Boletim Letras 360º #450
DO EDITOR
1. Caro leitor, durante a semana,
esteja atento às redes do Letras: divulgaremos os três livros enviados pela
editora Mundaréu para o primeiro sorteio no âmbito da rede de apoio que
iniciamos para manutenção deste blog.
2. O sorteio acontece no próximo mês. Na edição 448 deste Boletim já revelamos um deles. E você pode se inscrever até a dia 25 de novembro. Todas as informações
sobre essa proposta estão disponíveis no menu ao lado, no final desta publicação ou aqui.
3. Esteja em paz, fique bem, boas leituras
e muito obrigado por sua preciosa companhia por aqui e noutras redes do Letras!
Paulina Chiziane, prêmio Camões 2021. Foto: Liliana Henriques. |
LANÇAMENTOS
Três romances de Paulo José
Miranda reunidos pela primeira vez.
Este volume reúne os três
primeiros romances do autor, através dos quais procurou penetrar, em linguagem
límpida e pensamento fino, nos meandros da criação a partir de três notáveis
artistas: Cesário Verde, João Domingos Bomtempo e Antero de Quental. Mais do
que uma trilogia de recorte histórico, estas narrativas mergulham na relação
dos autores com as suas próprias obras em momentos distintos, o da contemplação
do objeto acabado, em plena ebulição criativa e o da desistência. Não será por
acaso a escolha destes autores em particular, que nos ligam à cidade, à música,
à política. Com um deles, Natureza morta, Paulo José Miranda recebeu em
1999 o primeiro Prêmio José Saramago. Os outros dois títulos que integram Trilogia
são Um prego no coração e Vício. Livro publicado pela editora
Moinhos.
Um novo título de Alfred Jarry
chega aos leitores brasileiros.
A peça Ubu rei foi encenada
pela primeira vez em 1888. Desde então, Pai Ubu, o protagonista, encarnou a
alegoria do político grotesco, estúpido, intratável, que se torna rei
trapaceando e governa na base de atrocidades contra o povo e os aliados. Com
tradução inédita dos irmãos Bárbara e Gregório Duvivier, esta edição
comemorativa tem projeto gráfico de Elaine Ramos, com lâminas interpostas no
miolo com manuscritos e reproduções de artistas das vanguardas — como Dora
Maar, Miró, Lina Bo Bardi, Max Ernst, Picasso e Raymond Savignac. O volume
ainda conta com uma fortuna crítica com textos de Firmin Gémier (ator da
primeira encenação da peça), Guillaume Apollinaire, Michel Foucault, Otto Maria
Carpeaux, além de escritos do próprio Jarry. O livro é publicado pela editora
Ubu.
Primeira tradução no Brasil do
único romance finalizado por Andrei Platônov.
Tchevengur, único
romance finalizado por Andrei Platônov, discute dialeticamente a utopia
soviética comunista: nos anos 1920, Aleksandr Dvánov, filho de um suicida, e
Stepán Kopienkin, acompanhado por seu rocim Força Proletária, erram pela estepe
russa em busca do éden comunista e acabam em uma cidade alucinante, Tchevengur,
onde seres humanos belos e possessos concebem o inconcebível paraíso. O livro,
que no início fora intitulado Construtores da Primavera, projeta
quixotescamente um mundo que poderia ter sido, beirando por vezes o absurdo ao
expressar as ideias “ultrarrevolucionárias” das personagens cujas contradições
são expressas na própria língua, ou nas várias línguas que povoam a paisagem
platonoviana. Tchevengur, escrito entre 1927 e 1929, só foi publicado
integralmente na Rússia em 1988 e, desde então, é apontado como um dos auges da
produção de Andrei Platônov, que, munido de uma linguagem paródica-poética e ao
mesmo devastadora, ocupa uma posição única na literatura russa e universal. Com
tradução de Maria Vragova e Graziela Schneider e ilustrações de Svetlana
Filippova, o livro é publicado pela editora Ars et Vita.
