Boletim Letras 360º #441
DO EDITOR
1. Caro leitor, aqui estão as
notícias que circularam nos últimos dias na página do Letras no Facebook e a atualização
das demais seções deste Boletim, com outras dicas de leituras e informações.
2. Nossa campanha para arrecadar fundos
para cobrir despesas com o domínio e a hospedagem do Letras na web,
continua (há informações aqui no Facebook e aqui no Instagram.)
3. A todos que acompanham o blog e
de alguma maneira ajudaram até agora, muito obrigado! E, obrigado sempre, pela
companhia!
Patricio Pron. Foto: Jeosm. |
LANÇAMENTOS
Uma antologia para recolocar a obra de Olga Savary em circulação.
Olga Savary não foi uma, mas
várias: a poeta movida pela natureza do Pará, seu estado natal; a praticante de
haicais; a autora dividida entre a carne e a imaginação. Esta antologia cobre
toda a carreira da escritora, apresenta de forma panorâmica todas as suas
múltiplas vertentes e oferece uma nova porta de entrada para uma obra potente e
significativa. O livro coloca novamente uma autora imprescindível em cena.
Dessa vez, para nunca mais desaparecer. A antologia Coração subterrâneo
é publicada pela editora Todavia.
O retorno de Aldous Huxley ao
Admirável mundo novo.
Quase trinta anos após lançar sua
obra-prima e um dos monumentos da ficção científica, Aldous Huxley retorna ao
seu Admirável mundo novo. Neste livro, Aldous Huxley se propõe a avaliar
as previsões de sua obra original e trata sobre ameaças à humanidade, tais como
a superpopulação, a manipulação genética e psicológica, o uso de drogas
prescritas como forma de controle social, e a ascensão de regimes autoritários.
Huxley compara sua distopia com a de George Orwell, de quem fora professor, e
coloca lado a lado acertos e erros de ambas. Alguns dos temas de seu Admirável
mundo novo permanecem atuais e urgentes neste seu Retorno, publicado em
1958. São assuntos que ainda repercutem em nosso tempo, como o reforço positivo
de comportamentos e a flexibilização da noção de verdade. E de que forma atuam
as redes sociais senão como reforços de boa conduta e espaço para veiculação de
mensagens falsas? Ao lançar questões para o futuro, propõe que as nações devem
educar seus cidadãos para a liberdade, sob risco de caírem na mão de ditaduras.
A nova edição traz notas que contextualizam dados e informações do texto
original, e um posfácio escrito por Carlos Orsi, pesquisador do Instituto Questão
de Ciência, que contextualiza o exercício especulativo de Huxley e também
propõe debates para o nosso tempo, como a manipulação emocional da publicidade,
a tecnologia a serviço do controle total, e o efeito de hipnose das redes
sociais. A tradução é de Fábio Fernandes. E o livro é publicado pela Biblioteca
Azul / Globo Livros.
Novo livro no catálogo da
editora Mundaréu é da escritora romena Tatiana Ţîbuleac.
Aleksy sempre recordará aquele
verão que passou sozinho com sua mãe em um vilarejo francês, mesmo muitos anos
depois. Quando ela foi buscá-lo no instituto, seu ódio, rancor de desprezo por
ela o impediam de sequer imaginar que poderia ser um verão marcante, muito
menos que ódio, desprezo e rancor pudessem ter outras formas. A força narrativa
de Tatiana Ţîbuleac se propõe a desvelar camadas após camadas nas relações
familiares, em um testemunho inusitado da hipossuficiência e relevância das
relações entre mãe e filho, sem concessões a convenções ou sentimentalismos. O
verão em que mamãe teve olhos verdes é traduzido por Fernando Klabin e tem
prefácio de Silvia Naschenveng.
Cinco ensaios do filósofo
húngaro György Lukács sobre Goethe.
Goethe e seu tempo é
décima obra da coleção Biblioteca Lukács editada pela Boitempo. O livro traz um
conjunto de cinco ensaios do filósofo húngaro escritos durante a década de 1930
e dedicados à obra de Johann Wolfgang von Goethe. Considerado um dos pontos
culminantes da literatura humanista burguesa, Goethe tem sua trajetória
esmiuçada e contraposta à de outros contemporâneos seus, em uma análise
engajada do grande romance moderno e de seu conteúdo progressista. Os dois
primeiros textos tratam de obras específicas de Goethe e sua construção, ao
passo que os três seguintes discutem o contexto social e literário no qual o
escritor estava imerso, propondo percepções originais a respeito das
motivações, contradições e desafios enfrentados por sua obra. A tradução é de Nélio Schneider com a
colaboração de Ronaldo Vielmi Fortes.
