Boletim Letras 360º #452
DO EDITOR
1. Caro leitor, no dia 26 de novembro,
às vésperas do aniversário de 15 anos online do Letras, conheceremos o ganhador
do kit ofertado pela Editora Mundaréu no primeiro sorteio do nosso pequeno clube
de apoiadores. Você pode saber tudo sobre como participar aqui. Se estiver numa
das redes do blog pode consultar mais detalhes no Instagram, no Facebook ou no
Twitter.
2. A seguir, as notícias que
passaram pela tela do Letras no Facebook durante a semana, outras novidades e nossas
dicas dentro e fora do blog. Registro, em nome do Letras, os sinceros
agradecimentos pela partilha nessa estrada. Boas leituras!
O jovem Machado de Assis. Antologia apresenta uma seleta de alguns dos principais contos do escritor. |
LANÇAMENTOS
Uma seleção de contos de
Machado de Assis pelo escritor Luiz Ruffato.
Um grande mestre do conto, tanto
quanto do romance, Machado de Assis (1839-1908) escreveu algumas das mais
brilhantes histórias curtas da literatura brasileira e mundial. O escritor Luiz
Ruffato, organizador e autor do prefácio desta edição, considera este o gênero
em que Machado se sentia mais à vontade, e nele produziu “duas dúzias de
obras-primas”. Dezessete delas estão nesta antologia e sua inclusão é
justificada por Ruffato por serem as que apresentam “a perfeita adequação entre
o como e o quê”. Pelo menos até certo
ponto, Machado tinha consciência de ter conseguido vencer o desafio de
encontrar essa adequação, quando afirmou sobre o conto: “É gênero difícil, a
despeito da sua aparente facilidade, e creio que essa mesma aparência lhe faz
mal, afastando-se dele os escritores, e não lhe dando, penso eu, o público toda
a atenção que ele é muitas vezes credor”. O escrivão Coimbra e outros contos
se organiza em ordem cronológica reversa, começando pela história que lhe dá
título, a última publicada pelo escritor, um ano e oito meses antes de morrer.
Trata-se, apropriadamente, de uma história sobre a velhice, cujo protagonista é
um idoso obcecado por ganhar na loteria. Machado exercita uma amarga ironia —
não no sentido do sarcasmo, mas das reviravoltas da vida. Essa marca, em
intensidades e formas diferentes, se mantém nos primeiros contos do volume — o
trágico “Pai contra mãe” e o amoral “Umas férias”. O tom vai mudando com o
ousadamente erótico “Missa do galo”, um dos títulos mais conhecidos de Machado,
e o humor irresistível de “Um homem célebre”, intercalados pelo moralmente
implacável “O caso da vara”. Aos poucos também surgem histórias contadas em
primeira pessoa, e, em geral – em consonância com Memórias póstumas de Brás
Cubas e Dom Casmurro — os narradores são anti-heróis. “O caso da
vara” é um dos três contos desta antologia que abordam o tema da escravidão, ao
lado do já citado “Pai contra mãe” e de “Mariana”, este uma das duas histórias
que não constaram de nenhuma das reuniões de narrativas curtas publicadas em
vida por Machado. O outro é “O escrivão Coimbra”. Embora não seja considerado
habitualmente um dos pontos altos da produção do escritor no gênero, “Mariana”
enfoca, de forma original, a escravidão sob o ponto de vista das ambiguidades e
hipocrisias do cotidiano das famílias da elite em relação a “seus” cativos. Os
elementos fantásticos e de terror — tributários da admiração do escritor
carioca que quase nunca saiu do Rio de Janeiro pela obra de Edgar Allan Poe —
são a matéria-prima de “A causa secreta”, “O enfermeiro” e “O espelho”. Bem
diferente é a pequena fábula moral e filosófica “Um apólogo”, um diálogo entre
agulha e linha. Tão moral quanto imoral é “Teoria do medalhão”, até hoje uma
súmula intrincada e perfeita das “receitas de sucesso” seguidas pelos
brasileiros materialmente bem-sucedidos — o que o aproxima de “Conto de
escola”, que Ruffato vê como uma rara evocação da infância de Machado. Finalmente, as desilusões amorosas — sempre
com uma precisa descrição dos sentimentos amorosos, matizados pela dura,
inevitável ironia — surgem no conhecido “A cartomante” e em “Noite de
almirante”, “Singular ocorrência” e “Confissões de uma viúva moça”, este o mais
antigo da antologia, que provocou reações escandalizadas diante do
comportamento da protagonista. Geniais e complexos como muitas vezes são, os
contos de Machado propiciam também uma leitura altamente prazerosa e talvez
sejam a melhor introdução a seus romances para quem ainda os desconhece, como
os leitores jovens. O livro é publicado pela editora Carambaia.