Através de personagens
espalhados por mais de um século de história, Heloisa Seixas apresenta um
romance emocionante sobre os instantes que definem uma vida.
Em O livro dos pequenos nãos,
Heloisa Seixas explora o poder das escolhas, da sorte e do acaso. O livro
acompanha a história de Lia ao longo de uma noite — enquanto ela revive as
lembranças de seu relacionamento conturbado com Tito — e abre janelas para anos
pregressos, apresentando outros personagens que, cada um à sua maneira, tiveram
suas histórias reescritas. Com uma prosa que seduz e prende o leitor até a
última página e com a habilidade de quem transita pelos mais diversos gêneros
da ficção, a autora entrelaça passado e presente e tece uma narrativa sensível
sobre o impacto das decisões — conscientes ou não — que acabam não apenas por
definir nosso destino, mas também por nos tornar quem somos. O livro é
publicado pela Companhia das Letras.
A autobiografia de um dos mais
importantes intelectuais da era vitoriana.
John Ruskin (1819-1900), foi o principal
teórico da preservação arquitetônica e ambiental da Inglaterra do século XIX e
crítico perspicaz das transformações sociais trazidas ao país pela
industrialização, a qual veementemente combateu. Excêntrico, vinculado ao
romantismo, grande esteta, valorizava a sensibilidade subjetiva em contraponto
à razão; contraditório — ao mesmo tempo aristocrático, reacionário e simpático
ao socialismo. Præte¯rita, sua autobiografia, foi sua última obra e
testamento literário. Escrita ao longo de 27 anos, a desigualdade de suas
partes reflete o estado mental do autor durante o período de sua elaboração. O
livro, heterodoxo como gênero e de caráter "experimental", não segue
os modelos de autobiografias então vigentes — geralmente apresentados em termos
de confissão religiosa —, e poderia também ser considerado como narrativa de
viagem, elegia, memória filial ou coleção de excertos de diários. Esta tradução
contempla apenas o primeiro dos três volumes de Præte¯rita. Com tradução
de Marcos A. P. Ribeiro, o livro é publicado pela editora Hedra.
O novo romance do escritor
cubano Leonardo Padura é a história dos
que sobreviveram ao exílio e à dispersão da ditadura cubana.
O dia começa mal para Adela, jovem
nova-iorquina de ascendência cubana, quando ela recebe uma ligação de sua mãe,
que não está contente com as escolhas que a filha, que fez de se mudar para
Miami e viver com Marcos, um jovem cubano recém-chegado aos Estados Unidos.
Marcos conta a Adela histórias de sua infância na ilha, em meio ao Clã de
amigos de seus pais, e lhe mostra uma foto da última refeição que o grupo teve
25 anos antes, quando ele era criança. Surpreendentemente, Adela descobre
alguém familiar entre os rostos. E perde o chão. Como poeira ao vento é a
história desse Clã que sobreviveu ao exílio e à dispersão. O que aconteceu aos
que partiram e aos que decidiram ficar? Como o tempo os transformou? O
magnetismo do sentimento de pertencer e a força do afeto os aproximará novamente?
Ou a vida deles agora é apenas poeira ao vento? Num enredo cheio de suspense,
encontros, desencontros e reencontros, Padura acompanha a trajetória de seus
personagens, todos e cada um buscando soluções para as difíceis circunstâncias
que se abateram sobre o povo cubano no fim do século XX e no início do século
XXI. É a história de uma Cuba e de muitos destinos. O livro já foi lançado na
Espanha e na França, onde tem sido muito bem recebido. Na França, foi um dos
indicados ao Prix Médicis Étranger, conceituado prêmio de romances
estrangeiros. Uma leitura deslumbrante, um retrato humano comovente, outra
obra-prima de Leonardo Padura. Com tradução de Monica Stahel, o livro é
publicado pela Editora Boitempo.
Três livros indispensáveis da
obra de Hermann Hesse, um dos autores mais importantes do século XX, reunidos
numa coletânea de luxo.