Peça de Oduvaldo Vianna Filho
sintetiza as dificuldades do engajamento político, as disputas em torno das
diferentes correntes estéticas e os dilemas éticos e materiais enfrentados pela
esquerda brasileira a partir da ruptura institucional de 1964.
Escrito em 1965, este texto traz à
cena os embates do protagonista Lúcio Paulo com os demais integrantes de um
coletivo teatral do qual participa. Além das disputas por protagonismo, dos
conflitos amorosos e dos desentendimentos políticos e estéticos entre os
membros do grupo, a peça retrata os embates do jovem com seu pai, Cristóvão, um
funcionário público que, aborrecido com os frequentes pedidos de empréstimo por
parte do filho, o pressiona a trabalhar em um escritório de advocacia, no qual
se forjam atas de assembleias que sequer ocorreram. Concebida por meio de
frequentes cortes sequenciais, quase cinematográficos, Moço em estado de
sítio sintetiza as dificuldades do engajamento político, as disputas em
torno das diferentes correntes estéticas e os dilemas éticos e materiais
enfrentados pela esquerda brasileira a partir da ruptura institucional de 1964,
com o advento do golpe civil-militar, antecipando elementos de peças
posteriores de Oduvaldo Vianna Filho, como Mão na luva e Rasga
coração. A peça é publicada pela Temporal Editora.
A fabulação lado a lado com o
ensaio no livro de Juliano Garcia Pessanha.
Escrito com mão levíssima,
alternando humor, melancolia e uma aguda meditação sobre os grandes temas que
nos movem ao longo das fases da vida, este é um romance híbrido, em que a
fabulação vem lado a lado com o ensaio, e a observação das paixões humanas está
a par com um repertório vasto a respeito das maiores discussões da filosofia.
E, de quebra, uma cachorrinha serve de inusitada plateia para discussões sobre
Heidegger. O filósofo no porta-luvas, de Juliano Garcia Pessanha é
publicado pela editora Todavia.
Coletânea reúne contos
clássicos da literatura russa juvenil do fim do século XVIII ao início do XX.
A primeira escritora para os
pequenos russos foi ninguém menos que Catarina II. Nada mais historicamente
justo do que começar nossa viagem por seu “Conto do tsarévitche Cloro”, que,
com elementos universais e folclóricos, tornou-se um dos mais conhecidos textos
da imperatriz. Seguindo a trilha dos contos populares, estão Nikolai Leskóv,
com um relato embebido de cultura russa, e Fiódor Sologub, com um conto
maravilhoso para jovens. Lidas e relidas por gerações de russos, as histórias
tocantes de “Mumu”, de Ivan Turguêniev, e “Vanka” e “O fugitivo“, de Anton
Tchékhov, desvelam fraturas sociais. Impressionado com os dois contos de Tchékhov,
Lev Tolstói os lia em voz alta para seus filhos, sendo ele mesmo um dedicado
escritor para a infância e a juventude. No seu cinematográfico “O prisioneiro
do Cáucaso“, acompanhamos o clássico embate entre russos e tchetchenos ou entre
colonizadores e colonizados. Dois admiradores confessos de Tchékhov aparecem
também com textos de viés social: Lídia Avílova, que, atenta ao universo
infantil, descreve o primeiro dilema ético de uma criança, e Aleksándr Kuprin,
que narra a amizade entre uma menina e um elefante e a vida dura de uma trupe
de saltimbancos. A autora que mais causava sensação entre jovens russas do
início do século XX, Lídia Tchárskaia, retrata protagonistas femininas com
delicadeza em “A prova” e “A mãe”. Na vertente mais lúdica do livro, Odóievski
encanta com uma viagem fantástica através de um caixinha de música, e Sacha
Tchórny e Daniil Kharms anunciam o mundo contemporâneo com textos inventivos,
cheios de graça e humor. As histórias nos fazem rir e chorar, nos levam para
reinos distantes, para a costa da Crimeia, para as montanhas do Cáucaso, para
as mais diversas paisagens imaginadas por artistas russos tão diversos quanto
talentosos. Com tradução de Irineu Franco Perpetuo, Moissei Mountian e Tatiana
Larkina, o livro organizado por Daniela Mountian é publicado pela editora
Kalinka.
