Boletim Letras 360º #457
DO EDITOR
1. Caro leitor, divulgamos quais
os três títulos da Pontoedita estão disponíveis para o sorteio no segundo
bimestre do nosso clube de apoios: Ida Um romance, de Gertrude Stein; Faça-se
você mesmo, de Enzo Maqueira (anunciado por aqui na edição anterior deste
Boletim); e Desvio, de Juan Francisco Moretti.
2. Você pode se inscrever para
sorteio que acontece em janeiro aqui. E caso busque algo mais sobre esses
títulos pode consultar o site da editora ou visitar uma das publicações nas
nossas redes sobre o clube: aqui, no Facebook, ou no Instagram.
3. Obrigado pela leitura e pelo
apoio ao nosso trabalho!
James Joyce visto por Robert Motherwell para uma edição de Ulysses de 1988. Para marcar o centenário do romance, a Companhia das Letras publica nova edição do clássico com as ilustrações de Motherwell. |
LANÇAMENTOS
E, por falar na editora
Pontoedita, a casa disponibilizou a pré-venda do sexto livro no seu catálogo: edição
bilíngue de Marina Tsvetáeva com intervenção do cantor e performer Yantó e que
cobre todas as fases da poeta russa, uma das principais do século XX.
Aos meus versos, escritos tão
cedo… chegará a sua hora é uma antologia organizada por Verônica Filíppovna, doutora em
Teoria Literária e pesquisadora de literatura russa na UFRJ que assina também a
tradução e a apresentação desta antologia. A antologista lança mão do rigor
acadêmico para expor o público brasileiro a toda a potência criadora da poesia
de Tsvetáeva (uma potência que conquistou a admiração de nomes como Caetano
Veloso e Décio Pignatari, além do privilégio de ser traduzida pelos irmãos
Campos, uma distinção reservada a poucos). O livro reúne mais de seis dezenas
de poemas. Entre esses poemas estão tanto aqueles escritos na Rússia quanto os
produzidos durante os anos em que Marina Tsvetáeva viveu em Berlim, Praga e
Paris e depois de seu retorno à União Soviética. Sua obra poética, elaborada a
partir de reminiscências, frustrações e do cotidiano pessoal e familiar,
transita entre a memória, o sonho e certa espiritualidade e, sendo tão
multifacetada quanto ela própria, testemunha o percurso de uma poeta que, desde
a infância até o suicídio, viveu intensamente cada circunstância e atribuiu
sentido à sua vida através da escrita. O projeto editorial autoral propõe ao
leitor uma forma de explorar o tempo da poesia, desde a escolha do cantor e
performer brasileiro São Yantó para a intervenção poética de abertura até
escolha de um poema como título: “Aos meus versos, escritos tão cedo, quando eu
nem sabia, eu — poeta, a jorrar, como pingos da fonte, como faíscas de um
foguete, a pular, como pequenos demônios, no santuário, onde há sono e incenso,
aos meus versos de juventude e de morte — versos nunca lidos! — espalhados por
estantes empoeiradas, onde ninguém os pegou e nem os pegará, chegará a sua
hora”. A homenagem ao álbum When the pawn…, da cantora Fiona Apple,
sugere que, dali em diante, o leitor entrará num universo em que a
temporalidade é de outra natureza. O título, evidentemente, também sugere uma
crítica à cultura dos 15 segundos e, ao estender substancialmente o tempo do
leitor com o livro em mãos, convida-o a explorar o tempo das pausas próprias da
linguagem poética. Trata-se, portanto, de um livro para se ler devagar, no
tempo da poesia. O projeto gráfico da
edição da PontoEdita tira proveito de um conjunto de decisões que amplificam a
potência sensorial da poesia de Tsvetáeva. As texturas dos papéis da capa feita
pelo artista visual Pedro Monfort e do miolo e até mesmo do fitilho marcador,
de gorgurão azul, convidam o leitor a pensar o próprio livro como objeto
poético. A experiência tátil ganha outras camadas com a arte da capa,
especialmente nos tons de cor, texturas e paisagens: criada pelo artista visual
Pedro Monfort, a fotografia é uma escultura do tempo e remete aos instantâneos
do diretor de cinema soviético Andrei Tarkóvski. A escolha da Soyuz Grotesk
para a composição do título traduz a ambivalência da poesia inconforme de
Tsvetáeva, que não se encaixava em nenhum grupo ou movimento de sua época.