Prêmio Nobel de Literatura em 1946
e ícone da literatura alemã, Hermann Hesse é, sem dúvida, um dos mais renomados
escritores. Do escritor, a editora Record reedita três de seus romances com os
livros em novo formato, capa dura e pintura trilateral: Demian, o
primeiro grande livro de Hesse no caminho que o conduz a O lobo da estepe,
considerado pela crítica sua obra-prima, e do qual Sidarta constitui a
etapa intermediária. Essa coletânea, incluindo as três obras clássicas do
autor, é acompanhada por um livreto com o texto inédito “Hermann Hesse e a
bíblia dos incompreendidos”, de Marcelo Backes. Abordando a importância do
autor — inclusive para grandes questões atuais — Backes nos dá um panorama da
vida e obra de Hermann Hesse e de suas influências no ambiente literário onde
nasceu.
O novo livro de Tobias Carvalho.
Nestas histórias ao mesmo tempo
sutis e vertiginosas, Tobias Carvalho fala do efeito dos sonhos na vida de
quatro pessoas. São personagens que encontram caminhos para os labirintos da
memória e para as promessas do futuro, para seus dilemas e desejos. Este livro
mostra um autor de grande imaginação, que transforma um tema antigo em algo
novo, como se estivéssemos em frente a algo familiar e ao mesmo tempo
totalmente desconhecido. Visão noturna é publicado pela editora Todavia.
Nova edição de novela de
Dostoiévski considerada por muitos como o ponto de virada na carreira do
autor.
Lançado originalmente em 1864,
enquanto Dostoiévski morava em Moscou e sua esposa estava nas últimas semanas
de vida, Memórias do subsolo é considerado por muitos o ponto inicial da
segunda fase do autor — na qual publicaria suas mais aclamadas obras. Alienado
da sociedade e paralisado pelo peso da própria insignificância, o narrador
deste livro conta a história de sua conturbada vida. Com fina ironia, ele
relata sua recusa em se tornar mais um trabalhador e seu gradual exílio da
sociedade que o cerca. Escrita em poucas semanas, esta novela arrebatadora
explora, com a maestria única de Dostoiévski, as profundezas do desespero
humano. A tradução do russo com apresentação e notas de Rubens Figueiredo é
publicada pela Penguin / Companhia das Letras.
As cativantes narrativas de
Alexandre Herculano.
Publicada originalmente em dois
volumes no ano de 1851, esta coletânea reúne as cativantes narrativas de
Herculano impressas nas revistas e jornais portugueses, salvando do
esquecimento as primeiras tentativas do gênero romance histórico feitas em
nossa língua. Nas lendas populares, fantasias e ficções de diversos temas e
épocas — como a guerra luso-castelhana e a construção do mosteiro de Batalha —,
o leitor acompanhará bravos cavaleiros brandindo suas espadas contra os mouros,
a maldade da cruel Leonor Telles ao condenar toda a Lisboa à morte e a coragem
do alcaide Nuno Gonçalves defendendo o castelo de Faria. O livro Lendas e
narrativas é publicado pelas Edições Livre.
Nesta reunião de textos em
homenagem a Davi Arrigucci Jr., um corpo extraordinário de autoras e autores
dedica-se a revisitar a obra de um dos maiores críticos literários do Brasil,
além de formidável professor da Universidade de São Paulo.
Os textos reunidos em Invenção e
crítica indagam, com espanto e admiração, as muitas veredas e vertentes em jogo
na obra do crítico Davi Arrigucci Jr. Não por acaso, suas leituras de autores
como Cortázar, Borges, Bandeira, Drummond ou Guimarães Rosa formam o centro das
atenções de uma primeira família de escritos que, inéditos ou republicados,
tanto sublinham sua argúcia como interrogam a atitude que as fundamenta.