Juntas duas obras-primas de
Arthur Rimbaud.
Esta edição reúne as duas
obras-primas rimbaudianas: Um tempo no inferno (1873) — a única obra que
o autor publicou em vida, numa tiragem pequena, em parte financiada por sua mãe
— e Iluminações, com textos escritos até 1875, estão entre os pontos
mais altos do poema em prosa. E vão além disso: parecem ora anunciar a
autoficção, ora grandes autores da modernidade, como André Breton, James Joyce,
Andrei Biéli e Samuel Beckett. A tradução é de Júlio Castañon Guimarães e o
livro é publicado pela editora Todavia.
Uma espécie de arca que recolhe
alguns dos livros censurados ou apreendidos na ditadura civil-militar
brasileira.
Cadernos do povo brasileiro, de
Leila Danziger, é uma espécie de arca que recolhe alguns dos livros censurados
ou apreendidos na ditadura civil-militar brasileira, associando-os aos rostos,
rastros e nomes dos que foram vítimas da violência de Estado, não apenas sob os
governos militares, mas também, recentemente, nas periferias das grandes
cidades. A publicação apresenta uma versão da instalação Perigosos,
subversivos, sediciosos (Cadernos do povo brasileiro), realizada pela artista
em 2017 para a mostra coletiva “Hiatus: a memória da violência ditatorial na
América Latina”, apresentada no Memorial da Resistência, em São Paulo, com
curadoria de Márcio-Seligmann-Silva, professor da UNICAMP e autor de um dos
ensaios do livro, que conta também com um texto de Luiz Cláudio da Costa,
orelha de Marisa Flórido César e uma breve apresentação de Leila Danziger. O
título da publicação faz referência a uma coleção publicada pela Civilização
Brasileira, no início da década de 1960. A editora de Ênio Silveira foi uma das
mais atingidas pela censura no Brasil. Cadernos do povo brasileiro, de
Leila Danziger, é publicado pela Relicário Edições.
Um dos principais poetas de sua
geração, Francisco Malmann se lança em narrativa mais longa para contar com
humor e desespero o fim de um relacionamento.
É impossível atribuir a uma
etiqueta a Tudo o que leva consigo um nome, de Francisco Mallmann. É poesia,
novela ou performance? A voz que marca todo o livro é de um homem, de uma
mulher ou de uma pessoa não binária? Esse é um livro atravessado pelo amor ou
pelo ódio? É uma comédia ou um drama? Trata-se de política ou de algo mais
trivial? Em vez de se fixar em um único caminho, Mallmann nos mostra as várias
possibilidades da linguagem, com fluidez e sensibilidade. O Estado de S.
Paulo afirmou sobre o poeta: “Seus textos são sintomas das dores coletivas.”
Mallmann, que transita entre escrita, performance, artes visuais e teoria,
ganhou notoriedade no Instagram com suas bandeiras, que estampam versos como
“AMÉRICA/É MARICA”. Seu primeiro livro, Haverá festa com o que restar,
recebeu o terceiro lugar do Prêmio da Biblioteca Nacional e foi finalista dos
prêmios Rio de Literatura e Mix Literário. Tudo o que leva consigo um nome
é um livro leve e ao mesmo tempo profundo. Ideal para todas as pessoas que não
têm medo de atravessar fronteiras e amam uma boa história. O livro é publicado
pela editora José Olympio.
Nova edição da coletânea de
contos de um dos mais notáveis militantes do movimento negro brasileiro, com
prefácio de Mário Augusto Medeiros da Silva e ilustrações de Marcelo D'Salete.
