Boletim Letras 360º #449
DO EDITOR
1. Caro leitor, só registro os agradecemos
por sua preciosa companhia por aqui e noutras redes do Letras com a
leitura, o comentário, a partilha e o apoio sempre bem-vindos e nunca demais. Estejam
bem e boas leituras!
João Cabral de Melo Neto. Foto: Elpidio Lins Suassuna. |
LANÇAMENTOS
A obra de Abdulrazak Gurnah,
escritor que recebeu o Prêmio de Literatura em 2021, sairá no Brasil pela Companhia
das Letras.
O anúncio foi publicado na manhã da
quinta-feira, 14 de outubro de 2021, nas redes da editora: “Com muita alegria,
a Companhia das Letras anuncia que se tornará a casa brasileira de Abdulrazak
Gurnah, vencedor do prêmio Nobel de literatura de 2021”, abre a nota. A casa afirma
ainda que publicará inicialmente quatro títulos: Afterlives, Paradise,
By the Sea e Desertion. Afterlives, o livro mais recente
do autor, será lançado ainda no primeiro semestre de 2022. Ambientado no início
do século XX, o romance tem como pano de fundo a Rebelião Maji Maji, revolta
armada contra o domínio colonial alemão na região da África Oriental. Através
de Ilyas — que foi roubado de seus pais pelas tropas alemãs e depois de anos
retorna para sua terra natal — e de outros três personagens, acompanhamos os
impactos individuais e coletivos da guerra.
Nova edição de A família
Medeiros, de Júlia Lopes de Almeida.
O romance A família Medeiros,
que em 2021 completa 130 anos, foi a obra que tornou sua autora conhecida em
seu tempo. Publicado primeiramente como folhetim na Gazeta de Notícias do Rio
de Janeiro em 1891, tornou-se livro rapidamente graças a uma trama bem
arquitetada que passa por uma história de amor e por mais de um mistério a ser
desvendado. No entanto é também, do início ao fim, a narrativa do conflito
entre jovens abolicionistas e escravistas, estes dispostos às piores crueldades
para manter as coisas como estão. O enredo começa com a chegada de Otávio
Medeiros, depois de uma temporada de estudos de engenharia na Alemanha, à
fazenda de seu pai, o comendador Medeiros, em Campinas (SP). Otávio vem para o
Brasil com ideias avançadas contra a escravidão e a favor da modernização da
agricultura, em oposição às convicções de seu pai. Na casa da fazenda Santa
Genoveva mora agora uma prima, Eva, uma jovem altiva que não só nutre ideias
abolicionistas como intervém contra os maus tratos aos escravos e contribui
financeiramente para fundos de alforria. Em torno de Eva há um segredo que faz
tremer o comendador. Na figura do chefe da família Medeiros, Júlia Lopes de
Almeida constrói uma crítica severa ao patriarcado. Além de perverso com os
escravos, o comendador é uma pessoa retrógrada e intransigente, convicto de que
deve e pode arranjar os casamentos dos filhos — Otávio tem duas irmãs —, é
casado com uma mulher submissa e sem voz nas questões familiares, inimigo do
próprio irmão e intolerante com os modos independentes da sobrinha. Em A
família Medeiros, que não por acaso a escritora terminou de escrever em
1888, ano da Lei Áurea, a convicção abolicionista vem lastreada por um painel
do período de transição que transcorria. As fugas e rebeliões de escravos cada
vez mais frequentes são acompanhadas do protagonismo das vozes
antiescravagistas, surgem os primeiros imigrantes europeus e há prenúncios da
automatização do campo: uma nova máquina agrícola é recebida com pompa e
circunstância pelos personagens. Um aspecto curioso da construção literária do
romance, tributária da fonte do realismo francês, é a descrição das fazendas
paulistas, seu funcionamento, os hábitos de seus moradores e o linguajar tanto
dos escravos quanto dos senhores. Conforme a trama vai se adensando, os
personagens centrais viajam pelas estradas, fazendas e vilas — além de,
brevemente, pelas áreas centrais de Campinas — e a autora descreve os pequenos
comércios e a fala caipira. Carioca, Júlia houve por bem criar notas de rodapé
para explicar ao leitor os “paulistismos” que recolheu. Para um público
previsivelmente burguês, a autora descreve ainda a romaria de pagadores de
promessas ao Bom Jesus de Pirapora, uma fuga de escravos e uma comunidade de
leprosos.
O romance de estreia de Simon
Widman.
