Boletim Letras 360º #447

DO EDITOR
 
1. Caro leitor, enquanto trabalhávamos obstinadamente para angariar fundos a fim de custear as despesas com o domínio e hospedagem do blog para 2021, recebemos contatos de vários leitores e foi a partir de dois deles que iniciamos um projeto com duplo interesse: reduzir o sufoco da necessidade e retribuir o empenho, grande ou pequeno, que você dedica a este projeto.
 
2. Com o apoio de editoras parceiras sortearemos a cada bimestre kits com livros entre os apoiadores do Letras. E já conseguimos três apoios para os três primeiros bimestres: a editora Mundaréu, a editora PontoEdita e a editora Bandeirola, respectivamente. Fique atento que divulgaremos por aqui e nas nossas redes o andamento de tudo, incluindo quais títulos encontrarão em cada um dos kits. Você pode se informar detalhadamente sobre como apoiar e garantir sua participação nos sorteios aqui.
 
3. Avisamos no Instagram e repetimos por aqui. Todos que apoiaram o Letras na campanha que fizemos em 2021 estão inscritos para o primeiro sorteio: isto é, os que compraram no nosso bazar ou enviaram doações avulsas.
 
4. Qualquer dúvida, pode nos contatar através de quaisquer canais à sua disposição: nas redes, no e-mail ou mesmo pelo blog — certo? Muito obrigado pela companhia. Boas leituras!

Franz Kafka. Editora Bandeirola prepara edição de luxo do primeiro livro do escritor tcheco.


 
LANÇAMENTOS
 
Sigrid Nunez, ganhadora do National Book Award em 2018 por O amigo, traz, neste novo romance, outra magistral amostra de sua capacidade de abordar, sem receio, os mais variados temas — por vezes espinhosos — de maneira elegante, poética, franca e sempre inventiva.
 
No estilo típico de Nunez, a narrativa se estrutura a partir da voz de uma mulher que, exercitando sua capacidade de escuta e acolhimento, reúne relatos de episódios dolorosos que seus interlocutores estão enfrentando. Entre eles, o filho de uma vizinha descreve a perda progressiva da sanidade da mãe idosa; uma frequentadora de academia lamenta a inevitabilidade do envelhecimento; um ex-gato de abrigo, em uma cena kafkiana, compartilha sua comovente trajetória. Nessa costura de vivências, emerge o que a própria narradora está enfrentando: uma amiga com câncer terminal demonstra autocontrole ao encarar seu diagnóstico e lhe pede um favor incomum. Sem transbordar emoções nem recorrer a lições edificantes, estabelece-se entre elas uma rara cumplicidade na tentativa de lidar, de maneira racional e até mesmo cômica, com o processo de morrer. Ao proporcionarem a experiência de se colocar no lugar do outro, as histórias revelam sentimentos comuns a todos e, com isso, oferecem um conforto duradouro e apaziguador para os desafios que todos temos de enfrentar. A tradução de Carla Fortino para O que você está enfrentando é publicada pela editora Instante.
 
Uma visita ao trabalho jornalístico da poeta Wisława Szymborska.
 
O “Correio literário” — ou “Correio”, para os íntimos — era uma seção do semanário Życie Literackie [Vida Literária] em que a poeta Wisława Szymborska respondia às cartas dos leitores que enviavam seus primeiros escritos com a esperança de serem publicados e entrarem para o panteão literário polonês. As respostas tinham por objetivo orientar e comentar os textos para além do “não publicaremos” protocolar. Para atenuar a negativa, a poeta se vale de uma peculiar ironia, como se tentasse, de um só golpe, fincar novamente ao chão os pés dos sonhadores diletantes. Mas esse tom nunca impede reflexões profundas sobre arte, escrita e o comportamento daqueles que vivem escravos das palavras: “a poesia não é (…) uma recreação e uma fuga da vida, mas a própria vida”; “infeliz é aquele artista que não deixa nada atrás de si”. Entre um sorriso amarelo e outro, um conselho e um consolo. Este livro, repleto do humor extraordinário da ganhadora do Prêmio Nobel, não é apenas uma coleção de conselhos valiosos e dicas para escritores, mas também uma ótima leitura para amantes da literatura e leitores das obras de Wisława Szymborska que desejam conhecer mais suas opiniões, preferências literárias e escritores favoritos. Com tradução de Eneida Favre, Correio literário é publicado pela editora Âyiné.
 
Júlia Lopes de Almeida para além do romance.
 