Criada em 2017 pelo tipógrafo russo Roman Gornitsky para a The Temporary State,
a Soyuz é uma releitura de uma adaptação da Helvetica para o alfabeto cirílico
feita na década de 1960. O miolo é composto em PT Serif Pro, fonte universal
criada pela tipógrafa russa Alexandra Korolkova e lançada pela ParaType em
2011. O sexto livro da PontoEdita conta ainda texto inédito de Ariadna Efron,
filha de Tsvetáeva, sobre o processo criativo da mãe.
O grande romance do século XX
ganha edição especial com ampla fortuna crítica, gravuras de Robert Motherwell
e tradução revisada de Caetano W. Galindo.
Leopold Bloom sai de casa pela
manhã, cumpre com as tarefas do dia e, pela noite, retorna ao lar. Tal como o
Ulisses homérico, Bloom precisa superar numerosos obstáculos e tentações até
retornar ao apartamento onde sua esposa, Molly, o espera. Para criar esse
personagem rico e vibrante, Joyce misturou numerosos estilos e referências
culturais, num caleidoscópio de vozes que tem desafiado gerações de leitores e
estudiosos ao redor do mundo. A tradução de Caetano W. Galindo ganha agora,
após dez anos de sua publicação, uma cuidadosa revisão que faz com que a já
saborosa prosa ganhe ainda mais brilho. Esta edição conta ainda com gravuras de
Robert Motherwell — feitas para uma edição especial e limitada de 1988 — e
amplo aparato crítico com textos inéditos de Dirce Waltrick do Amarante, Fábio
Akcelrud Durão, Fritz Senn, John McCourt, Sandra Guardini Vasconcelos e Vitor
Alevato do Amaral; além das resenhas escritas à época do lançamento por Louis
Gillet e Joseph Collins. O livro é publicado pela Companhia das Letras.
Novo livro de Cristhiano Aguiar.
Em nove contos, o escritor
mergulha nos elementos góticos e folclóricos — buscando referências nas séries
televisivas, no cinema e nos quadrinhos — para criar narrativas vibrantes e
inesperadas, que fogem da prosa literária tradicional. As histórias vão desde
os tempos do cangaço, passando pela ditadura militar e chegando até os ecos
sombrios de um futuro próximo. Um menino é obrigado a cruzar o descampado perto
do vilarejo de Riachão da Frente para levar uma carta que a mãe escreveu a Zé
Barbatão, o cangaceiro local. Na madrugada, as sombras no caminho e a ameaça do
bando crescem conforme a narrativa avança, e a realidade parece a ponto de se
romper. “Anda-luz”, história que abre este volume, prenuncia o que virá nos
oito contos seguintes. Em Gótico nordestino, Christiano Aguiar caminha
entre o sonho e a vigília, dialoga com outros gêneros e compõe um livro
totalmente distinto do usual. O livro é publicado pela Alfaguara.
A coleção de clássicos da Editora
da Unesp ganha dois novos títulos.
1. O agente secreto, de
Joseph Conrad. Lançado em 1907, este livro surpreendeu os críticos por diferir
do universo habitual do escritor. Como o título anuncia, temos uma história de
espionagem ambientada no cenário urbano de Londres do início do século XX. Uma
narrativa ágil, envolvente, com reviravoltas dramáticas e uma dose moderada de
humor, sob a qual se identifica a pena virtuosa de um dos grandes mestres do
romance inglês moderno. A tradução é de Fernando Santos.
2. Contos da Era do Jazz,
de F. Scott Fitzgerald. Estados Unidos, após a Grande Guerra. Em cidades como
Nova York, as festas não tinham hora para acabar. Esse momento de
transformações amplas, com aquecimento da economia e efervescência cultural
incomum, é o pano de fundo para estes contos publicados em 1922, que chegam ao
leitor brasileiro em nova tradução de Bruno Gambarotto.