Publicado pela primeira vez em
1972, O carro do êxito é o único livro de contos de Oswaldo de Camargo,
um dos mais notáveis intelectuais negros do século XX. A obra apresenta uma
perspectiva pouco usual na literatura brasileira: personagens negros não apenas
na luta, mas no triunfo. O título — alusão ao poema de Mário de Andrade, “O
carro da miséria” — é uma prévia de histórias que retratam o negro descobrindo
que “é possível ser na vida, apesar dela”, como afirma o sociólogo Mário
Augusto Medeiros da Silva no prefácio desta edição. As catorze narrativas reunidas neste
volume, que conta com ilustrações de Marcelo D'Salete, mesclam a ficção e as
experiências do escritor, tendo como pano de fundo a vida urbana em São Paulo.
O leitor é levado por Camargo — e Lírio da Conceição, um dos personagens que
perpassam a coletânea — a um orgulhoso passeio pelas redações da chamada
Imprensa Negra, pelos eventos da Associação Cultural do Negro e por diálogos
essenciais sobre raça e identidade. Esta nova edição recupera o trabalho de
Oswaldo de Camargo iniciado nos anos 1970, com questões incontornáveis como
negritude, militância e representação, e prova que O carro do êxito é
fundamental não apenas para o debate e a luta antirracistas, mas para a
literatura brasileira como um todo. O carro do êxito é publicado pela Companhia das Letras.
Nova tradução de um dos textos
clássicos da literatura grega do século IV a. C.
Para medir a influência da Ciropédia na cultura ocidental, basta lembrar
alguns de seus maiores admiradores. Muito antes de se difundir como leitura
obrigatória de empresários interessados em lições de liderança, a obra de
Xenofonte sobre a vida do imperador persa Ciro já contava com leitores ilustres:
ainda na Antiguidade, Alexandre, o Grande, e Júlio César aprenderam com o
texto, que séculos depois também serviria de inspiração para filósofos
iluministas como Rousseau e Montaigne. É sabido que Thomas Jefferson tinha dois
exemplares do livro em sua biblioteca. Mas o beneficiário mais notório de
Xenofonte foi certamente Maquiavel, cuja obra mais famosa, O príncipe, talvez
não existisse tal como a conhecemos sem o legado da Ciropédia. Consciente
de que “o homem, por natureza, de todos os animais é o mais difícil de ser
governado pelo homem”, Xenofonte, que lutou no Exército persa um século após as
conquistas do grande imperador, fez da “educação de Ciro” uma mescla de
biografia e exaltação, extraindo dela ensinamentos que perduram até hoje. Traduzido
do grego antigo por Lucia Sano, professora de língua e literatura gregas da
Unifesp, a edição conta com texto de orelha de Renato Janine Ribeiro, para quem
“nunca há liderança sem alguma aceitação, admiração e, por isso, obediência.
Essa já é uma boa razão para lermos este livro, prestando atenção no que mudou
— ou não — 2 600 anos depois da educação de Ciro”. A edição é da Fósforo.
Mario Prata comemora sessenta
anos de carreira em um divertido romance sobre o mito de origem do esporte mais
amado do Brasil.
O que você sabe sobre a origem do
futebol? Inventado pelos ingleses, o que o liga a chineses e florentinos? Como
se calcula o tamanho do gol, quem teve a brilhante ideia de usar a bola, como
foram criadas as regras fundamentais do esporte mais popular do mundo? E
afinal, o que a sala de maconha ― que existe mesmo no Palácio de Buckingham! ―
tem a ver com essa história? Para contá-la, trocando passes entre o real e o
imaginário, mesclando personagens históricos e fictícios em improváveis
tabelinhas, Mario Prata nos transporta para a Universidade de Cambridge, na
Inglaterra de 1859, usando como narrador um tal John H. Watson ― ainda apenas
um professor de Educação Física, mas que anos depois ficaria mundialmente
conhecido como o futuro parceiro de Sherlock Holmes. Revelando detalhes sobre
os primórdios do futebol que nem os britânicos conhecem, e turbinando-os com
privilegiado senso de humor, O drible da vaca combina imaginação livre e
pesquisa profunda, inspiração e transpiração. O resultado é um gol de placa,
que diverte e surpreende a todos. O livro é publicado pela editora Record.
A partir das memórias
familiares e da figura do próprio pai, Mia Couto tece este belo romance que
transita entre a Moçambique pré e pós-independência.