Contos e novelas reúne narrativas curtas de Júlia Lopes de Almeida, extraídas de duas de suas obras: Ânsia eterna (1903) e A isca (1922). Da primeira, fortemente influenciada pelo escritor francês Guy de Maupassant, foram selecionados dez contos, marcados pelo insólito e pelo fantástico. Da segunda, que reunia originalmente quatro novelas, foram selecionadas duas que apresentam algumas das características da narrativa de Júlia Lopes e dos temas que permeiam sua obra. Com tintas do naturalismo e do realismo francês, sua prosa tem traços da objetividade, do antropocentrismo e do cientificismo que fizeram escola no século XIX. Não ficam de fora, no entanto, as críticas à sociedade brasileira: o lugar da mulher na sociedade patriarcal, os conflitos familiares, as marcas da escravidão e os contrastes sociais, políticos e econômicos resultantes da modernização são temas recorrentes. O livro é publicado pela editora Hedra.
 
Karmele Jaio oferece em A casa do pai um romance profundo e bem construído, ambientado no País Basco, que convida a reflexões necessárias.
 
Por meio de capítulos curtos e prosa fluida, alternam-se vozes narrativas focalizadas em três personagens: Ismael, escritor em plena crise criativa diante da produção de seu novo e aguardado romance; Jasone, a esposa, leitora crítica e revisora dos livros dele, que vive uma intensa e silenciosa revolução pessoal após as filhas se tornarem adultas; e Libe, irmã mais velha de Ismael, amiga de infância de Jasone e referência da vida inteira para ambos. O que os une, para além das memórias compartilhadas da juventude, é o desejo de desconstruir padrões de gênero, de investigar a matéria sobre a qual essas construções se erigem, de resgatar na casa paterna, na figura rude e agora fragilizada do pai envelhecido, o ponto de mutação que os levou a traumas, bloqueios e desencontros. Sobretudo para Ismael, esse exame do passado e das minúcias do comportamento de seu pai será decisivo para seu processo de escrita. Jaio consegue abordar temas delicados, como masculinidade tóxica, mesclando tensão e ironia, sem maniqueísmos ou simplificações, e revelar como a dinâmica da opressão de gênero não depende apenas de agressões físicas para se impor, mas se infiltra com sutileza em todas as relações. Nas palavras da autora: “Em A casa do pai tentei mostrar o sótão das personagens, seus sonhos escondidos e, sobretudo, suas palavras não ditas. Essas palavras-chave, que só aparecem quando baixa a maré, quando as pedras escondidas sob a água se tornam visíveis”. Em 2020, A casa do pai recebeu o Prêmio Euskadi de Literatura, o maior da literatura basca. A tradução de Fabiane Secches é publicada pela editora Instante.
 
Uma história cativante do autor de Fahrenheit 451.
 
Ahmed, filho de Ahmed, está em caravana pelo deserto. Ele cai de seu camelo, e, ao se ver perdido e sozinho, se desespera. Seu lamento é atendido por Gonn, o guardião dos fantasmas dos nomes perdidos, há muito adormecido nas areias daquele misterioso cenário. É com esse curioso auxílio e a dádiva de voar que Ahmed é envolvido em uma aventura que desafia o tempo e o espaço, levando a um aprendizado profundo sobre a vida e o destino. Nesta edição, Ahmed ganha traços oníricos banhados na ancestralidade pelo ilustrador e quadrinista Jefferson Costa, com uma perspectiva brasileira e contemporânea para a obra imortal de Ray Bradbury. A tradução é de Samir Machado de Machado. Ahmed e as máquinas esquecidas é publicado pela Biblioteca Azul.
 
Nova tradução da peça As troianas, de Eurípides.
 
A peça As troianas, de Eurípides (c. 480-406 a.C.), “o mais trágico dos poetas”, trata do destino das mulheres de Troia após a derrota da cidade para os gregos, ao final da famosa guerra imortalizada por Homero na Ilíada.  Aprisionadas pelas tropas lideradas por Agamêmnon, as protagonistas da peça lamentam seus infortúnios tendo Hécuba, a rainha troiana, como figura central. Entram em cena Cassandra, a princesa e vidente que foi violada por Ájax Oileu no templo de Atena (o que gerou a revolta desta deusa contra os gregos, abordada no prólogo da tragédia), Andrômaca, mulher do herói troiano Heitor (morto por Aquiles), e Helena, esposa de Menelau, cujo rapto pelo príncipe troiano Páris foi a causa mítica da Guerra de Troia. Encenada em 415 a.C. em Atenas, menos de um ano depois dos habitantes da ilha de Melos terem sido massacrados e escravizados pelos atenienses, a peça acabou se tornando um libelo contra as atrocidades da guerra, algo comentado desde Plutarco, no século II. A presente edição, bilíngue, traz a primorosa tradução de Trajano Vieira e textos críticos de Jean-Paul Sartre (que adaptou a peça após a guerra da Argélia) e do helenista britânico Chris Carey. O livro é publicado pela editora 34.
 