Um novo projeto editorial para
uma tradução que agora retorna revista de um dos romances mais importantes da
literatura de língua inglesa.
Foi nos anos noventa que Leonardo
Fróes traduziu Middlemarch, de George Eliot e recebeu o prêmio Paulo
Rónai de Melhor Tradução. Quase três décadas depois esse trabalho,
integralmente revisto voltará aos leitores numa edição caprichosa da editora
Pinard. O romance é Eliot é descrito como um verdadeiro tratado sobre o
relacionamento moderno ocidental e revela como a constituição do casamento
pode, sim, acarretar no sacrifício de grandes sonhos individuais. Situado numa
cidade fictícia que serve de título à obra, o romance se debruça sobre uma
série de personagens integralmente mergulhados nos rumos das convenções sociais
imediatamente anterior à ascensão da Rainha Vitória ao trono — monarca
responsável por levar a Inglaterra ao seu auge econômico e cultural.
Considerado pela escritora Virginia Woolf “um dos poucos romances ingleses
escritos para adultos”, o livro aborda temas bastante atuais: status das
mulheres perante à sociedade, ascensão da classe média e crítica à moralidade,
à religião e ao casamento. Irônica e carregada de suspense, o romance serve
perfeitamente aos leitores que buscam uma história capaz de entreter e provocar
reflexões. A nova edição colocada para financiamento no Catarse reúne
ainda dois textos de apoio: a apresentação do romance, feita pelo tradutor no
momento da primeira publicação; o outro, inédito, assinado por Marcela Santos
Brigida, doutoranda em literatura inglesa pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ) e especialista em romances da Era vitoriana.
O sexto romance de Michael
Cunningham.
Neste livro o escritor volta ao
mundo da arte e penetra na alma de um homem de meia-idade que aparentemente
cumpriu todas as exigências da vida. Suas certezas, no entanto, desmoronam de
um momento para o outro. O quarentão Peter Harris é dono de uma galeria de arte
bem-sucedida, embora não do primeiro time. Seu casamento é estável e sua vida
social está bem encaminhada. Mas a visita do cunhado detona uma crise que
coloca Peter diante de grandes dilemas. Ethan, 23 anos mais jovem do que a irmã
do galerista, é Mizzy: “The Mistake”, o engano. Usuário de drogas, ele flana
pelo mundo sem se fixar em nada, irresponsável aos olhos da família e portador
de uma beleza perturbadora. A presença magnética do jovem lança Peter em uma cadeia
de questionamentos: sobre seu negócio; sobre o entusiasmo perdido pela mulher;
sobre a relação fria que mantém com a própria filha; sobre os artistas que
representa. De um lado, o marchand se divide entre o fascínio de um jovem que
se recusa a encontrar um lugar no mundo e a força que esse mundo exerce sobre
ele. Do outro, Peter se divide entre a consciência do caráter extraordinário da
arte e a convivência com as regras do mercado. De ambos, ele espera um
arrebatamento que só pode vir de maneira inesperada. A tradução José Rubens
Siqueira, Ao anoitecer, é publicada pela Companhia das Letras.
Um relato pessoal, singular e
ao mesmo tempo emblemático dos percursos da imigração judaica.
Em busca de meus irmãos na
América é um relato pessoal, singular e ao mesmo tempo emblemático dos
percursos da imigração judaica, construído a partir de um longo trajeto em
função do aspirado deslocamento do autor para os Estados Unidos. Através das
aventuras de Novodvorsky, que foi primeiro à Argentina, depois ao Uruguai e,
finalmente, ao Brasil, é apresentado um retrato dos caminhos que percorriam os
imigrantes entre os anos 1920 e 1960. Suas memórias também revelam fatores
estruturais que caracterizaram o estabelecimento dos judeus no Brasil, como as
barreiras impostas à imigração em países como Estados Unidos e Canadá durante a
década de 1920, que fizeram do país um horizonte possível e desejável.