Diogo Santiago é um intelectual
moçambicano respeitado e de muito prestígio. Professor universitário em Maputo
e poeta, ele volta pela primeira vez em anos à Beira, sua cidade natal, às
vésperas do ciclone que a arrasou em 2019, para receber uma homenagem de seus
conterrâneos. Mas o regresso à Beira é também o regresso a um passado
longínquo, à sua infância e juventude, quando Moçambique ainda era uma colônia
portuguesa. Menino branco, ele é filho de um pai jornalista e poeta, e de uma
mãe absolutamente prática e com os pés no chão. Do pai, recorda das viagens que
fez com ele ao local de terríveis massacres cometidos pela tropa colonial, da
perseguição e prisão pela polícia política, a PIDE, e, sobretudo, de seu amor
pela poesia. Entre vivos e mortos, Santiago revisita os personagens que fizeram
parte de sua história. O mapeador de ausências é publicado pela
Companhia das Letras.
Chega ao Brasil um segundo
romance de Patricio Pron.
Eles vivem em Madri nos dias de
hoje. Ela é arquiteta, tem medo de fazer projetos para o futuro e busca algo
que não consegue (ou não sabe direito) definir. Ele escreve ensaios, está com
ela há cinco anos e nunca pensou em ficar solteiro novamente, ainda mais em um
novo “mercado” sentimental no qual se sente deslocado e mesmo desatualizado. Pelas
rachaduras de seu colapso como casal imiscuem-se as amizades, seus conselhos e
suas vidas — quase sempre com muito mais dúvidas do que certezas. É a “geração
Tinder”, em que uma pessoa elimina toda e qualquer possibilidade de aproximação
com outra em apenas um passar de dedo. Uma geração em que todas as vidas estão
expostas e, no limite, todos parecem desencantados e sem objetivos. Os
estertores e o fim de um casal também dizem muito sobre um momento histórico e
uma série de ideias vigentes sobre o afeto. E a radiografia desse tempo é
difícil: mães e pais que se sentem obrigados a performar, novas tecnologias que
parecem reinventar a intimidade, experimentos de criação de uma autoimagem para
outros que muitas vezes nem sequer conhecemos. Ela e Ele, agora com quase
quarenta anos, começam a habitar esses novos espaços possíveis em paralelo, sem
lágrimas românticas mas com um forte anseio misterioso de que talvez um dia
seus caminhos voltem a se encontrar. A tradução de Amanhã teremos
outros nomes é de Gustavo Pacheco e o livro é publicado pela editora Todavia.
EVENTO
O Instituto Moreira Salles organiza exposição sobre Carolina Maria de Jesus.
A exposição “Carolina Maria de
Jesus: Um Brasil para os brasileiros” é dedicada à trajetória e à produção
literária da autora mineira que se tornou internacionalmente conhecida com a
publicação de seu livro Quarto de despejo, em agosto de 1960. Tem
como objetivo apresentar sua produção autoral que incluiu a publicação, em
vida, de outras obras. Além de destacar suas incursões como compositora, cantora,
artista circense. Uma multiartista. A exposição tem curadoria do
antropólogo Hélio Menezes e da historiadora Raquel Barreto, com a colaboração
de uma equipe externa e autônoma ao IMS na elaboração do projeto. A pesquisa
literária nos manuscritos inéditos da escritora é feita pela doutora em letras
Fernanda Miranda. Com entrada gratuita, o evento abre no dia 25 de setembro de
2021 e segue até 30 de janeiro de 2022 no IMS Paulista. Mais informações aqui.
REEDIÇÕES
Clássico de João do Rio ganha
sua primeira edição anotada, contextualizando histórica e culturalmente o Rio
de Janeiro retratado sob o olhar de um dos maiores cronistas brasileiros.