Novo projeto editorial da Bandeirola apresenta em edição bilíngue e de colecionador a obra de estreia de Franz Kafka.
 
Franz Kafka tinha 29 anos quando publica Contemplação, livro que reúne dezoito narrativas breves que aparecem editadas pela Rowohlt Verlag, editora conhecida por publicar escritores da vanguarda alemã. Alguns dos textos já estavam publicados entre textos de Rainer Maria Rilke e Heinrich Mann em veículos como a Hyperion. O narrador de Contemplação observa e registra instantâneos do cotidiano, alguns sob um ponto de vista melancólico. A edição publicada pela Bandeirola coloca em protagonismo outra vez essas histórias. Trata-se de uma tiragem especial que reúne a prosa e os desenhos de Franz Kafka numa composição lírica em que texto e imagem convergem e colocam o leitor ante as bases fundacionais do projeto criativo do escritor tcheco: a solidão e o insólito. Contemplação tem tradução de Marcos Tulius Franco Morais, autor também de texto que apresenta a obra, e prefácio de Braulio Tavares. O projeto espera seu apoio aqui
 
André Seffrin organiza uma antologia com poemas de revolta e protesto da literatura brasileira.
 
Esta antologia reúne 142 poemas sobre o Brasil e os brasileiros. Um país desvendado por poetas, um país que vem de longe, de Gregório de Matos aos nossos dias. Apesar de incluir também poemas satíricos, de humor corrosivo, em sua maior parte são poemas que procuram entender um Brasil real e não aquele, falso, vendido pela propaganda. São poemas de revolta e protesto, mas sem perder de vista a evasão e o riso, também sinais de resistência. Com sarcasmo e com amor, parecem dizer estes poetas ao traduzir as vozes de um povo que sempre buscou caminhos para se tornar menos refém dos perpétuos desgovernos em cujas engrenagens nos enredamos desde o mais remoto passado ― do Brasil Colônia ao Brasil Império, da chamada República Velha ao século XXI. Revolta e protesto na poesia brasileira é publicado pela editora Nova Fronteira.
 
O novo romance de André Caramuru Aubert.
 
Estevão é um romance com quatro protagonistas – um homem, duas mulheres e um livro – no qual todos se relacionam entre si, mas não, necessariamente, ao mesmo tempo. São eles Estevão, Simone, Juliana e Estevão. Ambientada na cidade de São Paulo de nossos dias, a história por vezes viaja por outras épocas e lugares, seguindo os passos – e os projetos, os sonhos e as angústias – dos personagens. Quase uma marca registrada nos romances do autor, os personagens deste livro são seres urbanos, de classe-média, com anseios culturais e permanentemente em busca de um sentido para suas vidas. Este é o sexto romance de André Caramuru Aubert, historiador de formação, e autor poemas e ensaios, além de tradutor. O livro é publicado pela Faria e Silva.
 
O segundo volume de Musicage.
 
John Cage é um artista anárquico, revolucionário, inquieto e paradoxal. Na música, desorganizou a hierarquia dos sons, criou o piano preparado e, entre outras coisas, utilizou o ruído e o silêncio como elementos musicais. O silêncio era para ele uma ideia abrangente de possibilidade de escuta. Ele escreveu livros em que a simplicidade, o humor e o pensamento complexo se misturam com a mesma des-importância. Sob influência do pensamento zen, já mais velho e com disposição alegre de aprendiz, começou a trabalhar com gravuras, pinturas e desenhos. A arte, em Cage, é possibilidade de encontro com o desconhecido, de ação e intervenção cotidianas, uma forma de “imitar a natureza em seu modo de proceder”. Entre 1990 e 1992, a filósofa Joan Retallack encontrou-se com John Cage para conversar sobre o trabalho do artista nas diferentes áreas — escrita, artes visuais e música. Musicage é o resultado desse encontro. As conversas mostram, de modo espontâneo e vivo, o pensamento de Cage sobre a vida e os processos artísticos, seus e de contemporâneos. No Brasil, o livro sai em três volumes: Musicage — palavras, lançado em 2015; Musicage — artes visuais, agora publicado, e, para fechar, Musicage — música, que será publicado em breve. É uma delícia acompanhar essas conversas que saem da sala de Cage e invadem nossas percepções e nossos desejos com a vitalidade desse pensamento/ação extremamente singular e transformador. Joan conhece a fundo a trajetória e os trabalhos do compositor, os vemos pensar juntos, como ele gostava de dizer — esfregando informação em informação. Com tradução Daniel Camparo Avila, o livro é publicado pela editora Numa.
 
