Boletim Letras 360º #456

 
 
DO EDITOR
 
1. Caro leitor, falta pouco e divulgamos quais os três títulos da Pontoedita disponíveis para o sorteio no segundo bimestre do nosso clube de apoios. Aliás, dois deles, porque um aparece recomendado neste Boletim. Leia e já saberá.
 
2. Para 2022, nosso ano de debutante, pensamos uma série de coisinhas para os leitores fora do clube e que são especiais para nós tanto quanto. Falamos de alguns sorteios avulsos. Acompanhe o blog em todos os recantos da web. Enquanto isso, você pode se inscrever nas promoções aqui realizadas. Saiba como aqui
 
3. Obrigado por sua companhia e pela disseminação do nosso trabalho. A seguir parte das notícias que circularam em nossa página no Facebook e outras mostradas primeiramente por aqui.

Cecília Meireles. Publica-se livro com inéditos da poeta.


 
LANÇAMENTOS
 
Um catálogo a altura da exposição dedicada a Clarice Lispector.
 
O Instituto Moreira Salles publica Constelação Clarice. Organizado pelos curadores da exposição de mesmo título, Eucanaã Ferraz e Veronica Stigger, o livro apresenta um diálogo entre a produção literária da autora de A hora da estrela realizada entre os anos 1940 e 1970, e obras criadas por artistas visuais mulheres no mesmo período. O catálogo, espelhado na estrutura da exposição, é dividido em nove núcleos suscitados por linhas de força da escrita clariciana aos quais se somam dois conjuntos: “Antes de mais nada, pinto pintura”, que reúne um número expressivo de quadros pintados pela própria Clarice; e “O apartamento me reflete”, que agrupa retratos da escritora — fotografias, desenhos e pinturas. Os núcleos e os conjuntos são acompanhados de ensaios inéditos — escritos especialmente para esta publicação —, assinados por grandes especialistas da obra de Clarice Lispector. Os ensaios reunidos aqui são de Alexandre Nodari, Carlos Mendes Sousa, Eucanaã Ferraz, Evando Nascimento, João Camillo Penna, José Miguel Wisnik, Nádia Battella Gotlib, Paulo Gurgel Valente, Veronica Stigger, Vilma Arêas e Yudith Rosenbaum.
 
Reconhecido romance do século XIX, importante nos temas femininos, é resgatado em nova edição.
 
Na virada dos séculos XIX para o XX, a maioria das mulheres estava condenada a se conformar com o papel de dona-de-casa ou de mãe. A escritora gaúcha Maria Benedita Bormann, que publicou, em 1890, o romance Lésbia, sob o pseudônimo Délia, é uma das insubmissas. Em Lésbia, ela narra as venturas e desventuras de Arabela, jovem de educação requintada e grande sensibilidade que supera a experiência de um casamento marcado pela repressão e humilhação para se destacar como escritora, execrando a ideia de um novo matrimônio. Embora extremamente bonita e talentosa, ela precisa enfrentar o menosprezo e a cobiça masculina para se impor. O coração, porém, a trai quando julga ter alcançado a maturidade emocional que supostamente a imunizaria de mais decepção e tragédia. Servindo-se da personagem como alter ego, Bormann — que, tal como sua criação, usava um pseudônimo, “Délia” — faz provocações ousadas para sua época neste romance, publicado sob o selo 106 Clássicos em edição revisada e atualizada para proporcionar uma experiência de leitura ainda mais fluente e prazerosa ao público contemporâneo. A obra conta ainda com a preciosa contribuição da professora Maria do Rosário A. Pereira, referência em pesquisas sobre a literatura brasileira, que assina a apresentação.
 
Retorno de Susanna Clarke à ficção catorze anos depois.
 