Atitude, mais que método. Pois, não obstante o diálogo constante com a teoria
literária e as ciências humanas, os ensaios críticos de Arrigucci privilegiam o
encontro entre o texto e o leitor como dimensão fundadora da literatura e da
crítica. O poder de fecundação e inspiração desse modo de praticar a crítica
deixa-se ver num segundo grupo de textos, em que colegas e discípulos revisitam
obras, temas e autores caros ao crítico, num arco que vai da literatura
brasileira às letras neolatinas, passando pelo cinema, pela pintura e pelas
questões teóricas. Fechando o volume, uma seleção de textos dispersos e de
natureza variada tenta sugerir algo da pessoa que alternadamente se esconde e
se revela em sua obra volumosa: o menino e o filho, o amigo precioso, o
incomparável professor da Universidade de São Paulo, o homem justo, discreto e
urbano — mas sempre alerta ao menor chamado dessa “inacabável aventura” que é a
literatura. Invenção é crítica é publicado pela Companhia das Letras.
Coletânea reúne mais de uma
centena de textos de Antônio Maria.
Entre os 185 textos reunidos, a
grande maioria inéditos em livro, estão crônicas sobre a noite carioca, sobre
os amigos. Mas neles também se descortina outro Maria, pouco entrevisto nas
seleções produzidas até agora: sua origem numa rica família pernambucana que
perdeu tudo e o preconceito com nordestinos no Rio de Janeiro. Matéria
subjacente às crônicas foi também a questão racial, já que ele era o único
afrodescendente entre os cronistas mais célebres da época. Vento vadio. As
crônicas de Antônio Maria é publicado pela editora Todavia.
Uma carta de amor de um pai à
filha que não conheceu, revelando distâncias e aproximações. Uma história de
amor impossibilitada pelo medo. Uma reflexão sobre o que somos e o que
desejamos ser.
“Eu seria muito infeliz num mundo
feliz. Ela seria feliz em qualquer mundo. Esta história, minha e da tua mãe, é
também a tua.” Com essa referência à célebre frase que abre o romance Anna
Kariênina, de Tolstói, um pai se dirige à filha que não conheceu para lhe
contar a sua história — que é também a história dela —, numa longa carta que é
uma entrega sincera e emotiva, mas também uma bela reflexão sobre o significado
da felicidade. Num cruzamento de identidades e geografias, o narrador deste
romance nos leva por uma viagem ao outro lado do mundo ocidental, até o Camboja
e o Vietnã, à procura daquilo que está mais perto de nós. Há um pai que ergue
muros de silêncio, uma criada muito velha, uma amante que carrega sabores e
perfumes proibidos. Estes são alguns dos personagens inesquecíveis que
testemunham — ou dificultam — a busca desse homem por um amor incondicional. Princípio
de Karenina, de Afonso Cruz, é publicado pela Companhia das Letras.
Uma antologia generosa do
cronista que marcou época.
“O diabo não frequenta os
inferninhos de Copacabana com medo de ficar desmoralizado”, anota Stanislaw
Ponte Preta. Um dos mais irresistíveis intérpretes de nossa cultura e de nossos
costumes, o pseudônimo (ou seria heterônimo?) de Sérgio Porto misturou lirismo
e graça para retratar como ninguém a beleza e o absurdo do Brasil durante as
décadas de 1950 e 1960. Extraídas de Tia Zulmira e eu,
Primo Altamirando e elas, Rosamundo e os outros, Garoto linha
dura, Febeapá e Bola na rede, as crônicas reunidas pelo
jornalista Alvaro Costa e Silva neste volume trazem o olhar inteligente,
mordaz, afiado e debochado de uma das mentes mais brilhantes do humor
brasileiro. A fina flor de Stanislaw Ponte Preta é publicado pela
Companhia das Letras.
PREMIAÇÕES
A escritora moçambicana Paulina
Chiziane é a vencedora do Prêmio Camões 2021.