Novo livro de João Anzanello Carrascoza, um romance de intenso lirismo.
Precisamente no ano de 1970, um
menino vive uma transformação tão profunda, que só conseguirá narrar tempos
depois, já adulto, ao se recordar de um armazém onde, na época, pelo sol da
memória e pela verdade dos sonhos, ele poderia se encontrar com as pessoas que
amava e que foram, uma a uma, excluídas de sua vida. Um romance de intenso
lirismo, cujos personagens, singulares, encantam tanto pela fragilidade de sua
condição quanto pelo seu poder humanizador. Com esta narrativa comovente, Carrascoza nos lembra que estamos mesclados aos
demais e que esta mistura, nem sempre fina, é que nos mantém, simultaneamente,
próximos e distantes uns dos outros. Uma história que dói, por ser também, no
fundo, a de todos nós, que perdemos a cada dia o que ganhamos por existir. O armazém do sol é publicado pela editora Faria e Silva.
Dois livros de Mary Gaitskill
ganham edição no Brasil.
1. Quando foi publicado pela
primeira vez, em 1988, Mau comportamento causou furor na cena literária
americana com suas histórias de obsessão — frequentemente regadas a sexo,
drogas e fetiches — que iluminam o lado menos confessável do desejo humano. Em
mais de um conto, mulheres jovens trabalham como prostitutas, orbitando uma
Nova York dos anos 1980 que fervilha de aspirantes a artistas lutando por
reconhecimento. Em outros, a relação entre duas amigas é construída com
refinamento psicológico ímpar. Inveja, vaidade e frustração são sentimentos que
Mary Gaitskill leva a sério. Aos trinta e poucos anos, a escritora de Detroit
dinamitou as barreiras da ficção que restringiam aos personagens masculinos o
direito de ser imperfeitos, de ter maus hábitos ou de cometer erros, e
inaugurou um novo tempo das protagonistas refratárias a convenções e incapazes
de se ajustar a moldes de delicadeza e bondade até então inescapáveis. Mais de
trinta anos após sua primeira publicação, "Mau comportamento" se firmou
como um clássico moderno do cânone americano e se apresenta como uma obra que
transcende o nosso contexto político atual, como transcendia o de então,
confirmando hoje o que já se intuía lá atrás: Mary Gaitskill é muito mais do
que a voz de uma geração, é uma grande tradutora da natureza humana. Com
tradução de Bruna Beber o livro é publicado pela editora Fósforo.
2. Quin é um editor proeminente de
meia-idade da efervescente cena literária de Nova York, acusado de assédio e
outros abusos por uma série de mulheres com quem trabalhou, principalmente na
condição de chefe. Em seu esforço de processar os fatos que levaram ao seu
cancelamento, ele faz uma análise por vezes autocomplacente, por vezes ambígua,
entre o ingênuo e o farsesco. Outra editora, Margot, espécie de alter ego da
autora, enxerga a situação de forma intermediária — tem afeto por Quin e compõe
um quadro complexo e inconcluso de qualidades e defeitos de seu amigo. Ele é
mesmo um manipulador consciente? Seus atos passaram os limites do perdoável?
“Isso é prazer”, conto escrito em 2019 sob o impacto do movimento #MeToo na
realidade norte-americana, alterna entre esses dois pontos de vista para tratar
de um tema que, por vir sempre e necessariamente impregnado de sentimentos,
costuma perder nuances com facilidade. Para a autora de Mau comportamento,
livro que nos anos 1980 revolucionou a maneira como a sexualidade feminina é
tratada na literatura e que é relançado pela Fósforo no Brasil, só a ficção é
capaz de dar conta dessa intrincada trama demasiado humana. A temática do abuso
sexual atravessa toda a produção de Gaitskill. Já em 1994, ela escreveu o
ensaio “A dificuldade de seguir as regras”, em que revela uma experiência
pessoal para refletir sobre o estupro — especialmente o date rape, ou estupro
em encontros românticos — a partir da maneira como as mulheres são ensinadas a
se comportar. A reunião desses dois textos em um só livro nos dá a dimensão
dessa escritora incapaz de permanecer na superfície. Mary Gaitskill recusa
dogmas e respostas fáceis ao mesmo tempo que nunca perdoa os autores de
violência, por mais humanos que os revele em sua obra. A tradução é de Bruna
Beber. O livro é publicado pela editora Fósforo.