Seria Sebastián F. Milies um
mestre na arte da sedução ou um voraz conquistador que acumula amantes como
quem coleciona troféus? Sua escrita eleva o desejo a uma condição sublime ou
ele não passa de um autor menor, tentando fisgar leitores com cenas vulgares de
sexo? O acaso colocou a jovem jornalista brasileira Elvira para desvendar a
vida e os segredos do octogenário escritor uruguaio. Nesse trabalho, enfrenta
um penoso desafio: como retratar com isenção uma personalidade tão sedutora e
controversa? Madrid com d é publicado pela Faria e Silva Editora.
A chegada ao Brasil da obra de
Regina José Galindo.
Eu não sou a Pizarnik é uma seleta bilíngue de poemas escritos entre 1999 e 2021. A obra poética
de Regina José Galindo, ainda inédita em português, é marcada por questões
que guiam a sua sólida investigação com a performance (como as tensões
políticas da Guatemala, o extermínio dos povos indígenas, o machismo
estrutural e a violência de gênero), pontuada por uma aguda angústia em
primeira pessoa. A antologia publicada pelas Edições Flecha foi organizada e
traduzida por Julya Vasconcelos.
O novo romance de Alex Sens.
“Você nunca vai se livrar das
palavras”, alguém diz em A silenciosa inclinação das águas. E são elas,
as palavras, despertadas pela angústia, pelo medo e pela raiva, mas também pela
redenção, pela cura e pelo amor, que sulcam com peso e força os conflitos
narrados neste terceiro volume da tetralogia que acompanha a história de
Magnólia e sua família. Da nevada Noruega, onde o corpo dela aparece à beira de
um lago semicongelado, viajamos para a Suécia, última parada de uma atribulada
viagem pela Escandinávia. É lá que diferentes tipos de luto se confundem com
conhecidos silêncios, levando cada um a enfrentar seus maiores desejos,
terrores e segredos. Uma continuação tensa e intensa que se abre para um último
e obscuro capítulo. O livro é publicado pela editora Autêntica.
O consagrado romance
infantojuvenil Entregas expressas da Kiki (Majo no Takkyūbin ou
Kiki’s Delivery Service), de Eiko Kadono, publicado originalmente no Japão em
1985, ganha edição no Brasil.
Devido ao seu grande sucesso e
enorme legião de fãs, a obra ganhou continuações que envolvem o mundo de Kiki,
totalizando seis livros, com seu último volume publicado em 2009. A história acompanha Kiki, uma
bruxinha adolescente que nunca foge de um desafio. Quando seu aniversário de
treze anos chega, ela está ansiosa para seguir a tradição de uma bruxa:
escolher uma nova cidade para chamar de lar por um ano. Cheia de confiança, Kiki
voa para a vila costeira de Koriko e espera que seus poderes tragam facilmente
alegria para os habitantes da cidade. Mas ganhar a confiança dos locais é mais
complicado do que ela esperava. Tendo a seu lado Jiji, seu fiel e perspicaz
gato preto, Kiki cria novas amizades e constrói sua força interior, finalmente
percebendo que a magia pode ser encontrada até mesmo nos lugares mais comuns. Combinando
fantasia com o charme da vida cotidiana, Entregas expressas da Kiki, de Eiko
Kadono lida de uma forma leve e descontraída com temas como a passagem da
infância para a idade adulta, a busca juvenil pela independência, com o
desapego do “ninho” familiar, e as questões de aceitação e de adaptação em
grupo vivenciadas pelos adolescentes. A inspiração para que Kadono criasse a
bruxinha Kiki veio depois que sua filha fez, aos treze anos de idade, o desenho
de uma bruxa com notas musicais voando ao redor. A obra é ilustrada por Daniel
Kondo; a tradução do japonês é da conhecida autora de infantis Lúcia Hiratsuka.
O livro é publicado pela editora Estação Liberdade.
O novo livro de Ronaldo Brito.