Em uma realidade onírica, magia e razão estão intrinsicamente ligadas nesta obra que se entranha por tênues labirintos místicos e extraordinários. Piranesi vive na Casa. Talvez, sempre tenha vivido. Em seus diários, dia após dia, ele registra de maneira clara e cuidadosa todas as maravilhas que encontra: o labirinto de salões, as milhares de estátuas, as marés que invadem as escadarias, as nuvens que se movem em uma procissão lenta pelos cômodos de cima. Habitualmente, encontra-se com o Outro, sua única companhia e com quem divide as pesquisas e explorações. Às vezes, Piranesi também leva oferendas aos mortos, mas, na maior parte do tempo, está só. De repente, mensagens começam a surgir no chão, rabiscadas a giz. Há alguém novo na Casa. Mas quem é essa pessoa e o que ela quer? É amigável ou traz consigo destruição e loucura, como diz o Outro? Textos perdidos têm de ser encontrados. Segredos esquecidos precisam ser revelados. O mundo que Piranesi pensava conhecer está se tornando obscuro e perigoso. Lançado em setembro de 2020 no Reino Unido, o romance de Susanna Clarke chega ao Brasil com tradução de Heci Regina Candiani pela editora Morro Branco. Com Piranesi, a autora recebeu em 2021 o Women’s Prize for Fiction.
 
Uma emocionante ode de Neil Gaiman à criatividade, à imaginação e ao poder transformador da arte.
 
“O mundo sempre se ilumina quando você faz algo que não existia antes”, diz Neil Gaiman na epígrafe de Arte importa, uma reunião de quatro textos breves e inspiradores do escritor sobre o fazer artístico. Com artes de Chris Riddell, ilustrador renomado e parceiro de longa data de Gaiman, o livro explora como ler, imaginar e criar livremente podem ser elementos revolucionários capazes de mudar o mundo. Em “Crença”, Gaiman faz um manifesto a favor das ideias e da liberdade, escrito em decorrência do ataque terrorista à sede do jornal francês Charlie Hebdo, em 2015. Em “Por que nosso futuro depende de bibliotecas, leituras e devaneios”, o autor explica como ler ― sobretudo por prazer ― gera empatia, nos ajudando a imaginar mundos e realidades diferentes e a entender que as coisas não precisam ser como são. Presente também na coletânea “Alerta de risco”, “Fazendo uma cadeira” é um incentivo a todos que já se viram sem motivação para criar, pois para Gaiman fazer um livro é um pouco como fazer uma cadeira. Aos poucos, peça por peça, tudo começa a se encaixar. O último texto, “Faça boa arte”, é um velho conhecido dos fãs do autor. Publicado em 2014 em formato de livro, o famoso discurso de Gaiman na University of the Arts, na Filadélfia, encoraja artistas de todas as áreas a quebrar regras, a cometer erros fantásticos e, acima de tudo, a fazer boa arte. Com leveza e humor, Arte importa é um livro emocionante e necessário, um apelo inspirador à imaginação e à coragem de criar diante de momentos difíceis. Com tradução de Augusto Calil e Ângelo Lessa, o livro é publicado pela editora Intrínseca.
 
A chegada ao Brasil da escritora uruguaio-argentina Vera Giaconi.
 
Disputas, rivalidades e brigas familiares são temas presentes na literatura de todas as épocas, desde a narrativa bíblica de Caim e Abel até os romances realistas de Tolstói. Não é difícil entender por quê: trata-se de um assunto universal, tão fascinante quanto inesgotável. Prova disso é Entes queridos, primeira obra da autora uruguaio-argentina Vera Giaconi a ser lançada no Brasil, uma coleção de dez narrativas dolorosas que escancaram como o amor e o ódio não são mutuamente excludentes. Pelo contrário, eles podem ser ainda mais fortes quando se encontram unidos em uma relação de sangue, terreno fértil para o afeto — mas também para o rancor. Nas páginas deste livro, o leitor se deparará com personagens como a mulher que deseja o melhor para sua irmã, contanto que isso não interfira na realização de seu reality show favorito; um sujeito que nutre sentimentos ambivalentes em relação à mãe conforme ela envelhece; o caçula que explora as brigas conjugais de seu lar para assistir ao seu desenho favorito; um pai cuja única preocupação ao saber que o filho é perseguido pela ditadura militar argentina é manter a neta perto de si; e um casal disposto a recorrer ao sobrenatural para realizar o sonho de ter um bebê. Todas essas narrativas guardam um ponto em comum: cenas de harmonia familiar que, embora verdadeiras, estão a uma palavra errada de se transformarem em um cenário de caos. Com uma prosa seca e ágil como as ações de seus personagens, a literatura de Vera Giaconi escancara hipocrisias e contradições que, embora comuns a todas as famílias, acabam quase sempre varridas para debaixo do tapete. Com tradução de Bruno Cobalchini Mattos, o livro é publicado pela DBA Editora.
 