Antologia traz uma face
menos conhecida de Virginia Woolf, a de jornalista.
A escritora colaborou
continuamente para jornais e revistas, com o mesmo esmero e cuidado com que
escreveu os seus romances. São ensaios que alcançam um equilíbrio extraordinário,
sobretudo entre o coloquial e o erudito, com especial habilidade nesse trânsito
que vai do ensaio à crônica, do registro memorialístico ao biográfico. São
textos esparsos, “unidos pela voz que narra, comenta, censura, elogia e
diverte”, e assim se tornam textos muito “próximos, engraçados, emocionantes,
familiares”, conforme assinala o tradutor e organizador Wagner Schadeck. Ainda
na indicação de Schadeck, “são ensaios-cartas, ensaios-biografias,
ensaios-resenhas, ensaios-contos, ensaios-crônicas. Não só de uma escritora
talentosa, mas de uma exímia leitora, que lê como uma obstinada montadora de
quebra-cabeças”, uma vez que, “diferente da imagem de escritora sombria, estes
textos transparecem a graça, a inteligência, o sarcasmo, a reflexão de uma autora
preocupada em se fazer próxima de seus leitores, numa bela fraternidade
promovida pela literatura”. O livro é publicado na Coleção Biblioteca Diamante,
da editora Nova Fronteira.
Ensaio escrito entre 1903 e
1906, um dos últimos textos de Tolstói, trata sobre William Shakespeare.
Nele encontramos o romancista
russo confrontando as ideias do dramaturgo inglês. Em suas considerações de
ordem moral ou religiosa, Tolstói desenvolveu algo que Vladimir Nabokov
considerou uma “nova religião (.) mistura neutra de Nirvana hindu com o novo
Testamento, Jesus sem a igreja”. Sem dúvida, há reflexos desse pensamento em Shakespeare e o drama. Para Aurora Bernardini, que traduziu e
prefaciou o livro, “a naturalidade é um dos grandes trunfos de Tolstói contra
Shakespeare”. E acrescenta ainda a tradutora: “Quanto a seu vaticínio sobre os
principais aspectos da arte futura e seus efeitos sobre o público, eles são,
hoje, todo o contrário do que ele propunha e, por uma grande ironia da
história, parecem se aproximar cada vez mais aos que ele tanto castigou nos
dramas de Shakespeare. Mas vamos deixar aos leitores o prazer de descobrir as
argumentações argutas dos três trabalhos aqui apresentados e o prazer de se
divertir com as recriações e os estranhamentos de Tolstói.”. O livro é publicado
na Coleção Biblioteca Diamante, da editora Nova Fronteira.
Nova tradução para o conto “O
sonho de um homem ridículo”, de Dostoiévski.
O protagonista desse livro é
ridículo. As pessoas riem dele, e talvez ele risse junto, se não tivesse pena
delas, pena porque ele sabe a verdade, e elas, não. Como é duro ser o único a
saber da verdade. Envolto por uma profunda melancolia, este homem decide tirar
a própria vida, mas adormece ao lado de seu revólver carregado. No limiar entre
a consciência e o sonho, o homem é levado do abismo do suicídio para as
planícies de um paraíso perdido, no qual é introduzido a uma terra utópica em
que a harmonia reina sobre o caos. Escrita em 1877, após o período de trabalhos
forçados na Sibéria, essa é uma obra-chave para a literatura de Dostoiévski.
Essa curta narrativa fantástica condensa grandes obsessões que atravessam toda
o trabalho do autor, sobretudo a oposição entre sentimento e razão, e a
contestação à visão científica de mundo, que ele considera autodestrutiva para
a humanidade. A edição da Antofágica, traduzida diretamente do russo por Lucas
Simone, conta com ilustrações de Helena Obersteiner e apresentação do
neurocientista Sidarta Ribeiro. Nos posfácios, Cecília Rosas tece um panorama
literário do conto e Flávio Vassoler aprofunda as questões existenciais e
religiosas tão flagrantes na obra. Celso Frateschi, diretor de teatro e
protagonista do monólogo “O sonho de um homem ridículo”, tece um ensaio baseado
em sua vivência na pele do personagem, e Helena Obersteiner escreve sobre sua
experiência ilustrando a jornada cósmica do autor russo.