Organizado por Lilian Starobinas, o livro tem tradução de Léa Baran e posfácio
Roney Cytrynowicz. Publicação da Editora Hedra.
Marco inegável da literatura
brasileira, Parque industrial é uma reflexão sobre classe,
gênero, poder e desejo.
Nascido em tom de esperança, Parque
industrial foi escrito em 1932, quando Pagu tinha 22 anos, e publicado no
ano seguinte sob o pseudônimo Mara Lobo. Em sua Autobiografia precoce, ela
escreve sobre o romance: “Pensei em escrever um livro revolucionário. [...]
Ninguém havia ainda feito literatura desse gênero. Faria uma novela de
propaganda que publicaria com pseudônimo, esperando que as coisas melhorassem.
Não tinha nenhuma confiança nos meus dotes literários, mas como minha intenção
não era nenhuma glória nesse sentido, comecei a trabalhar”. Abordando as
consequências da industrialização brasileira do século XX, Parque industrial se
consagrou tanto como retrato de época quanto como um manifesto em favor de seus
personagens. Com habilidade sutil, Pagu denuncia as precárias condições
enfrentadas pelas trabalhadoras da indústria têxtil paulistana, alinhando a
isso as frustrações, traumas e vivências pessoais da mulher proletária. Ao
mesmo tempo universal e particular, este livro é passagem obrigatória não só
para os leitores de Pagu, mas a quem se interessa pelo panorama social do
período. O livro é publicado pela Companhia das Letras.
Novo livro de Danichi Hausen
Mizoguchi.
João e Dante são dois amigos
recém-saídos da universidade no despertar dos anos 2000, idealistas e cheios de
planos. Enquanto Dante acredita que pode fazer sua parte através de uma empresa
inovadora, João tenta entender o mundo a partir da vivência nas ruas. De um
lado, a ideia de que uma mudança real possa acontecer de dentro do sistema; do
outro, o estado de constante vigilância e o medo de quem decidiu se juntar ao
elo mais frágil da sociedade. Entre ideais compartilhados e ações opostas, os
dois tentam manter a amizade e os sonhos enquanto lidam com a falência das suas
escolhas. Para Paulo Scott, este um livro que “ficará entre o que de mais
significativo foi produzido no campo literário no Brasil neste século”. Cinco
ou seis dias é publicado pela editora Dublinense.
As memórias de Simone Veil
revelam histórias de família e da vida nos campos de concentração.
Este livro é resultado de
conversas e entrevistas captadas pelo cineasta David Teboul, que dirigiu um
documentário sobre Simone Veil e se tornou amigo próximo desta que dedicou
parte de sua vida à memória do Holocausto e à causa dos direitos das mulheres.
Pela maneira como o livro é construído, uma união de imagens pessoais de toda a
trajetória de Veil a uma narrativa em primeira pessoa, o leitor tem acesso a um
relato memorialístico que consagra sua autora como observador privilegiado de
sua época, na medida em que participou de eventos que marcaram a história
ocidental e transformaram profundamente os fundamentos do que entendemos hoje
como sociedade. Para além da visão privilegiada de grandes eventos que seu
relato de vida traz, as memórias de Simone Veil revelam histórias de família e
da vida nos campos que ajudam a humanizar essa grande personalidade que se
tornou um ídolo e uma referência para o feminismo antes mesmo de sua morte, aos
89 anos. Publicado pela Martins Fontes, O alvorecer em Birkenau tem
tradução de Rosemary Costhek Abílio.
Os cadernos inéditos de um dos
protagonistas do modernismo.
“Resiste/ Coração de Bronze!”,
anota Oswald de Andrade em diferentes momentos nas páginas de seus diários. Os
cadernos deixados pelo autor de Serafim Ponte Grande incluem uma seção
intitulada Diário confessional, que teve início em 1948 e fim em 1954,
meses antes de sua morte. Esse material — que permaneceu inédito por cerca de
setenta anos — finalmente vem à luz com a publicação do presente volume. Nesses
registros, somos apresentados a uma figura bem distinta do personagem
irreverente que se consagrou em nosso imaginário. Aqui está a mente
extraordinária e inquieta, cáustica e ao mesmo tempo amorosa do escritor — mas
também passamos a conhecer um homem em crise, profundamente atormentado por incertezas.