Um novo título na coleção Georges Bernanos editada no Brasil pela É Realizações.
 
Bernanos começou a escrever esta Carta aos ingleses em dezembro de 1940. A França acabava de sofrer uma das piores derrotas de sua história. Círculos católicos e monarquistas dos quais Bernanos era próximo e dos quais ele ainda compartilhava muitas convicções se aproximaram, em grande parte, do governo de Pétain. Para Bernanos, exilado voluntariamente no Brasil desde 1938, a ideia de que um francês católico pudesse aderir ao programa de Vichy e, assim, apoiar o regime de Hitler, era uma monstruosidade. É nesta Carta aos Ingleses, concluída em novembro de 1941, em que tanto os argumentos do intelectual como a verve do panfletário permanecem, oitenta anos depois, de vigor e clarividência intactos.
 
O meu amante de domingo, romance de Alexandra Lucas Coelho, ganha edição no Brasil.
 
Uma mulher de cinquenta anos planeja a vingança contra um ex-amante a quem chama de caubói. Às voltas com a revisão da edição portuguesa da biografia de Nelson Rodrigues, com aventuras sexuais dominicais e a escrita de um livro autoral, nossa protagonista desencadeia um romance em ritmo intenso em meio a um excitante jogo literário. “Tudo começaria com uma narradora que decide escrever depois de se apaixonar por um impostor. Eu não revelaria o que pusera fim abrupto à relação. Importante era a fúria, a luta armada, a pulsão de vida contra os filhos da puta. O livro seria uma espécie de antropofagia, ela comendo o inimigo para ficar mais forte, como uma tupi portuguesa no Verão de 2014.” O livro é publicado pela editora Bazar do Tempo.
 
A história de uma menina que pressiona o pai a falar sobre si.
 
Numa manhã, a caminho da escola, em Paris, uma menina interroga seu pai: “Por que você dança quando anda?”. Essa pergunta inocente — e grave ao mesmo tempo — fará este homem recordar sua infância no Djibuti, país africano, na costa do Mar Vermelho. Ele acorda as lembranças, retorna ao país natal, ao país da infância e da adolescência, da luz e da poeira, onde a enfermidade — primeiro as febres e depois a perna que se recusava a sustentar — o fez diferente, único. Ele se lembra do deserto movediço do Djibuti, do Mar Vermelho, das casas feitas de folhas de alumínio do seu bairro, da imensa solidão, das personagens que marcaram sua vida no país: Papai la Tige, a mãe Zahra, a avó Cochise — por quem o autor diz ter uma afeição especial pois “ela representa o passado dos nômades, a sabedoria africana” —, a empregada Ladane, os irmãos mais novos. Por que você dança quando anda? “é a história de uma menina que pressiona seu pai a falar de si mesmo, e ao fazer isso ela permite que ele aceite o passado e se reconcilie com a vida”, diz o autor. Com tradução de José Almino, o livro é publicado pela editora Tabla.
 
Uma coleção que conecta poetas contemporâneas com o legado de Henrique Lisboa.
 
A obra da poeta mineira Henrique Lisboa foi integralmente reeditada pela Editora Peirópolis e depois desse projeto a mesma casa editorial, por iniciativa de Renata Farhat Borges e sob coordenação de Ana Elisa Ribeiro, prepara a Biblioteca Madrinha Lua — o nome da coleção remete para o mesmo título do livro de Lisboa editado em 1952. A ideia é publicar “poetas que nos aparecem pelas frestas do mercado editorial, pelas fendas do debate literário amplo”, situa Ribeiro. Os quatro primeiros títulos que apresentam a coleção são: Quem tem pena de passarinho é passarinho, de Líria Porto, livro no qual a poeta celebra as transformações da natureza; Lança chamas, de Regina Azevedo, que expõe uma poeta apegada à sua ancestralidade e ao local, mas também ao mundo e o gesto político para e com as mulheres. Esses já disponíveis em pré-venda. Mais adiante, chegarão Até aqui, de Lúbi Prates e Estive no fim do mundo e me lembrei de você, de Adriane Garcia.
 