A grande obra-prima de Tolkien
em uma edição ilustrada de colecionador.
Apesar de ter sido publicado em
três volumes — A sociedade do anel, As duas torres e O retorno
do rei — desde os anos 1950, O senhor dos anéis não é exatamente uma
trilogia, mas um único grande romance que só pode ser compreendido em seu conjunto,
segundo a concepção de seu autor, J.R.R. Tolkien. Em volume único, essa edição
suntuosa da obra-prima de Tolkien, ilustrada em aquarela pelo aclamado e
premiado artista Alan Lee e abrigada em uma caixa transparente, é uma das mais
completas edições já publicadas. O livro sai pela HarperCollins Brasil.
Dois estudos franceses — um
sobre a obra de Clarice Lispector e outro sobre a obra de João Guimarães Rosa —
ganham tradução no Brasil.
1. “Com João Guimarães Rosa: a
ficção à beira do nada, Jacques Rancière desdobra e amplia suas reflexões,
ao formular a hipótese de que, se um autor como Flaubert — no espírito da busca
da expressão da vida prosaica operada por esse “gênero sem gênero” que é o
romance — almejava escrever um “livro sobre nada”, o escritor mineiro, por seu
turno, está à beira do nada quando coloca a tradição das lendas e fábulas nas
bordas da vida ordinária. Ao perderem o “fio da meada”, as (quase) histórias do
Sertão constituem-se, no âmbito daquilo que Rancière chamou de regime estético
das artes, como uma libertação da “tirania da intriga”, ao frustrar a
expectativa daquilo que deveria acontecer: o marido traído no conto de
“Tutameia”, em vez de vingar-se, cria uma nova história na qual a esposa
aparece como inocente. Assim como a personagem do conto, o leitor de Rosa é
sempre instado a imaginar outras histórias, e se Rancière, ao propor novas
chaves de leitura, insere-se na grande fortuna crítica existente em torno da
obra do escritor, ele o faz como um amador, no duplo sentido da palavra, que dá
sua contribuição para aumentar a partilha do sensível e provar que a capacidade
de criar histórias é infinita.” (trecho do texto de orelha de Pedro Hussak).
Com tradução e prefácio de Eduardo Jorge de Oliveira, o livro é publicado pela
Relicário Edições.
2. “No final de 2019, a editora
Des Femmes publicou, pela primeira vez em francês, as crônicas completas de
Clarice Lispector, veiculadas na imprensa brasileira entre 1946 e 1977. Pouco
depois, o filósofo e historiador da arte Georges Didi-Huberman desenvolveu o
ensaio 'A vertical das emoções', em que se debruça sobre essa vertente singular
da produção literária de Clarice, que é reconhecida como uma das maiores
escritoras de língua portuguesa, mas também como uma das principais autoras do
século XX em qualquer língua. Didi-Huberman apreende, nas crônicas claricianas,
o que ele chama de 'um pensamento das emoções', o qual se inscreve de maneira
vertical, rompendo com a planura – a monotonia, a horizontalidade – da experiência
cotidiana, que é a matéria mesma da crônica. Em Clarice, esse pensamento das
emoções, diz Didi-Huberman, “não tem nada a ver com um espaço para confissões
pessoais”: constitui-se muito mais como ‘um saber não convencional – nem
psicologia, nem sociologia — fundado sobre uma prática da escrita como uma
forma de mover o pensamento’.” (trecho do texto de orelha de Veronica Stigger).
O livro é publicado com tradução de Eduardo Jorge de Oliveira pela Relicário
Edições.
NOVIDADES EDITORIAIS
Publica-se uma edição reunindo
os desenhos de Franz Kafka.