Os três contos mordazes e
surpreendentes que compõem este volume bem poderiam ser capítulos de um
“romance autobiográfico”. Narram uma vida insignificante na qual nem mesmo os
sonhos são audaciosos, mas apenas mesquinhos, “convencionais e surrealistas. Nenhum
Mondrian, nem um único Malevitch”, como afirma o narrador. Não surpreende,
portanto, que o leitor se depare sobretudo com “fatos voláteis,
inconsequentes”, vazados em um estilo pernóstico e rebuscado que parece querer
disfarçar a banalidade de sua “rala biografia”, que não é “nenhuma Recherche
esnobe, recheada de madeleines alucinógenas. Até onde consiga enxergar, não
perdi tempo algum, como iria eu procurá-lo? Onde? Quando?”. Aí reside a
comicidade do livro, que tem uma ironia ácida à moda de Machado de Assis e de
Eça de Queiroz. O que de fato o narrador parece apreciar são “os dias iguais,
repetitivos, sobejamente vazios, a conversa fiada infinita, as desavenças e
ódios súbitos, os pequenos êxtases e desvarios que caracterizam a rotina. Em
resumo, a gloriosa pertença à História Universal da Esquina, que dispensa as
idiotas placas comemorativas”. Ele sabe que “o leitor escrupuloso, exasperado,
que chegou até aqui, terá notado minha estima pela discriminação compulsiva das
horas e dos dias”. Talvez isso seja o resultado dos “rigores da aposentadoria”
e do “trabalho insano de não fazer nada com método e afinco”. Porém, nada
parece constranger o narrador, que segue relatando os acontecimentos de sua
vida, mesmo sabendo que “uma vida não se conta, uma vida não conta. E
vice-versa”. Decididamente, esse narrador blasé não é nenhum herói, como
Ulisses, nome de um de seus gatos. Ainda assim ele se envolve em uma guerra
contra o mundo que, com sua “presença exorbitante”, “invade nossa privacidade,
nosso íntimo”. Fosse ele “um frívolo, um volúvel de saídas fáceis, a solução
por si mesma se impunha: iria para a Bahia”; mas nosso Ulisses às avessas não
sai do lugar. Ele está mais para Estragon e Vladimir de Beckett, do que para
Leopold Bloom, de James Joyce. Ou melhor, é parente do homem sem qualidades de
Robert Musil. Quatro destinos menos um é publicado pela editora
Iluminuras.
O novo livro de Ivan Angelo.
Sex Shop é uma
miscelânea de contos, poemas e ensaios sobre o sexo, abordado sem pudores e
receios, escritos com mão leve, bem-humorada, atual, dos quais emana um
erotismo sem preconceitos, sexismos, julgamentos ou grosserias. Aqui e ali uma
surpresa, um oh!, um sorriso, uma revelação. Trata-se de uma porta aberta às
mais diversas alcovas que buscam nas inumeráveis possibilidades do sexo
momentos de prazer. Escritos e organizados por um dos mais respeitados autores
brasileiros vivos. O livro é publicado pela Faria e Silva Editora.
Segundo volume de uma trilogia
das mais reconhecidas do escritor alemão Jakob Wassermann.
De todos os romances de Jakob
Wassermann, Etzel Andergast representa inequivocamente o ápice da força
criadora e da capacidade de análise psicológica do romancista. Ao narrar a
história do confuso Etzel Andergast, jovem de um passado familiar trágico que,
à procura de uma figura paterna, elege desesperadamente o professor Joseph
Kerkhoven como seu mestre, Wassermann apresenta um panorama da Alemanha durante
a República de Weimar, um país prostrado pelas dívidas de guerra e oprimido
pela crescente onda de ódio nacionalista. O romance ainda mostra que em uma
sociedade espiritualmente doente, pronta para ser seduzida pela mística de um
demagogo, a relação entre as gerações tende a ter um desfecho trágico e
imprevisível. Etzel Andergast é o segundo volume de uma trilogia que
começa com O processo Maurizius e termina com A terceira existência
de Joseph Kerkhoven. A tradução de Octavio de Faria e Maria Helena Amoroso
Lima Senise é reeditada pelo Sétimo Selo.
Uma nova coletânea com contos
organizada por Ruth Guimarães.
Ao reunir os contos que integram a
presente coletânea, Ruth Guimarães costurou habilmente dois de seus muitos
condões de polígrafa: a escritora, que sempre emprestou os ouvidos à escuta
amorosa, e a etnógrafa, cuja erudição, ainda na juventude, assombrou Mário de
Andrade; e segue a nos assombrar, quando deparamos, por exemplo, suas incursões
por mundos aparentemente distintos, mas que se revelam em sua unidade original,
especialmente no estudo sobre a presença do sobrenatural no Vale do Paraíba, Os
filhos do medo, obra impossível de ser delimitada, abarcando várias áreas
do saber e avançando corajosamente para os domínios literários, já que, para a
mestra vale-paraibana, a literatura da voz é tão importante quanto a outra, a
formal, por vezes rígida, que dela deriva, embora, por vezes, negue qualquer
filiação. Contos do céu e da terra é publicado pela Faro Editorial.
O novo título no catálogo da
DBA Editora.
Mercedes vaga por São Paulo em
busca de um rumo para a sua vida que, após um período vivendo o estereótipo da
mulher casada e bem-sucedida, parece ter perdido o norte. Esquivando-se de
boletos e lidando com a geladeira vazia, ela tenta se reerguer e — por que não?