No mês de aniversário de 120 anos de Cecília Meireles, um inédito da poeta.
 
Um país no horizonte de Cecília reúne artigos jornalísticos escritos pela poeta entre 1939-1940 para a revista “O observador econômico e financeiro”. Com organização de Gustavo Henrique Tuna, editor da Global, os textos abordam assuntos como a necessidade de descansar e tirar folgas da jornada de trabalho, a pressão estética que as mulheres sofrem com a moda, o cotidiano desafiador do professor e mesmo a necessidade de um sistema profissionalizante melhor e mais preparado para formar jovens trabalhadores. Assim como as outras obras de Cecília, os artigos reforçam a sua sensibilidade, sendo que os textos servem, principalmente, para se aprofundar na forma que ela pensava e via o mundo. O livro é publicado pela Editora Global.
 
Um novo o mesmo Byron.
 
O trio de tradutores (Bruno Palavro, Leonardo Antunes e Pedro Mohallem) nos entrega um novo Byron — novo e ainda assim o mesmo. Na primeira parte desta coletânea, encontramos poemas extraídos de Hours of Idleness ­— o primeiro livro de Byron, publicado quando o autor tinha 19 anos. Em seguida, vêm trechos de "Hebrew Melodies": fruto da simpatia do autor pelos povos desvalidos e dominados, a obra nos lança, em seus melhores momentos, de forma assustadoramente verossímil, no severo e desértico universo do Velho Testamento (é o caso do magnífico “The Destruction of Senacherib”). Na terceira parte, há poemas avulsos, incluindo uma das melhores composições curtas em língua inglesa: “Darkness”. A seção final desta coletânea contém fragmentos de épicos byronianos, como “Childe Harold’s Pilgrimage” e “Don Juan”. Ao verterem esses poemas, os tradutores mantiveram o esquema de rimas e o verso medido — porém, sabiamente, escolheram expandir as sílabas de cada linha em português. Assim, um pentâmetro iâmbico pode tornar-se um verso de doze sílabas, enquanto um tetrâmetro pode tornar-se um decassílabo. O ganho de espaço em cada linha permite que o vernáculo se expanda e floresça. E a leitura não apenas flui, como surpreende. A antologia Sol dos insones é publicada pela Editora Zouk com prefácio de José Francisco Botelho.
 
REEDIÇÕES
 
Caixa reúne dois livros de Charles Dickens.
 
Charles Dickens nasceu na Inglaterra no início do século XIX. Suas obras, entretanto, lidas há quase duzentos anos, dialogam com leitores do mundo inteiro. Não é à toa que foram adaptadas inúmeras vezes, para o teatro, cinema, quadrinhos, desenhos animados e outras mídias. A mistura de humor e crítica social em um estilo poético presente em seus livros conquista os mais diversos públicos. Nos dois romances aqui reunidos, Oliver Twist e Um conto de duas cidades, temos o que há de melhor na literatura de Dickens: personagens como nós, cheios de defeitos e qualidades, vivendo histórias que nos prendem da primeira à última página.
 
A Editora Nova Fronteira reúne numa caixa três romances da literatura russa editados de seu catálogo.
 
Terreno fértil para a produção literária, a Rússia gerou alguns dos mais notáveis escritores da história. Nesta caixa, estão reunidos três de seus maiores expoentes: Dostoiévski, Tolstói e Górki. No romance psicológico Crime e castigo, publicado em 1866, Dostoiévski baseia-se em sua própria experiência na prisão e cria uma narrativa fascinante sobre a decadência humana. O realismo de Tolstói é representado por Ressurreição, que foi lançado em 1899 e é uma crítica mordaz às contradições sociais, ao sistema judiciário e ao regime russo do fim do século XIX. Já em A mãe, publicado em 1907, Górki inspira-se nas manifestações do Dia do Trabalhador de 1902 na Rússia para produzir um retrato arrebatador da luta revolucionária. Três obras-primas que provam por que a literatura russa é uma das mais aclamadas do mundo.

