráculos de maio (2007).
As novas edições são acompanhadas por um encarte reunindo imagens e um texto de
apresentação preparado por Elisa Lucinda. O projeto editorial está belíssimo.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. No dia 19 de dezembro de 1916, nasceu
Manoel de Barros. O poeta brasileiro foi homenageado na edição n. 11 da Revista
7faces, com textos de Mia Couto, Valter Hugo Mãe, Ondjaki, entre outros. Este número pode ser acessado livremente aqui.
2. Ainda Manoel de Barros. Um mergulho
original na biografia do poeta é o documentário Só dez por cento é mentira
(de Pedro Cezar). É possível ver aqui.
3. Em 2021, passaram-se 150 anos das
Conferências do Casino Lisbonense. Um evento discutiu em dois dias algumas dos resultados
e meandros daquela atividade fomentada por intelectuais portugueses que logo
foi censurada pelo Estado e se consolidou como um dos primeiros gritos pela
modernidade nas artes e na sociedade de Portugal. Você pode ver as duas primeiras conferências aqui — com Carlos Reis e Silvio Cesar Alves; e as outras duas aqui — com Cinda Gonda e Sérgio Nazar David.
4. O Instituto Moreira Salles (IMS) tem sediado desde meados de 2021 uma série de diálogos sobre os modernismos no Brasil. “1922: Modernismo em Debate” é o título do projeto que já reuniu mais de vinte conferencistas. Tudo disponível online no canal do IMS no YouTube.
BAÚ DE LETRAS
1. “A obra literária de Simone de
Beauvoir se inscreve em dois gêneros — as memórias e o romance — que na nossa
opinião são inseparáveis uma vez que são obras que se completam e mesmo
constituem um só universo se não linguístico, ideológico ... e humano.”
Recordamos um ensaio traduzido aqui em 2019 sobre a obra literária de Beauvoir,
uma valia para os leitores que agora redescobrem essa outra faceta igualmente
interessante da obra da escritora francesa.
2. No passado dia 17 de dezembro foi
dia do aniversário de Erico Verissimo, um dos nossos mais importantes escritores.
Recordamos dele uma entrevista com a amiga Clarice Lispector, que copiamos neste blog em 2008.
CLIQUE AQUI E SAIBA COMO COLABORAR COM A MANUTENÇÃO DESTE ESPAÇO
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
Comentários