Novo romance de Pedro Mairal chega aos leitores brasileiros.
 
Juan Salvatierra, um pintor mudo, humilde e autodidata, deixa aos filhos uma misteriosa obra de arte como herança: um imenso mural que ocupa quase quatro quilômetros de rolos de tecido, produzido em segredo até o dia de sua morte. Miguel, o filho mais novo, é o principal encarregado de tomar algumas providências em relação à inusitada obra: resgatá-la do armazém onde estava guardada (ou abandonada) e providenciar sua transferência para um museu holandês. Começa então o trabalho de decifrar a obra. Ele se vê retratado em um dos pergaminhos quando pequeno, circunstância que lhe traz uma pequena — porém marcante — surpresa emocional, por não esperar tanta atenção do pai. E percebe que falta uma parte da obra, cuidadosamente datada. Decide assim ir em busca do que falta e, junto com o irmão Luis, descobre cenas reveladoras de um homem diferente daquele que os mais próximos julgavam conhecer. Publicado originalmente em 2008, Salvatierra é um dos romances mais admirados do argentino Pedro Mairal. Com precisão, sobriedade e lirismo, o autor de A uruguaia explora sutilmente as ligações entre o passado e o presente, entre pais e filhos e entre vida e arte. Uma narrativa evocativa, e cheia de ressonâncias, sobre a verdadeira aventura que envolve o acesso ao mais íntimo daqueles que nos são próximos. O livro é publicado pela editora Todavia com tradução de Mariana Sanchez.
 
Romance do escritor galego Carlos Quiroga ganha edição no Brasil.
 
Fractal está estruturado em sucessões de fragmentos, nos quais seus personagens assumem e triangulam, cada um a seu tempo e em diferencial estilo, a narrativa intervalada à volta doutro personagem, fora de foco, cuja dramática história vai sendo descortinada. O estilo dos depoimentos, em forma de diário ou testemunho, despe a intimidade de suas trajetórias pessoais, as quais se entrelaçam no plano subjetivo ao longo do livro e constroem figuras humana marcantes e marcadas pelo caminho de cada um. Escrito em Galego, o livro oscila entre as variedades da língua que leva no mundo o nome de Portuguesa, e nos mostra em sua leitura quão irmanadas e ricas são na sua diversidade, e como as sutilezas expressivas delas, da Costa da Morte galega até o Brasil, passando pela Lusitânia que a levou por aí fora, escancara a expressividade da outra. O livro é publicado pela Faria e Silva.
 
REEDIÇÕES
 
Para os 40 anos da primeira edição A cor púrpura, José Olympio publica livro especial.
 
Trata-se de uma versão capa dura e com pintura trilateral que inclui um prefácio inédito da autora além de textos de Stephanie Borges e Carla Akotirene. Obra-prima da premiada escritora Alice Walker, A cor púrpura conta a história de Celie, uma mulher negra que vive no Sul rural dos Estados Unidos, durante o período de segregação racial. A jovem sofre os mais diversos tipos de violência de seu padrasto e do homem com quem é obrigada a se casar. Mas sua vida muda consideravelmente após a chegada de Shug Avery, amante de seu marido, que a ajuda a descobrir mais sobre si mesma. Abordando a desigualdade entre os gêneros, o racismo, a misoginia e a desigualdade social, a narrativa é construída por meio das cartas escritas por Celie a Deus e a sua irmã, Nettie, de quem foi obrigada a se separar. A linguagem utilizada por Alice Walker é extremamente lírica, em consonância com a grande marca da protagonista: sua extrema sensibilidade e delicadeza, que resistem às situações adversas em que vive. Ao escrever este aclamado livro, a autora presenteou os leitores com alguns dos personagens mais marcantes da literatura norte-americana. Não por acaso, a obra foi adaptada para o cinema por Steven Spielberg, com Whoopi Goldberg no papel principal, e indicado ao Oscar, além de ter sido encenada na Broadway.
 
