Boletim Letras 360º #454
DO EDITOR
1. Caro leitor, na semana seguinte
o Letras alcança 15 anos online.
2. Desde quando começou timidamente como um
espaço pessoal para abrigar textos aleatórios, registros de leituras colhidos
noutras regiões desse universo ao que somos hoje, 15 anos é um longo tempo. Nada aqui foi gratuito e tudo foi/ e é a duras penas.
3. Vale pensar que este espaço tem contribuído para o debate sobre a literatura e o literário num
país que sempre deitou vistas grossas para o assunto ou se utiliza dele para subterfúgios
outros, uma vez que padecemos da triste mania de reduzir a leitura a
algum fator utilitário.
4. Não é fácil, é verdade, mas continuamos.
5. Lembro que no dia 26 de
novembro, se divulgará o resultado do primeiro sorteio do nosso pequeno clube
de apoios à manutenção do blog. Levará um kit com três livros ofertado pela
Editora Mundaréu. Você pode saber tudo sobre como participar aqui. Se estiver numa das redes do blog, pode consultar mais detalhes no Instagram, no Facebook ou no Twitter.
6. Reitero os agradecimentos semanais
com um abraço por continuar na aposta em trabalhos como o do Letras. Que possamos
sempre conseguir novas forças para o que nos aguarda.
Julio Ramón Ribeyro. Nova antologia apresenta aos leitores brasileiros raras peças do mestre do conto latino-americano. |
LANÇAMENTOS
Há algo de novo de Julio Ramón
Ribeyro entre nós.
Em novembro de 1976, Julio Ramón
Ribeyro anotou em seu diário: “Escritor discreto, tímido, laborioso, honesto,
exemplar, marginal, intimista, organizado, lúcido: estes são alguns dos
adjetivos atribuídos a mim pela crítica. Ninguém jamais me chamou de grande
escritor. Porque seguramente não sou um grande escritor”. Talvez essa
observação seja parte de um entendimento geral de outro adjetivo muito
utilizado para referir-se ao escritor peruano: humilde. Àquela altura, aos 47
anos, entre livros de contos, romances e crônicas, o autor já tinha 13 livros
publicados, alguns deles considerados clássicos de sua época, como este Os
urubus sem penas, publicado agora pela primeira vez no Brasil. Este é o
primeiro livro de Ribeyro, lançado em 1955, em que dá voz aos esquecidos e aos
marginalizados. Seus contos exemplificam a dura e pura realidade de milhões de
pessoas que residem não apenas no Peru, mas em todo o mundo. A dor, o
sofrimento, a miséria e a crueldade que suspiram entre os textos aqui presentes
buscam, talvez, nos mostrar o nosso reflexo enquanto seres humanos, mostrar
como falhamos e há muito tempo. Uma obra universal que mostra o poder de um
maestro da escrita. A tradução de Silvia Massimini Felix é publicada pela
Editora Moinhos.
Nova coletânea de ensaios
revisita a obra de Clarice Lispector.
Composto por ensaios de alguns dos
principais nomes da crítica literária atual, Um século de Clarice Lispector
é, além de uma homenagem à autora em seu centenário, uma contribuição
inestimável aos estudos claricianos contemporâneos e um retrato poderoso da
diversidade de formas de adentrar os enigmas de uma escritora conhecida por
entender que o desconhecido é tão importante quanto aquilo que se sabe. Dividido
em cinco partes que procuram contemplar diferentes aspectos da obra de
Lispector, o volume é também um desdobramento do Colóquio Internacional: Cem
Anos de Clarice Lispector, que teve lugar em fins de 2020, organizado pela
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de
São Paulo. Seus 24 ensaios nos mostram que o universo clariciano continua
surpreendendo, ao proporcionar mil e um pontos de vista críticos. Cabe ao
leitor desses textos construir o seu e continuar o movimento infinito de
recepção e fruição de uma das maiores escritoras brasileiras de todos os
tempos. Organizado por Yudith Rosenbaum e Cleusa Rios P. Passos, o livro é
publicado pela editora Fósforo.
Livro faz um raio-X da leitura
sobre a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen no Brasil.
O livro O espantoso esplendor
das coisas reúne catorze textos originalmente apresentados na VIII Jornada
de Estudos em Poesia Portuguesa Moderna e Contemporânea realizada pelo Centro
de Estudos Portugueses da Universidade Federal de Minas Gerais, pelo Centro de
Estudos Luso-afro-brasileiros da Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais (CESPUC) e pelo Polo de Pesquisa em Poesia Portuguesa Moderna e
Contemporânea, nos dias 13 e 14 de junho de 2019, na Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais e na Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, por ocasião do centenário de nascimento de Sophia de Mello
Breyner Andresen. Trata-se de uma significativa amostra do estado atual da
recepção, cada vez mais alargada, da obra de Sophia, no Brasil, já que o volume
abarca contribuições provenientes de estudos que abrangem os mais variados
graus e etapas do percurso acadêmico. Organizado por Raquel dos Santos Madanêlo
Souza, Roberto Bezerra de Menezes, Silvana Maria Pessoa de Oliveira e Valéria
Soares Coelho, o livro é publicado pela editora Moinhos.