— encontrar o amor nos botecos de esquina da metrópole. Narrado em forma de
diário, este livro oferece, em tom cômico e espirituoso, a perspectiva agridoce
de uma geração à qual foi prometida um futuro brilhante, e que foi forçada a
reajustar suas expectativas. Segundo Jorge Furtado, “Um encontro íntimo com uma
vida comum, de comovente humanidade, num texto que cumpre sua mais nobre
função: manter o leitor lendo. Em tempos de mentiras e pós-verdades, 'Uma
mulher sem ambição' nos lembra que nada é mais real que um romance.”
O novo livro de Cunha de
Leiradella.
Um homem recluso que vive em uma
bela casa, herança de família, em Portugal. Suas únicas companhias são
Tovarich, um gato que chegou “pequenininho, branquinho, uma bolinha de neve que
só parava de miar quando se aninhava no bolso do robe”, e Minha, um passarinho
que apareceu machucado e, depois de tratado, fez dali seu lar. Durante as
atividades de sua rotina — sempre as mesmas, sempre silenciosas —, nosso
protagonista vai se recordando dos tempos de juventude, das serenatas que
oferecia às jovens da escola, dos amigos que conseguiu fazer, apesar da
timidez, e, claro, da colega de classe com olhos verdes que ficavam mais verdes
quando o olhavam. Uma narrativa deliciosa, que nos leva a Portugal dos anos
1950 pelas memórias de um homem introspectivo e singular, saudoso de uma fase
da vida repleta de desejos e frustrações, conquistas e expectativas. Isto
não é um romance é publicado pela editora Nova Fronteira.
Livro reúne relatos de três franceses
que estiveram entre os primeiros a visitarem o Brasil.
Franceses no Brasil reúne as
impressões de viagem legadas por três visitantes estrangeiros que passaram pela
cidade do Rio de Janeiro entre 1817 e 1828, entre o término do denominado
Período Joanino (1808-21) e os anos iniciais do Império. Os três permaneceram
pouco tempo no Brasil e conheceram somente a capital, mas desfrutaram de ampla
liberdade de circulação, foram acolhidos pelos habitantes locais e tiveram o
apoio de conterrâneos já instalados no país. O primeiro a desembarcar foi
Jacques Arago (1790-1854), que permaneceu na cidade por cerca de dois meses:
passeou pelas ruas e arredores, frequentou a melhor sociedade, fez amizades e
retornou outras duas vezes. O relato que deixou dessa sua visita de 1817, em
forma de cartas, mostra um observador arguto, por vezes crítico –– sobretudo em
relação à escravidão ––, mas bastante simpático ao país e a sua gente. O
segundo, Jean-Baptiste Douville (1794-1836), é o que mais tem o perfil de um
“aventureiro”. De passado obscuro e vida incerta, o francês já perambulara por
outras partes do mundo. Ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 1827, montou um
negócio e envolveu-se em uma confusão, passando uma temporada na prisão da
cidade –– que, naturalmente, não descreve com simpatia ou entusiasmo. Apesar
disso, voltou ao Brasil em 1833, acabando por encontrar a morte nas margens do
rio São Francisco, pelas mãos de um matador de aluguel. Victor Jacquemont
(1801-32), o mais renomado dos visitantes reunidos em Franceses no Brasil,
esteve no Rio de Janeiro por pouco mais de vinte dias, narrados em meia dúzia
de cartas escritas a amigos e parentes na França. Nelas, a partir das poucas e
imprecisas informações que conseguiu recolher, traça um quadro extremamente
pessimista da situação política e social do Brasil e das antigas colônias
espanholas da América do Sul, àquela altura em pleno processo de independência.
Lidos em sequência, esses relatos dão ao leitor uma perspectiva colorida e
variada do Rio de Janeiro e de seus habitantes, num período em que a cidade
crescia em ritmo acelerado, abria-se aos estrangeiros e passava por mudanças
expressivas no seu cotidiano. Organizado por Jean Marcel Carvalho França, o
livro é publicado pela Chão Editora.
Uma biografia de Cabral de Melo
Neto.
O poeta aparece de corpo inteiro
nesta biografia irretocável. Com leveza e rigor, Ivan Marques compõe um retrato
que vai além da austeridade associada ao grande poeta. Da origem aristocrática
à perseguição por comunismo no Itamaraty, dos primeiros versos à consagração
como o mais construtivo poeta brasileiro, o que surge destas páginas é uma
trajetória pulsante, colada aos momentos decisivos da cultura e da política
brasileiras. João Cabral de Melo Neto. Uma biografia é publicada pela
editora Todavia.