Esta é a 33.ª edição de um dos
prêmios mais importantes para a literatura de língua portuguesa. O galardão foi
atribuído por unanimidade pelo júri que destaca entre os critérios da decisão a
vasta produção literária de Chiziane, a recepção crítica, bem como o
reconhecimento acadêmico e institucional da sua obra. Paulina Chiziane nasceu
em 1955, em Moçambique. Depois de publicar alguns contos na imprensa, estreou
com A balada de amor ao vento, em 1990; é autora de livros como Niketche,
Ventos do Apocalipse, O sétimo juramento e O alegre canto da
perdiz, entre outros.
REEDIÇÕES
Reedição da tradução de Zoia
Prestes para O mestre e Margarida, um romance revolucionário.
É uma obra com um estilo
absolutamente original, sobre a liberdade da escrita e a força do amor em
tempos adversos. É também uma sátira devastadora da vida sob o regime
soviético, da censura e da repressão. Um dos livros mais importantes e
cultuados do século XX. Em uma tarde de primavera, Satanás e seu séquito
diabólico decidem visitar Moscou. Encontram poetas, editores, burocratas e todo
tipo de pessoas tentando levar a vida em pleno regime comunista. Depois dessa
visita, nada será como antes; o rastro de destruição e loucura mudará o destino
de quem cruzar seu caminho. Da mesma forma, a publicação de O mestre e
Margarida pela revista soviética Moskva, entre novembro de 1966 e janeiro
de 1967, mudou para sempre os rumos da literatura russa. Mikhail Bulgákov havia
morrido 26 anos antes. Era conhecido por suas peças teatrais de sucesso —
polêmicas por sua visão crítica do regime —, além de contos, novelas e um
romance. Quase ninguém suspeitava que, entre seu material inédito, estava sua
obra máxima. Bulgákov levou cerca de dez anos para terminá-la, sabendo dos
problemas que teria com a censura — chegou, inclusive, a queimar uma versão
inicial. Apenas seu círculo mais íntimo de conhecidos sabia da existência do
romance e, também, da impossibilidade de lançá-lo durante o regime stalinista.
Apesar disso, o livro sobreviveu por mais de duas décadas e tornou-se um
fenômeno. Acabou, assim, por confirmar uma frase dita na história pelo próprio
diabo, e que na Rússia se tornou proverbial: “Manuscritos não ardem”.
Publicação da Alfaguara Brasil.
A Editora Nova Aguilar reúne a
obra completa de Edgar Allan Poe.
Ficção completa, poesia &
ensaios, em um único volume, apresenta os escritos do contista, poeta e
crítico literário estadunidense Edgar Allan Poe, famoso mundialmente por suas
histórias de mistério e de terror. Nesse lançamento do Grupo Editorial Global,
o suspense que singulariza a obra de Poe está presente em contos como “Os
crimes da rua Morgue”, “O gato preto”, entre outras histórias do célebre autor.
Os contos humorísticos também estão presentes nessa obra, dada a variedade de
situações cômicas construídas magistralmente pelo inventivo ficcionista. Suas
criações poéticas também marcam a edição, contudo “O corvo” é o destaque. A
tradução dos escritos de Poe é de autoria de Oscar Mendes, com colaboração de
Milton Amado. O volume traz ainda textos sobre a vida e a obra do autor,
concebidos pelos escritores Hervey Allen e Charles Baudelaire. Em sintonia com
a atmosfera misteriosa que marca as histórias de Edgar Allan Poe, a coletânea
traz ilustrações de Eugênio Hirsch e Augusto Iriarte Gironaz.
Reedição do primeiro romance de
Paulo Scott.