Uma antologia traz os melhores
contos de Marcelino Freire, selecionados especialmente pelo autor.
Marcelino Freire é sujeito
agreste, escritor de letras quentes. Tornou-se um dos nomes mais importantes da
literatura brasileira contemporânea ao fazer sua voz carregada de sotaque soar
universal. A oralidade de sua obra é marcante, ecoante; mais do que ouvir as
palavras escritas, o leitor é guiado por uma cadência de fala. Há ritmo em cada
frase. A polifonia é tamanha e tão bem conduzida, que é como se Marcelino fosse
um escritor-maestro. É maestria mesmo o que temos aqui. Marcelino é mestre.
Escreve magistralmente. Chega a ser emocionante lê-lo. Cada livro seu. Ter os
contos de Marcelino reunidos em uma Seleta nos faz enxergar, e até ouvir, a
solidez de sua trajetória grandiosa. É como se o menino nordestino - que,
quando era flagrado escrevendo, ouvia coisas como “De onde tu tira isso? Do teu
juízo? Onde já se viu?!” — tivesse construído seu próprio chão de palavras.
Esta Seleta — Por pior que pareça reúne contos de seus livros Angu de
sangue, Balé Ralé, Contos negreiros, Rasif, Amar é
crime e Bagageiro. A seleção foi feita pelo próprio autor, a pedido
da José Olympio. O que, para Marcelino Freire, foi um minucioso exercício de
revisitação, para o leitor e a leitora é uma forma resumida de acesso a grandes
contos de um dos nossos maiores prosadores.
Livro reúne vasta documentação
e rica iconografia em torno da Semana de Arte Moderna de 1922.
Reunindo vasta documentação e rica
iconografia, esta é uma obra fundamental tanto para iniciados quanto para
aqueles que pela primeira vez tomam contato com o tema. Nenhum movimento
artístico-cultural no Brasil teve uma repercussão tão polêmica e duradoura
quanto a Semana de Arte Moderna, que ocorreu no Theatro Municipal de São Paulo
em fevereiro de 1922. Duramente atacada pela crítica conservadora, a Semana
subverteu os padrões artísticos e literários da época e virou um marco
importante de nossa história, tornando-se matéria de reflexão sobre a cultura
brasileira. A proposta deste livro é aprofundar essa discussão e levá-la ao
grande público. José de Nicola e Lucas de Nicola percorrem de maneira ampla os
acontecimentos e bastidores da Semana de 22 e propõem análises inéditas sob
vários aspectos. Em 1972, nas comemorações de cinquenta anos do evento, Carlos
Drummond de Andrade descreveu aquelas agitadas noites como um “grito no salão
bem-comportado”, uma manifestação que seguia viva, ressoando. Outros cinquenta
anos se passaram e a Semana chega ao seu centenário mais viva do que nunca – o
grito modernista segue ecoando pelos salões e influenciando nossas artes, nossa
cultura, nosso pensamento. Semana de 22: antes do começo, depois do fim
é publicado pela Estação Brasil.
REEDIÇÕES
Nova edição da tradução de Antonio
Houaiss para Ulisses, de James Joyce.
Ulisses relata os
acontecimentos de um dia da vida do vendedor de anúncios Leopold Bloom. Ele sai
a passeio com o amigo Stephen Dedalus e, ao fim do dia, deve retornar para
casa, onde o esperam a esposa e a filha. A história se passa em Dublin, na
Irlanda, em 1904, e é uma paródia da Odisseia, de Homero. O livro se divide em
18 capítulos, e cada um deles está ligado a um dos episódios da Odisseia,
assim como a um ambiente e a uma hora do dia, a uma cor e a uma parte do corpo
humano. Publicado em 1922, o livro foi considerado “indecente” por Virginia
Woolf e chegou a ser proibido em alguns países. Representa um divisor de águas
na literatura, tendo-a revolucionado com sua modalidade experimental. Sua
grande inovação — a diversificação de estilos, os fluxos de consciência e
monólogos interiores dispostos sem qualquer preocupação de explicitar quem está
falando ou divagando ao longo do texto — horrorizou e encantou leitores e
críticos. Para T. S. Eliot, “Ao usar o mito, ao manipular um paralelo contínuo
entre a contemporaneidade e a antiguidade, Joyce está seguindo um método que
outros devem buscar depois dele”. Ulisses continua, até hoje, desafiando
leitores do mundo todo. O mais importante livro de James Joyce agora reeditado
reúne o inédito “Guia de leitura” preparado por Ricardo Lísias.
Nova edição de O verão das mulheres,
de Rubem Braga.
