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Mostrando postagens de novembro, 2021

O poeta que inspirou a pirataria

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Por Martín Sacristán Protegido da noite que me encobre, Escura como o vão entre os mastros, Eu agradeço a quaisquer deuses que acaso existam Por minha alma inconquistável. Nas garras das circunstâncias, Não estremeci ou chorei em voz alta. Sob os golpes do acaso Minha cabeça sangra, mas não curvada. Além deste lugar de ira e lágrimas, Agiganta-se o horror das sombras, E, ainda assim, a ameaça dos anos Me encontra, e me encontrará, sem medo. Não importa quão estreito seja o portão, Quão cheio de punições o pergaminho, Eu sou o mestre do meu destino, Eu sou o capitão da minha alma.¹ William Ernest Henley, 1899. Arquivo Constable and CO. Ltd.ª Nelson Mandela, preso por defender o fim do racismo na África do Sul, repetiu os versos deste poema durante vinte e sete anos. De acordo com sua biografia, suas palavras o ajudaram a tolerar seu longo confinamento. Lidas no contexto de uma prisão, qualquer prisão, adquirem um significado profundo, ainda maior se, como o líder sul-africano, alguém fo

A literatura como reparação

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Por Javier Munguía   Quando, em 13 de julho de 1942, foi capturada pelos agentes de polícia franceses que a entregariam às forças nazistas, Irène Némirovsky abandonava anos de perseguição. Já em 1936 ela escreveu a seu editor, Albin Michael, sem dar maiores detalhes para não se comprometer, que a situação havia se tornado muito difícil para ela. Se na França, onde tinha escolhido viver, era comum que judeus fossem submetidos a linchamentos sociais, a situação só se agravou com o início da Segunda Guerra Mundial, primeiro, e depois, numa França ocupada pelos alemães, com a promulgação do leis antissemitas, que deixaram o marido de Irène, um banqueiro, incapaz de trabalhar, e a escritora, sem o direito de publicar. Terá que fazer isso sob um pseudônimo até sua morte.   Exilada de sua terra natal, a Ucrânia, desde os 15 anos de idade, Irène se recusou a recuperar sua condição de fugitiva quando um agente sugeriu que ela fugisse para evitar os campos de concentração. Foi presa num campo fr

Frank O’Hara. Seis dos “Vinte e cinco poemas à hora do almoço”

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Por Pedro Belo Clara Frank O’hara. Foto: Fred W. McDarrah        POEMA   Café instantâneo com natas ligeiramente amargas e um telefonema para o além que não parece estar a aproximar-se. “Ah pai, quero ficar bêbado muitos dias” da poesia de um novo amigo a minha vida precariamente sustida nas mãos videntes de outros, as suas e minhas impossibilidades. É isto amor, agora que o primeiro amor finalmente morreu, no qual não havia impossibilidades?     A UM PASSO DE DISTÂNCIA   É a minha hora de almoço, vou pois passear por entre os táxis pintados de ruído. Primeiro, pelo passeio onde trabalhadores alimentam os troncos sujos brilhantes com sanduíches e Coca-Cola, usando capacetes amarelos. Acho que os protegem da queda de tijolos. Depois pela avenida em que saias rodopiam nos calcanhares e levantam voo sobre os gradeamentos. O sol queima, mas os táxis agitam o ar. Observo pechinchas em relógios de pulso. Há gatos que brincam na serradura.                                                    

Boletim Letras 360º #455

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DO EDITOR   1. Caro leitor, neste dia, iniciava este blog. Era uma web totalmente diferente dos dias que correm — basta dizer que os inferninhos das redes sociais, nossas praças para autos-de-fé neste século, ainda era apenas o sonho de algum ocioso jovem do Vale do Silício.   2. O blog nunca foi um espaço-brincadeira de jovem estudante de Letras, como pareceu a alguns. Era parte de uma necessidade que se modificou continuamente nesses 15 anos online.   3. Como grande parte das coisas que inventamos, isso aqui também se tornou um monstro; perturba-me um tanto e leva algumas horas de uma vida atribulada que poderiam ser gastas com outras coisas (papagueando pelas casas dos srs. do Vale, talvez).   4. Mas se o blog ainda acontece é porque carrego algum interesse contra a maré de desesperança fixada num país acusado de ser um mau-leitor e desinteressado da cultura literária — e já agora sei que não estou sozinho pela sempre renovada chegada de amigos e apoiadores. Não tenho dimensão nen