Ao mesclar realismo e personagens
de um submundo insólito, Paulo Scott extrapola, com genialidade, o roteiro do
thriller contemporâneo para criar algo mais profundo: a exposição da
fragilidade dos sonhos e os riscos das buscas por uma nova chance. Fausto é um
homem de meia-idade que viu seus sonhos ruírem ao longo dos anos. Hoje, pratica
pequenos furtos com seu colega, conhecido por Machadinho, e mantém uma antiga e
complicada relação com Lucimar, que sofre de uma doença rara — a luz do sol lhe
é fatal. Ângela é uma garota instável e impulsiva, que também vive às margens
da legalidade. No dia em que tenta furtar uma moto e quase é capturada, seu
caminho cruza com o de Fausto. Apesar de suas diferenças, eles criam um
perigoso jogo de dependência emocional. Voláteis ganha agora uma nova
edição, revista pelo autor. Nesta espécie de policial de vampiros, já é
possível observar sua escrita marcante, de uma agressividade e de uma
sensibilidade sem pares, que o tornou uma das principais vozes da literatura
brasileira contemporânea. O livro é publicado pela editora
Alfaguara.
DICAS DE LEITURA
Como acabaram de ler na primeira
parte deste Boletim, no último dia 20 de outubro o prêmio Camões chegou para
Paulina Chiziane, a primeira romancista de Moçambique e sempre querida do
público leitor brasileiro, ainda que sua obra por aqui seja um tanto escassa. Nas
recomendações desta semana, três importantes livros dos já publicados no
Brasil.
1. Niketche. Uma história da
poligamia. Este talvez seja o romance de Paulina Chiziane mais conhecido do
público brasileiro. Ele aparece recomendado na edição 417 deste Boletim, que
sublinhava nas dicas de leitura obras de escritoras. O livro foi reeditado este
ano na coleção de bolso da Companhia das Letras. A vida de Rami entra num torvelinho
quando, de sua subserviência e fidelidade, descobre que o marido mantém relação
e filhos com várias mulheres por todo Moçambique. O acontecimento leva a mulher,
puxada por um interesse interpretado a larga pelos leitores que fizeram essa
travessia, a buscar e conhecer cada uma dessas outras mulheres; a cada passagem
se desenha uma complexa tessitura sobre a condição da mulher moçambicana.
2. As andorinhas. Este é um
dos livros que permite ao leitor entrar em contato com a contística de Paulina
Chiziane. O livro reúne três textos que se organizam em torno de temas e da
estilística da escritora — sua aproximação com a oralidade. Além disso,
revisita uma série de episódios da história antiga e recente de país. O conto
“Quem manda aqui?”, por exemplo, revisita o reinado do ditador Frederico
Gungunhana e “Maudlane, o criador” reitera a figura de Eduardo Chivambo Mondlane,
um dos fundadores da Frente de Libertação de Moçambique do domínio português. No
Brasil, o livro foi publicado pela editora Nandyala.
3. O alegre canto da perdiz.
Este é outro dos romances mais conhecidos de Chiziane; é o seu quinto livro do
gênero. Nele, desfia a saga de duas personagens, Delfina e Maria das Dores —mãe
e filha, ambas marcadas pelos impasses de sujeição ante os homens de seu
convívio e ao difícil itinerário por uma sociedade marcada por cisões irreparáveis.
O livro foi publicado no Brasil em 2018 pela editora Dublinense.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Um vídeo que ganhou novo
sentido por esses dias nas redes é este com a reação de Doris Lessing à notícia
de que havia sido premiada com o Nobel de Literatura. Recordamos, ao sublinhar o
aniversário da escritora nascida a 22 de outubro de 1919.
BAÚ DE LETRAS
1. Em 2008, o Letras publicou
numa sequência de perfis sobre escritores africanos de língua portuguesa um breve
perfil de Paulina Chiziane, revisto dez anos mais tarde. O texto está disponível
aqui.
2. Recordamos três dos textos já
publicados neste blog sobre Doris Lessing e sua
obra: estas notas para um perfil; “Doris Lessing ou a liberdade da palavra”
— aqui; e aqui algumas das suas lições para o trabalho com a literatura.
3. Outra publicação de Alfred Jarry recente no Brasil é a do romance O supermacho. Em outubro de 2019, Pedro Fernandes escreveu para o Letras sobre este livro. Você pode ler o texto aqui.
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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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