Caixa reúne quatro obras de Adélia Prado.
 
A edição de luxo inclui caixa com formato diferenciado, novas capas impressas em papel especial e folheto com conteúdo adicional inédito e exclusivo escrito pela atriz Elisa Lucinda, para quem a poética de Adélia Prado “mais revolucionária é o conceito aparentemente blasfêmico, mas fundado no mais genuíno amor, é a consciência de que o erótico não nos afasta de Deus e de que estar em contato com ele é, sobretudo, uma experiência sensorial”. Os quatro livros mais decisivos da trajetória poética de Adélia Prado estão aqui: Bagagem, O coração disparado, A faca no peito e Oráculos de maio. Publicação da editora Record.
 
Edição especial celebra a principal obra de John Fante.
 
Na Los Angeles dos anos 1930, num quarto de um hotel barato em Bunker Hill, vive Arturo Bandini. O jovem ítalo-americano deixou a casa dos pais em Boulder, Colorado, na intenção de se tornar o grande escritor que ele tem a certeza de ser. Levou só duas malas, uma delas carregada de exemplares de seu mais importante feito literário até então: o conto “O cachorrinho riu”, publicado em revista pelo seu editor e herói pessoal, J. C. Hackmuth. Com o dinheiro acabando e em meio a uma escassez criativa que teima em frustrar suas convicções, ele se vê às voltas com uma paixão obsessiva por Camilla Lopez, uma garçonete mexicana que sonha conseguir um bom marido e deixar o emprego. Juntos eles passam a viver uma relação conturbada, baseada em desejo, ciúmes, desprezo, amor e ódio. Bandini passa seus dias imerso numa cidade caótica que ganha vida própria na escrita de John Fante, um dos principais nomes da literatura estadunidense do século XX. Tanto a força da voz de seu protagonista quanto sua vívida representação da cidade de Los Angeles fazem de Pergunte ao pó a obra mais icônica de Fante e uma leitura incontornável. A edição especial editada pela José Olympio tem capa dura com pintura trilateral e prefácio inédito de Claudio Willer, poeta e especialista na geração beat.
 
Nova edição do livro de recortes da obra de Clarice Lispector.
 
Clarice Lispector é uma das personalidades mais citadas na mídia e nas redes sociais, pelas características de suas frases. Embora dentro do contexto de cada romance, conto, crônica ou carta, as citações têm isoladamente vida própria, musicalidade e sentido poético. Reunindo mais de 4500 frases de sua autoria, As palavras e o tempo dirime as dúvidas e oferece aos leitores vislumbres de todos os livros de Clarice, servindo de convite à descoberta de sua literatura. Nesta edição acrescentamos 180 novas citações destacadas e atualizadas com as últimas publicações de sua obra. Esta é uma coletânea que pode ser consultada ao acaso, como quem abre um livro sagrado em busca de orientação para um enigma específico, propiciando ao leitor um primeiro contato com as dúvidas e descobertas refletidas no espelho fiel da alma e do eu profundo de Clarice: a escrita. O livro é reeditado pela editora Rocco.
 
Nova edição de A força das coisas, de Simone de Beauvoir.

O fim da Segunda Guerra Mundial, a França liberta do poder hitlerista e o recomeço da Europa são o ponto de partida para o terceiro livro de memórias de Simone de Beauvoir. Em A força das coisas, ela nos relata sua experiência como pensadora consagrada, numa escrita sóbria e madura. A autora remonta belas histórias de viagens (à Espanha e à Áustria, por exemplo) e o cotidiano da intelectualidade francesa, com montagens de peças, publicações de livros, divulgação de manifestos em revistas, enfim, o soerguimento das manifestações culturais no pós-guerra. Simone dedica ainda parte desta obra a suas impressões sobre o Brasil, a partir de sua visita com Sartre, guiada por Jorge Amado. Esta edição conta com a tradução de Maria Helena Franco Martins e traz um prefácio inédito da professora e pesquisadora Magda Guadalupe dos Santos. O livro reeditado pela editora Nova Fronteira integra agora a Coleção Biblioteca Áurea.
 
A Nova Fronteira publica nova edição de O lustre, de Clarice Lispector.
 