Documento singular para compreender a cena artística, literária, política e
histórica brasileira do período, bem como as transformações que desenharam a
cidade de São Paulo na metade do século XX, Diário confessional é o
retrato de uma época e de um dos mais notáveis intérpretes da nossa cultura. Organizado
por Manuel da Costa Pinto, o livro é publicado pela Companhia das Letras.
REEDIÇÕES
Edição limitada reúne toda a
obra de Clarice Lispector.
Clarice recusou todos os rótulos e
o enquadramento em escolas ou sistemas literários. Buscou sempre a
universalidade, a prospecção do próprio interior, produzindo uma literatura de
excelência incontestável e estilo inimitável, estabelecendo-se como uma das
maiores escritoras de língua portuguesa de todos os tempos. Em 2020 aconteceram
as comemorações dos seus 100 anos de nascimento e a Editora Rocco relançou toda
a sua obra com novo projeto gráfico, posfácios e capas que trazem recortes de
pinturas da própria autora. Finalizado o projeto, a casa reúne todo material
numa caixa. São dezoito títulos; dos nove romances — Perto do coração
selvagem, O lustre, A cidade sitiada, A
maçã no escuro, A paixão segundo G. H., Uma
aprendizagem ou o livro dos prazeres, Água viva, A hora
da estrela e Um sopro de vida —, passando pelos seis livros
de contos — Laços de família, A legião estrangeira, Felicidade clandestina, A via crucis do corpo, Onde
estivestes de noite e A bela e a fera — e alcançando os três
livros de crônicas — Para não esquecer, A descoberta do
mundo e Outros escritos.
Um dos marcos do modernismo,
Serafim Ponte Grande mistura ironia, rebeldia e experimentação
formal em um livro que desafia as classificações de gênero.
Ao longo de 203 fragmentos, Oswald
de Andrade toma como inspiração os procedimentos da colagem para criar uma obra
radical, situada entre a ficção, as anotações, as memórias, a sátira e a
poesia. Definido por Haroldo de Campos como “romance-invenção”, o livro,
publicado originalmente em 1933, foi recebido como escandaloso e se estabeleceu
como um acontecimento singular na nossa literatura. A transformação industrial
de São Paulo serve como pano de fundo para um retrato implacável das aspirações
burguesas. Em meio ao moralismo, ao tédio e à infelicidade do casamento, os
personagens de Serafim Ponte Grande não conseguem conter suas ambições
comezinhas, sua obsessão pelo dinheiro e seus impulsos sexuais. A presente
edição inclui textos de Haroldo de Campos, Saul Borges Carneiro e Múcio Leão,
além do posfácio inédito de Paulo Roberto Pires. Seja pela inventividade
formal, seja pelo conteúdo explosivo, a ousadia de Serafim Ponte Grande
permanece atual como nunca. A nova edição de Serafim Ponte
Grande é publicada pela Companhia das Letras.
PREMIAÇÕES LITERÁRIAS
O escritor timorense Luís
Cardoso é o vencedor do Prêmio Oceanos 2021.
O escritor é premiado com o
romance O plantador de abóboras, livro inédito no Brasil e publicado em
Portugal pela editora abysmo. É a primeira vez que um livro do continente
asiático figura entre finalistas e vencedores. Entre os finalistas estavam
autores como Cristovão Tezza, Mia Couto e de Gonçalo M. Tavares. Cardoso nasceu
em 1958 em Cailaco, Timor Leste, e estreia na literatura em 1997 com Crónica
de uma travessia. Tal como se lê na sinopse sobre O plantador de
abóboras, Luís Cardoso parece provar com esse romance “que as vozes
entrecruzadas das narrativas são assim canivete suíço, oferecendo ao instante a
ferramenta exata para abrir o que se esconde em quadro, em nome de personagem,
em uma figura ou momento histórico”.