O escritor tcheco começou a
desenhar muito antes de escrever e levou o trabalho até quase o último dia de
sua vida. Era, pode-se dizer, uma obsessão: em folhas soltas, manuscritos de
seus trabalhos, cadernos, cartões postais, margens de livros. Mas, até agora só
conhecíamos 41 ilustrações; as outras 122 estavam guardadas num cofre de banco
em Zurique. Todo material foi reunido e se publica a partir de uma força tarefa
que reúne editoras de sete países. Como o restante do arquivo de Franz Kafka,
este também fez um périplo curioso: na fuga dos nazistas em Praga, Max Brod, o
amigo a quem o escritor recomendara a destruição do seu arquivo, levou consigo
esse material para a Palestina. Neste país deixou o que cabia às duas sobrinhas
de Kafka que sobreviveram ao Holocausto. Elas depositaram o material no acervo
da Biblioteca Bodleiana de Oxford e é daqui que vem boa parte dos desenhos até
agora conhecidos. A outra parte, o testamenteiro fez guardar num banco de Tel Aviv
até a crise do canal de Suez em 1956; temendo o desfazimento do Estado de
Israel, transferiu tudo para um banco de Zurique. Esse material foi depois
legado à secretária de Brod, Ilse Ester Hoffe — e os dois foram os principais
responsáveis por guardar os desenhos dos olhos do público, impedindo a exibição
e publicação. A coisa só muda em 2019, como acompanhamos aqui, quando disputa
entre os herdeiros e a Biblioteca Nacional de Israel resulta na vitória desta.
PREMIAÇÕES LITERÁRIAS
O escritor sul-africano Damon
Galgut é o vencedor do Booker Prize 2021.
O livro reconhecido agora pelo
júri de um dos mais prestigiosos prêmios da literatura de língua inglesa
chama-se The Promise; e desde 2003, o Booker Prize era uma promessa no
horizonte do escritor sul-africano — ele chegou às finais do galardão ainda em
2010. Segundo o jornal The Guardian, a obra de Galgut se destaca pelo
“estilo narrativo singular que equilibra a exuberância de cariz faulkneriano
com a objetividade nabokoviana, ultrapassando esses limites e fazendo-se
testemunho do florescimento do romance no século XXI”. O romance de Galgut
ainda inédito no Brasil é sua nona obra e já fora destacada por setores
importantes da crítica por seu retrato desoladoramente engraçado da família
Swart, descendentes de colonos holandeses que se apoiam na sua propriedade
rural e status na África do Sul pós-apartheid. A obra de Galgut está publicada
por aqui em títulos como O bom médico (Companhia das Letras), O
impostor (Record) e Em um quarto estranho (Record).
OS LIVROS POR VIR
Obra de Monhamed Mbougar Sarr
vencedora do Prêmio Goncourt será publicada no Brasil.
O mais prestigiado galardão das
letras francesas deu a conhecer em 2021 a obra de Mbougar fora do reduto em que
se estabeleceu. La plus secrète mémoire des hommes é o quarto romance do
escritor senegalês nascido em 1990. O autor toma como referência a obra de
Roberto Bolaño, o escritor chileno que escreveu títulos como Os detetives
selvagens e 2666 e quem, segundo Mbougar mudou sua vida como leitor
e como escritor. Sua estreia literária começa pelo conto e seu primeiro
romance, Terre ceinte, descreve a vida num vilarejo fictício tomado por
jihadistas. O livro premiado é um romance cuja narrativa guiada por um escritor
senegalês que vive em Paris conta a história da descoberta de um romance
indescritível. Sob o título provisório de A mais secreta memória dos homens,
o livro foi anunciado pela editora Fósforo que prevê entre o fim de 2022 e 2023
sua publicação no Brasil. Imediatamente após o anúncio do Goncourt, o livro já
estava vendido para dezesseis países diferentes.
REEDIÇÕES
Reedição de O homem sem
qualidades, de Robert Musil.
O romance é considerado uma das
obras literárias mais importantes do século XX. Nela, o escritor austríaco
Robert Musil tece uma intricada trama centralizada no matemático Ulrich, um
cidadão comum de 32 anos que decide desistir de suas tentativas de se tornar um
grande homem e se coloca em férias da vida. Às vésperas da Primeira Guerra
Mundial, ele retorna a Viena e convive com os mais diversos tipos humanos em
busca de um sentido para a vida e a realidade. Este brilhante romance
filosófico de Musil mostra a decadência dos valores vigentes até o início do
século passado, marcando a redução da influência europeia em relação aos rumos
políticos e econômicos mundiais e também todos os desdobramentos que traçaram o
inevitável caminho ao campo de batalha. Esta edição foi traduzida diretamente
do alemão por Lya Luft e Carlos Abbenseth e traz um prefácio inédito do
escritor Marcelo Backes. O livro é reeditado pela editora Nova Fronteira.
Mais um testemunho da coerência
e da coragem que tornaram Simone de Beauvoir uma escritora exemplar.