OS LIVROS POR VIR

Primeiro título da obra de Carlos Drummond de Andrade é livro fora de circulação há sete décadas.

Desde o anúncio do retorno da obra do poeta de A rosa do povo para o Grupo Editorial Record, essas são as primeiras notícias sobre o andamento das reedições e do projeto editorial a se iniciar ainda em 2022. Em matéria publicada no blog da casa, lê-se que os novos títulos sairão a partir de um trabalho que visa cotejar a obra conhecida com as primeiras edições sob responsabilidade do acervo da família. O estranho na nota é a ausência de detalhe como isso será feito, considerando a presença de apenas um especialista na obra do poeta num conselho de curadoria formado por representantes da editora e da família Drummond. A questão é: muito trabalho, se a coisa for mesmo séria, poucos braços e o tempo célere para algo nada simples. A mesma matéria informa que começarão a editar toda obra de Carlos Drummond a partir de Viola de bolso, título há sete décadas sem edição como livro individual, e As impurezas do branco. A obra de Carlos Drummond de Andrade deixou a Companhia das Letras esse ano em  acordo entre a casa os herdeiros responsáveis pela obra do poeta mineiro. 

EVENTO

Uma das celebrações para o programa Hora de Clarice, um dia com pesquisadoras brasileiras e estrangeiras sobre a obra da escritora

Clarice Lispector nasceu a 10 de dezembro. O dia se tornou no calendário cultural proposto pelo Instituto Moreira Salles, uma ocasião de celebração da obra da escritora. No calendário de 2021, chama atenção o evento proposto pela editora Nós e a The School of Life: um encontro presencial, em São Paulo, na The School of Life (Rua Medeiros de Albuquerque, 60 – Vila Madalena), parte de uma série intitulada Entre Nós e que reunirá em ocasiões futuras homenagens a outras criadoras, como Virginia Woolf, Simone de Beauvoir e Lou Andreas-Salomé. Clarice Entre Nós será conduzido por Simone Paulino, autora de Como Clarice Lispector pode mudar sua vida, e contará com a participação de convidadas brasileiras e estrangeiras: como a francesa Hélène Cixous, escritora, crítica literária e autora de A Hora de Clarice Lispector, publicado na França pela Éditions des Femmes e previsto para ser lançado pela Nós em 2022, e da ensaísta canadense Claire Varin, autora de Língua de Fogo – Ensaios sobre Clarice Lispector. Em nota divulgada no Estadão, esclarece-se que além desses encontros, haverá o Café com Clarice, com a participação da escritora Veronica Stigger, curadora da mostra Constelação Clarice, em cartaz no IMS. O evento conta também com presenças de Amnéris Maroni, autora do livro Vestígios, epifanias e individuações.
 
OBITUÁRIO
 
Morreu o escritor Assis Brasil.
 
Assis Brasil nasceu em Parnaíba, Piauí, em 1929. Sua atividade literária abarcou diversos lugares da criação e começa com a viva atuação na imprensa brasileira; escreveu para o Jornal do Brasil, Correio da manhã e O Globo. Deixou uma vasta obra, entre contos, novelas e romances. Escreveu ainda importantes textos de crítica literária sobre William Faulkner, Graciliano Ramos, Adonias Filho, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, James Joyce, Mário Faustino, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto entre outros. Destacam-se ainda ensaios de reflexão teórica sobre a poesia, o conto e a crítica literária, além das várias antologias que mapearam muito da poesia brasileira do século XX — um trabalho que começa em 1994 com a poesia piauiense, passa pelas poesias maranhense, cearense, amazonense, fluminense, mineira, sergipana, espírito-santense, norte-rio-grandense, goiana e estende até 1999 com uma antologia de poesia baiana. Seus trabalhos mais recentes na criação literária foram A cura pela vida ou a face obscura de Allan Poe (romance, 2010), A vida não é real (reunião de sua contística, 2009), O sol crucificado (novelas, 1998) e Paraguaçu e Caramuru: paixão e morte da nação Tupinambá (romance, 1995). Em 2004 recebeu pelo conjunto da obra o Prêmio Machado de Assis. Assis Brasil morreu a 28 de novembro de 2021, em Teresina.