REEDIÇÕES
O lado mais sombrio da humanidade,
o trauma do passado, uma história de amor. Com sua prosa única, McEwan está em
seu melhor em Cães negros.
June e Bernard, membros do partido
comunista inglês, se conhecem em Londres, em 1946. Apaixonam-se perdidamente e
decidem se casar. Mas durante a lua-de-mel, na França, um acontecimento
misterioso altera para sempre a percepção de mundo de June. Anos depois, os
dois acabam se separando. No fim dos anos 1980, Jeremy, o genro do casal, tenta
compreender como um amor tão profundo não resistiu às diferenças ideológicas. E
é lendo os escritos da sogra que ele descobrirá o que ocorreu anos atrás. Tendo
como pano de fundo a Europa pós-Segunda Guerra e as marcas deixadas pelo
conflito, McEwan usa seu estilo cristalino para elaborar com precisão uma
história sobre o lado mais sombrio da humanidade, e seu constante ataque ao
amor. A tradução de Daniel Pellizzari é reeditada na coleção de bolso da
Companhia das Letras.
DICAS DE LEITURA
1. Duas desventuras, de Robert
Louis Stevenson. A Arte & Letra é dessas casas editoriais que devemos sempre
acompanhar de perto seu trabalho. Uma coleção artesanal muito charmosa e da
qual já recomendamos outra obra por aqui, acaba de ganhar novo livro também já apresentado noutra edição deste Boletim. Viemos agora recomendá-lo. São dois contos em tradução inédita no
Brasil e reunidos pela primeira vez com este título: “O ladrão de corpos” e “O
demônio da garrafa”. O primeiro foi publicado originalmente em 1884 no jornal
inglês Pall Mall e o segundo é de 1891 e saiu na revista O le sulu
Samoa ––, um texto de quando o seu autor já estava em Samoa. A tradução é de Adriano
Scandolara e está um primor. Parte já daquelas pequenas pérolas que vez ou
outra aparecem no nosso acanhado mercado editorial.
2. Memórias de Mama Blanca,
de Teresa de La Parra. Dentre as bonitas redescobertas vividas recentemente por
alguns editores está a obra de uma das mais importantes escritoras da
literatura venezuelana. Este o terceiro livro dela traduzido por aqui. Situada em
torno das lembranças da personagem-título, a narração recupera passagens da sua
infância na fazenda Pedra Azul, antes de a família se mudar para Caracas; a
rememoração de Blanca a coloca diante de questões muito caras de aprendizagem sobre
as articulações e o funcionamento das ideologias e dos discursos dominantes. A tradução
de Lizandra Magnon Almeida é publicada pela editora Oficina Raquel e integra
uma coleção intitulada Grandes nomes da literatura feminina.
3. Um país para morrer, de Abdellah
Taïa. Este é o segundo romance do escritor marroquino a ser publicado no
Brasil. Aqui, a narrativa é um compósito de situações e encontros que
denunciam as várias maneiras de exploração impostas a estrangeiros de suas
sociedades. O termo fundamental discutido nesse sensível exercício de
radiografia do complexo encontro de povos e culturas — muitas vezes assinalados
com as diretrizes da camaradagem ou do respeito às diferenças — é a violência,
esta força que tanto nos anima quanto nos condena. A tradução de Raquel Camargo
foi publicada pela editora Nós.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. “Nasci adulta e morrerei
criança”. A frase de Agustina Bessa-Luís, nascida a 15 de outubro de 1922, é
motivo para esta vídeo-biografia produzida pelo diretor português José de
Almeida para a RTP2 — disponível aqui, na galeria de vídeos do Letras no
Facebook. O filme reúne depoimentos de importantes nomes da cultura artística
portuguesa, amigos e figuras de convívio com a escritora: Manoel de Oliveira,
Eduardo Prado Coelho, Inês Pedrosa, entre outros.
BAÚ DE LETRAS
1. O primeiro livro de Abdellah
Taïa publicado no Brasil, Aquele que é digno de ser amado, na tradução de
Paulo Werneck, foi resenhado no Letras por Rafa Ireno. Você pode ler o texto aqui.
2. No blog existem ainda várias
entradas sobre a obra e Agustina Bessa-Luís. Aqui, um breve perfil sobre a
escritora e, para citar só mais uma das publicações, este texto sobre seu
romance mais conhecido, A sibila.
3. Até a chegada da biografia de
João Cabral de Melo Neto, o leitor dispõe de um variado acervo de textos aqui
no blog que explora desde traços da sua vida e sua obra poética e ensaística. Neste link é possível descobrir alguns desses materiais.
CLIQUE AQUI E SAIBA COMO COLABORAR COM A MANUTENÇÃO DESTE ESPAÇO
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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