RARIDADES
Uma primeira edição de Os
sertões, de Euclides da Cunha, quebrou o recorde brasileiro de venda de livros
raros.
Foi R$ 143 mil o valor pago pelo
livro num leilão realizado no Rio de Janeiro no sábado, 4 de dezembro de 2021,
na Livraria Letra Viva. Euclides da Cunha publicou a primeira edição de Os
sertões por conta própria pela editora Laemmert & Ci.ª em 1902, depois
de organizar um vasto material colhido como jornalista correspondente do Estadão na cobertura dos conflitos de Canudos, no interior da Bahia. A
tiragem desta primeira edição, foi de mil exemplares e sofreu cerca de oito
dezenas de pequenas correções de punho do escritor. O livro registra todo
horror dos episódios testemunhados por Euclides no sertão de Antônio
Conselheiro e compreende a luta desde sua raiz natural à parte do embate de
forças entre poderes e ideologias.
DICAS DE LEITURA
Neste dia 10 de dezembro de 2021 celebramos
o 101.º ano do nascimento de Clarice Lispector. Ainda marcado pelo ano do
centenário que coincidiu com o agravamento da pandemia de Covid-19 forçando o
cancelamento de alguns dos projetos previstos para então, o leitor encontrará
pelo menos três importantes publicações de pesquisadores brasileiros e
estrangeiros sobre a obra da escritora. A editora Oficina Raquel publica um
livro sobre as cartas de Clarice, resultado de um curso realizado na
Universidade Federal Fluminense e organizado por Monica Gomes da Silva e
Matildes Demetrio dos Santos — Clarice Lispector. Uma vida na literatura;
a Fósforo edita os anais do Colóquio Internacional Cem Anos de Clarice Lispector,
um dos eventos preservados no ano do centenário mas no formato virtual — Um
século de Clarice Lispector é organizado por Yudtih Rosenbaum e Cleusa Rios
P. Passos; e as editoras Bazar do Tempo e PUC-Rio, um livro organizado por
Júlio Diniz reunindo o material que seria de outro grande evento sobre a obra
da escritora — Quanto ao futuro, Clarice. Nessas dicas, acrescentamos,
porém, outros trabalhos, alguns citados na post que fizemos no nosso Instagram na
sexta-feira. Recomendamos:
1. Clarice. Uma vida que se conta, de
Nádia Battella Gotlib. Publicado inicialmente pela editora Ática em meados dos
anos noventa, a leitura crítico-biográfica sobre a obra da autora de A
paixão segundo G. H. é um dos trabalhos fundadores e indispensáveis. Quem se
interessa por biografia e valoriza trabalhos bem fundamentados e não imaginações
copiadas, este é o livro. O minucioso percurso desenvolvido pela pesquisadora resultaria
ainda na belíssima Clarice. Fotobiografia. Essas duas publicações estão disponíveis
pela Edusp.
2. À procura da própria
coisa, de Teresa Montero. Publicada recentemente pela editora Rocco, o
leitor aqui iniciado pode completar seu curso pela biografia sobre Clarice
Lispector com a leitura de outra autêntica biografia, produto de mais de três décadas
de estudos. A primeira versão desse trabalho sai no final dos anos noventa do
século passado com o título de Eu sou uma pergunta. Mas aqui, a pesquisadora
apresenta outro trabalho, pode-se dizer; esclarece inclusive alguns episódios
ainda obscuros na biografia de Clarice e recupera vários materiais de natureza
documental e iconográfica inéditos.
3. Constelação Clarice,
organizado por Eucanaã Ferraz e Veronica Stigger. Os autores que trabalharam na
exposição artística sob o mesmo título patente no Instituto Moreira Salles
(IMS) em São Paulo, compuseram um catálogo que refaz a experiência do evento e
acrescenta ainda textos de importantes estudiosos da obra de Clarice. Isto é,
trata-se de um livro que é ao mesmo tempo uma visita inusitada e criativa ao
universo clariciano. Está publicado pelo IMS.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. A Academia Brasileira de Letras
apresenta os primeiros verbetes do Dicionário da Língua Portuguesa (DLP),
disponível exclusivamente em versão on-line no site da Instituição. Todo mês, a
partir de 7 de dezembro, o site ganhará uma nova seleção de verbetes, ampliando
a abrangência lexical da obra. O objetivo é oferecer um dicionário sincrônico,
funcional e democrático, feito com os falantes do idioma e para eles. Estima-se
o registro de 200 mil entradas e subentradas. O projeto é do Acadêmico Evanildo
Bechara, presidente da Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ABL.