DICAS DE LEITURA
 
1. Faça-se você mesmo, de Enzo Maqueira. O livro foi o último de 2021 no catálogo da Pontoedita e o primeiro do escritor argentino a ser publicado no Brasil. O romance explora uma série de questões cara à vida contemporânea; das listas de crises, quase todas. A começar pela criatividade — seu protagonista está sempre às voltas por escrever o roteiro de filme que o inscreveria no rol dos grandes cineastas —, passando pela identidade e de pertença num mundo cada vez mais tomado por pequenos radicalismos, parte da canalização das violências sedimentadas pelo modelo civilizatório que erguemos. Em ritmo cinematográfico, é um livro cujas tensões não acabam quando termina o romance; o leitor as carregará por alguns dias. A tradução é de Mauricio Tamboni. O livro já foi resenhado aqui no blog e é um do Kit para sorteio no segundo bimestre do clube de apoios ao Letras. Para se inscrever, visite aqui.
 
2. Trilogia. Um prego no coração, Natureza morta e Vício, de Paulo José Miranda. A obra do escritor português não é de um todo desconhecida dos leitores brasileiros, mas esses, até agora seus principais romances, só chegam por aqui agora. Neles, o escritor experimenta-se com uma possibilidade criativa já trabalhada reiteradamente na ficção: o do intercâmbio com outros artistas a partir de um traço criativo em comum. A trilogia editada num só volume se desenvolve assim a partir de Cesário Verde, João Domingos Bomtempo e Antero de Quental. Miranda examina a partir da relação dos autores com suas obras, a contemplação do objeto artístico acabado, a criatividade e a dissidência. Com um deles, Natureza morta, o escritor recebeu em 1999 o Prêmio José Saramago. O livro foi publicado pela editora Moinhos.
 
3. Vozes de Batalha, de Marina Colasanti. A escritora revista o baú dos seus antepassados para nos oferecer um romance entre a história e a ficção de uma personagem diretamente inscrita na memória histórica e a geográfica do Rio de Janeiro. O agora Parque da Lage, ponto turístico dos mais visitados na cidade, foi já Quinta Gabriella — um arroubo de amor do magnata brasileiro Henrique Lage pela italiana e cantora lírica Gabriella Besanzoni, de quem, a escritora é sobrinha-neta. O romance recria os bastidores desse enlace amoroso com outras consequências além da construção da quinta. Todo um Rio dos anos 1920 a 1940 circula por essas páginas. O romance foi publicado pelo selo Tusquets, da Planeta de Livros Brasil.
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
1. No início da semana que agora termina, Pedro Belo Clara, apresentou no seu projeto editado a cada último domingo do mês, algo da obra de Frank O’Hara. Na galeria de vídeos em nossa página no Facebook reproduzimos estas imagens em que o poeta estadunidense lê “Having a Coke with You”, possivelmente um dos poemas seus mais lembrados.
 
2. Para marcar os seus 35 anos, a Companhia das Letras oferece aos leitores uma pequena edição reunindo poemas com alguns dos nomes publicados pela casa. Medida do silêncio reúne textos de nomes consagrados e errantes pela poesia. O livro em formato digital está disponível gratuitamente aqui
 
3. Sabemos desde outubro, quando divulgamos numa edição deste Boletim, a exposição “Constelação Clarice”, organizada por Eucanaã Ferraz e Veronica Stigger. A quem está distante, há alguns contentamentos. O Instituto Moreira Salles, mecenas da exposição, disponibiliza um belíssimo e rico catálogo e esta visita guiada pelo próprio Eucanaã Ferraz. No canal do IMS no YouTube, o leitor encontra ainda outros materiais. 
 
BAÚ DE LETRAS
 
1. Faça-se você mesmo, de Enzo Maqueira, foi lido e comentado por Pedro Fernandes neste texto publicado no início do mês de novembro na seção Letras e Livros, aqui.

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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas. 

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