As crônicas reunidas deste livro, publicado
pela primeira vez em 1986 foram escritas pelo autor entre 1953 e 1955, passeiam
por uma miríade de temas comuns ao cotidiano de todos nós. Nelas, Rubem Braga
divaga com suave perspicácia sobre os dilemas da infância, reage aos incômodos
impostos pela vida moderna, mergulha fundo no mar agitado das paixões do mundo
dos adultos e retrata de forma comovente a encantadora beleza da natureza a ser
preservada. Vale ressaltar que uma das qualidades que mais distinguem sua prosa
é sua capacidade de, numa mesma crônica, enredar vários destes temas. Pois a
lente de Rubem para fotografar o cotidiano à sua frente é assim: sua visão de
uma simples cena ou paisagem abre a perspectiva para que se possa enxergar
outros elementos que fazem companhia ao que se quer enquadrar e tornar eterno
por meio da palavra tornou-se o maior cronista brasileiro. O livro é publicado
pela editora Global.
DICAS DE LEITURA
1. João Cabral de Melo Neto.
Uma biografia, de Ivan Marques. Nos últimos anos se reacendeu, de
alguma maneira, o interesse pela obra de João Cabral de Melo Neto. Não que
alguma vez tenha ficado apagado. Mas, falamos mesmo é da quantidade de publicações singulares
sobre o poeta: basta citar aqui a chegada da sua poesia completa pela
Alfaguara no ano do centenário e depois a fotobiografia organizada por Eucanaã
Ferraz para Verso Brasil. Já agora, a Todavia dá a conhecer o resultado de anos
de dedicação de Ivan Marques por construir um retrato autêntico de um homem que
se fez avesso aos holofotes. A biografia acompanha essa personagem fundamental
da poesia do século XX desde a infância, passando pelos primeiros interesses em
poesia (e por um modelo radical de poesia), o viandante dada as circunstâncias
da profissão de diplomata, as conspirações em torno de uma suposta atividade
política, até alcançar os passos da sagração. O livro se soma à rica biografia
de outro nome maior da nossa literatura, também apresentada pela mesma casa editorial, Jorge
Amado. Uma biografia, de Josélia Aguiar.
2. Correio literário — ou como
se tornar (ou não) um escritor, de Wisława Szymborska. É curioso como a
obra da poeta polonesa alcançou um lugar de elevado interesse entre os leitores
brasileiros, ao ponto de, em pouco mais de uma década, conseguirmos encontrar com
facilidade em língua portuguesa boa parte de sua produção literária. A editora
Âyiné, por exemplo, tem sido a casa que nos deu a conhecer outros pormenores da
atividade escritural de Szymborska. Um exemplo é publicação desse livro que
reúne as cartas que serviam de resposta a uma coluna administrada por ela num semanário
polonês cujo objetivo era orientar autores interessados em se construir como
escritor. Os textos findam por ser, além de conselhos valiosos aos aspirantes
de nosso tempo, uma oportunidade de observarmos melhor como Wisława concebe o
fazer literário e, claro, compreendermos sobre sua poética. A tradução é de
Eneida Favre.
3. Coração subterrâneo, de
Olga Savary. O que esperávamos, depois da morte da poeta, era uma nova edição
da poesia completa, acrescida dos textos que não entraram no livro de 1998 (Repertório
selvagem, Biblioteca Nacional, MultiMais Editorial e Universidade de
Mogi das Cruzes). Mas, por alguma pressa, em não esperar a saída do inventário completo,
chegou uma antologia que cumpre algum consolo no intervalo de espera por esse
momento. Organizada por Luciana Facchini e apresentada pela editora Todavia, o
livro oferece uma vista panorâmica de uma poesia que se buscou e se fez parte
fundamental das poéticas brasileiras do século XX.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Entre os dias 16 e 18 de
novembro de 2021, assinalando a abertura das celebrações para o ano do
centenário de José Saramago, vários pesquisadores de dentro e fora do Brasil se
reuniram na segunda edição do Colóquio de Estudos Saramaguianos. O evento
realizado online no canal do Programa de Pós-Graduação em Literatura da
Universidade Federal Fluminense está registrado e pode ser acompanhado sempre
que necessário — tanto por quem não pode ver ao vivo ou por aqueles que
gostariam de rever algumas falas — aqui.
2. A quem ousa se aventurar na web para além das limitadas fronteiras das redes sociais sempre pode encontrar algumas maravilhas. Bom, há muito que, vez ou outra, o leitor do Letras terá encontrado neste Boletim ou noutras recomendações alguma presença do trabalho da editora Corsário-Satã (a casa com um dos mais ricos catálogos de poesia). Vale ainda conhecer a revista editada pela mesma casa intitulada Despacho. Disponibilizada gratuitamente online, o periódico já alcança o sétimo número. Veja aqui.
BAÚ DE LETRAS
1. Olga Savary já apareceu aqui
quando falamos de sua aparição no primeiro número da extinta revista de contos Cruviana.
Em maio de 2020, depois da morte da poeta, editamos estas notas para um texto-perfil
sobre a autora de Magma e Carne viva.
2. Duas escritoras que receberam o
Prêmio Nobel de Literatura nasceram nessa mesma data, 20 de novembro. Em 1858,
Selma Lagerlöf; em 1923, Nadine Gordimer. Recordamos, das várias publicações
sobre a obra e as duas escritoras, dois textos: este texto sobre o livro de
Lagerlöf, O anel do general; e este breve perfil sobre Gordimer.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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