Esta é a história de Virgínia, que começa na Granja Quieta de Brejo Alto, ambiente de sua infância e juventude. O alvorecer de uma vida em meio a conflitos familiares. Adulta, Virgínia reside sozinha na cidade, onde continua sendo quem é, sensível, ingênua, em meio aos seres e coisas do mundo. Esses dados circunstanciais servem apenas para delinear o que é mais importante na obra de Clarice Lispector: a linguagem. Sua maneira de contar histórias, de escrever, de desvendar a vida íntima de seus personagens. Personagens tão humanos, tão cotidianos, porém tocados por uma estranheza que é a mesma da romancista, com suas fundas inquietações existenciais, que fizeram dela uma das maiores escritoras do século XX e com crescente público nas últimas décadas. A nova edição de O lustre, de Clarice Lispector, inclui prefácio de Beatriz Damasceno.
 
DICAS DE LEITURA
 
Há duas edições deste Boletim iniciamos — por ocasião de uma série de conteúdos sobre Dante Alighieri aquando lembramos os setecentos anos sobre a morte do poeta italiano — uma sequência como algumas dicas de leitura da obra e sobre. Começamos com três recomendações de três traduções diferentes para A divina comédia e depois uma lista de outros livros também escritos pelo autor e interessantes para o leitor interessado em compreender alguns meandros da grande obra e um pouco mais do pensamento de Dante. E estas são as últimas: obras sobre Dante.
 
1. Dante, de Alessandro Barbero. É óbvio que não existem biografias definitivas, ainda que as editoras e os leitores assumam isso como um valor definidor de uma obra bem elaborada ou a mais completa. Este trabalho do historiador e ensaísta italiano tem recebido de todas as partes onde se publica a reiterativa marca que faz desse livro o mais destacado na bibliografia recente sobre a vida de Dante Alighieri. Barbero analisa o biografado desde a relação familiar, passando por sua ampla formação intelectual e se detendo sobre os anos de composição de A divina comédia. Trata-se de uma leitura que ora recupera a noção de gênio absoluto ora a de homem do seu tempo. A tradução brasileira é de Federico Carotti e aparece publicada pela Companhia das Letras.
 
2. Vida de Dante, de Giovanni Boccaccio. Este é um texto de valor incomensurável na bibliografia passiva de Dante Alighieri. Escrito por volta de 1350 é um dos tratados mais próximos ao poeta de A divina comédia e também uma das primeiras leituras mais originais a um só tempo biográficas e sobre a obra e concepção criativa de Dante. É um trabalho nascido da admiração de um excepcional escritor por outro, exercício, portanto, que ora nos revela sobre Dante e sobre o próprio autor do Decamerão. Boccaccio redige este tratado depois de assumir uma cátedra de leitura da Comédia; concebe um texto que seria introdução para a compilação das obras de Dante e que findou se tornando uma peça independente marcada pela defesa da poesia e estabelecimento das bases definitivas do gênio. A Penguin / Companhia das Letras publicou a tradução de Pedro Falleiros Heise.
 
3. Nove cartas sobre a Divina Comédia, de Marco Lucchesi. O percurso neste livro que finalmente ganhou uma alentada reedição em 2021 pela editora Bazar do Tempo é o de uma possibilidade de leitura que reitera a contemporaneidade dessa que é uma obra-prima da literatura ocidental. São nove ensaios em que o também poeta estabelece uma ponte triangular, entre o poema, o poeta e o leitor. A vantagem aqui é uma leitura descarnada de uma matriz crítico-teórico capaz de adestrar o ponto de vista e o conteúdo da obra. A edição se completa com um conjunto de imagens selecionadas pelo designer Victor Burton: são sessenta obras que perfazem do século XIV até os tempos atuais.
 
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
 
1. Esta semana reunimos em nossa página no Tumblr um conjunto de preciosas imagens construídas pela artista Elena Trofimova para uma edição russa de 1985 de Vita nuova, outra obra essencial Dante Alighieri. Veja aqui
 
BAÚ DE LETRAS
 
1. A 2 de outubro de 1925, nasceu José Cardoso Pires, uma das figuras mais importantes para a literatura portuguesa do século XX. Recordamos duas entradas entre as várias dedicadas ao escritor e sua obra neste blog: a leitura de Pedro Belo Clara sobre De profundis, valsa lenta; e a de Pedro Fernandes sobre O delfim, talvez o romance mais importante da obra de Cardoso Pires.

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* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas. 

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