Simone de Beauvoir foi uma das
pensadoras mais importantes do século XX. Nenhuma linha escrita por ela foi
recebida com indiferença: seus livros de memória, seus romances, suas novelas,
seus tratados sobre a situação da mulher sempre tiveram o mérito de expor uma
autora destemidamente empenhada na discussão democrática de suas propostas de
modificação radical das estruturas psíquicas, sociais e políticas da existência
humana. Balanço final é mais um testemunho da coerência e da coragem que
tornaram Simone de Beauvoir uma escritora exemplar. Publicado em 1972, o volume dá
continuidade ao seu projeto autobiográfico, e nele a filósofa francesa aborda o
que vivenciou na década anterior, reavalia incidentes de seu passado e
compartilha sua visão de mundo, desvendando-se a si e à sua vida com uma
autenticidade desconcertante. O livro é publicado pela editora Nova Fronteira.
DICAS DE LEITURA
1. A família Medeiros, de
Júlia Lopes de Almeida. Há redescobertas que sempre são bem-vindas. Uma delas
tem sido a da escritora brasileira autora de alguns dos romances mais importantes
para a nossa literatura no entre-séculos XIX e XX. Depois de várias reedições de
seu mais conhecido romance, A falência, outras editoras decidiram ir em
busca dos títulos ainda meio à sombra. Reeditou-se alguns contos e agora, a
Carambaia resgata A família Medeiros, um romance finalizado no mesmo ano
de publicação da Lei Áurea. Neste livro, o interesse central da narrativa é
pelas lutas abolicionistas. Otávio Medeiros regressa da Alemanha com interesse
de, contra os interesses do pai, transformar a fazenda pelas ideias avançadas
colhidas no Velho Continente, como a modernização das atividades agrícolas e a
abolição da escravatura. O livro se situa na fina-flor do realismo desenvolvido
por Júlia Lopes de Almeida.
2. A liberdade total, de
Pablo Katchadjian. O escritor pertence historicamente ao seleto grupo de
renovadores da prosa produzida na Argentina neste início de século. Obviamente que
estamos muito longe de sabermos sobre os valores da literatura de agora — nem alcançaremos
ver, uma vez que o tempo do literário é outro —, mas sobream obras que apontam
um verdecer pela criatividade. Neste romance traduzido por Bruno Cobalchini Mattos
e publicado pela editora DBA, o interesse é revisitar o tema da liberdade sob a
perspectiva da não menos comum totalidade da sua expressão. A e B, os
protagonistas dessa narrativa se guiam por essa interrogativa num cenário
marcado por presenças das mais inusitadas possíveis.
3. A universidade desconhecida,
de Roberto Bolaño. Não é ainda a poesia completa do escritor chileno, mas sua
melhor parte já está disponível entre nós. Leitores mais atentos à obra do
autor de 2666 e Os detetives selvagens também dizem que não
existe este melhor poeta ou que o melhor deste poeta encontra-se mesmo na sua
prosa. Bom, de toda maneira, o livro parece contradizer um pouco a afirmativa, porque
é possível pinçar alguns poemas interessantes. Além disso, é uma entrada interessante
para observamos o convívio de criador com uma obsessão; Bolaño tinha predileção
pela poesia e se sonhava reconhecido como poeta. Detalhe: essa antologia foi
organizada pelo próprio escritor e perfaz um arco que vai do início de suas pretensões
literárias até o último de sua vida. A tradução publicada pela Companhia das
Letras é de Josely Vianna Baptista.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Neste dia, em 1919 nasceu
Sophia de Mello Breyner Andresen. Da nossa galeria de vídeos, recordamos duas entradas:
este excerto do filme de João César Monteiro, em que Sophia lê uma passagem de um
texto seu; esta, com uma leitura do poema “Quando”
2. Um dia adiante, mas em 1901,
nasceu Cecília Meireles. Da poeta brasileira, recordamos esta gravação em que
recita um dos seus mais conhecidos poemas, “Retrato”. No canal do Letras no
YouTube, encontram outros poemas — basta ir aqui.
BAÚ DE LETRAS
1. Da vasta contística de Machado
de Assis, vários textos se destacaram e se fixaram como obras independentes. O caso mais singular talvez seja “O alienista”. Ou “Pai
contra mãe”. Joaquim Serra escreve sobre este último aqui.
2. O mais conhecido romance de
Júlia Lopes de Almeida, A falência, foi comentado por Pedro Fernandes
neste texto do início do projeto de leitura de obras da literatura brasileira
muito ou pouco conhecidas.
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