2. Para marcar o centenário de Ulysses,
o célebre romance de James Joyce, duas iniciativas no mercado editorial
brasileiro chamam atenção a apareceram neste Boletim — uma delas há pouco, na
reedição revista da tradução de Caetano Galindo. Acontece que nesta semana, André
Conti descasca tim-tim por tim-tim a farsa do guia de leitura preparado para a reedição
da prestigiada e reconhecida tradução de Antonio Houaiss pela Nova Fronteira. O
texto pode ser lido (e vale) aqui.
3. O Instituto Moreira Salles disponibilizou no seu canal no YouTube um depoimento de Ana Maria Machado sobre o encontro com Clarice Lispector em 1975. O material pode ser lido como uma extensão de um texto da escritora feito no calor dos acontecimentos vividos por ela e publicado pela escritor na revista Serrote, em 2020.
BAÚ DE LETRAS
1. Outra valiosa escritora faz
aniversário no mesmo dia de Clarice Lispector. Emily Dickinson nasceu a 10 de
dezembro de 1830 em Amherst e pouco saiu de seu lugarejo mas revolucionou
a poesia de língua inglesa. Recordamos,
dentre as publicações apresentadas no blog, três textos: “Emily Dickinson por Ana Cristina Cesar” — a poeta brasileira foi uma das pioneiras no trabalho de
reconhecimento da obra da estadunidense entre nós; “Emily Dickinson, uma vida que se prolonga”; e sobre “Os poemas em envelope de Emily Dickinson”.
2. Pequeno dossiê. No próximo dia
12 de dezembro, passa-se o bicentenário de Gustave Flaubert, autor de pelo
menos três livros indispensáveis nas nossas listas de leituras: Madame Bovary,
A educação sentimental e Salammbô. São várias entradas neste blog
sobre o escritor francês e sua obra e destacamos na sequência:
a) Madame Bovary, o mais
famoso de Gustave Flaubert, foi comentado algumas vezes neste blog. A primeira
delas, em 2013, registrado neste texto de Pedro Fernandes; depois, na tradução
do ensaio “Madame Bovary: erotismo e sensualidade”, de Nesfran Antonio González
Suárez.
b) Qual grande escritor não dispõe de
rivais? Neste texto traduzido em setembro de 2019, Rafael Pérez Gay examina um
dos primeiros na lista de Flaubert.
d) Aqui, uma acertada leitura sobre
como Gustave Flaubert engendra um novo tipo de romance e de narrador, aos olhos
de Mario Vargas Llosa, modernos.
e) Em meados de 2021, buscamos o
texto que explica sobre as origens de Memórias de Adriano, de Marguerite
Yourcenar, justamente uma carta de Gustave Flaubert. O ensaio é de Manuel
Llorente.
f) Na mesma ocasião, fomos às
relações entre Flaubert e a história. Neste texto de Christopher Domínguez aqui
traduzido, lemos das aproximações do escritor com a Comuna de Paris.
g) Recentemente, traduzimos “Flaubert, a ciência certa”, um texto de José Manuel Sánchez a respeito da presença da
ciência na obra do escritor francês, escrita conforme sabemos, nos anos de ouro
de consolidação do pensamento científico.
h) Aqui, uma lista com cinco obras
fundamentais ao leitor de Gustave Flaubert, isto é, as três enunciadas no
início desta seção e outras duas.
i) Doze dias após a morte de Gustave Flaubert,
M. Lemoel realiza um inventário catalogando o que se encontrava nos aposentos de três cômodos do escritor.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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