Vida vertiginosa é uma das
maiores obras sobre a belle époque carioca. Nela, João do Rio lança um olhar
investigativo sobre o Rio de Janeiro, então capital de um Brasil em franco
processo de modernização. O prefeito Pereira Passos iniciou em 1903 uma série
de reformas higienistas, urbanísticas e de costumes, com o intuito principal de
adequar a cidade aos padrões de desenvolvimento europeus. A crônica pioneira de
João do Rio é resultado de suas deambulações, sua flânerie, por uma cidade
efervescente, em completa transformação. Publicado originalmente em 1911, Vida
vertiginosa é o testemunho criativo de um homem que registrava e pensava um
mundo novo que apenas se insinuava. Um mundo que, na profunda velocidade que
lhe é característica, não parou até hoje de multiplicar-se e acelerar-se na
vertigem. A atualidade do livro fala por si só: conduzidos por um dos maiores
cronistas brasileiros de todos os tempos, seus leitores e leitoras estão a um
passo de descobrirem-se personagens. As 25 crônicas reunidas nesta antologia
abordam temas como a competitividade no ambiente profissional, a realidade
paralela vivida nas favelas, o complexo de inferioridade como legado do passado
colonial, a decadência do sistema educacional, a crise da privacidade, o
feminismo nascente e a importância dada às aparências, aspectos já presentes na
sociedade da época. Esta é a primeira edição anotada desse clássico, construída
para que leitores e leitoras contemporâneos possam conhecer o contexto histórico
e cultural do Rio de Janeiro da belle époque. A edição conta ainda com
introdução, cronologia e bibliografia do autor. Todo o material de apoio é
assinado por Giovanna Dealtry, pesquisadora e professora de literatura
brasileira do Instituto de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ). O livro é publicado pela editora José Olympio.
Obra-prima do realismo inglês,
David Copperfield é o grande romance de formação de Charles Dickens
e seu livro mais pessoal.
Um dos maiores romances da
literatura mundial, David Copperfield tem entre seus leitores gerações
sucessivas de escritores do porte de James Joyce, Kakfa, Virginia Woolf e
Tolstói, para quem é fonte de inspiração permanente. A lista inclui também o
próprio Charles Dickens, que considerava o livro “seu filho favorito”. Publicada
como folhetim entre 1849 e 1850, a história é um clássico relato de formação de
um menino descobrindo um mundo que é, ao mesmo tempo, mágico, assustador e
terrivelmente real. Dickens constrói esse universo de forma brilhante,
emprestando a ele partes substanciais de sua própria biografia, mas usando como
amálgama a sua inventividade incomparável como ficcionista e as tintas mais
acuradas do realismo inglês do século XIX. Assim, seguimos a vida de David, desde
a sua infância pobre e difícil até a descoberta da vocação de escritor, numa
jornada repleta de aventuras cômicas, sentimentais e por vezes trágicas. É
impossível não se comover com o destino de David e não se deliciar com o
fabuloso elenco de personagens que cruzam e acompanham seu caminho — o padrasto
cruel Murdstone; o irresponsável Micawber; a frívola e encantadora Dora; e o
humilde porém traiçoeiro Uriah Heep. A nova edição inclui todas as 38
ilustrações originais de Phiz; tradução de Bruno Gambarotto e publicação da
Zahar.
Num único volume, toda ficção
escrita pelo autor chileno, desde sua estreia com o aclamado Bonsai até o inclassificável Múltipla escolha.
Alejandro Zambra é sem dúvida uma
das principais vozes da literatura mundial hoje. Neste volume, estão reunidos
de forma inédita Bonsai (2006), A vida privada das árvores
(2007), Formas de voltar para casa (2011), Meus documentos (2013)
e Múltipla escolha (2014). O livro traz ainda nove histórias dispersas,
publicadas em revistas, jornais e antologias. O que há em comum aqui é o tom,
cristalino, delicado, com que Zambra conduz suas tramas. “O tom é a sua grande
invenção”, anotou o argentino Alan Pauls, um dos que fazem parte da irmandade
cada vez mais numerosa de admiradores de Alejandro Zambra. Bonsai é a
história de um amor, o de Julio e Emilia, e é a história do fim deste amor. Não
seria errado dizer que é também uma história sobre a consciência do fim. Em A
vida privada das árvores, um homem, Julián, e sua enteada, Daniela,
distraem as horas enquanto esperam que a mãe da menina volte para casa. O
romance se passa numa única noite, e dentro dela estão uma série de histórias
sobre a vida das árvores — e sobre todos nós. O terceiro, Formas de voltar
para casa, marca uma virada, coloca em cena os anos 1970 no Chile, os anos
do golpe de Pinochet, mas também, e sobretudo, a década de 1980 e a geração
daqueles que eram crianças ou adolescentes durante a ditadura. Meus
documentos reúne onze romances de formação em miniatura; contos de amor e
descoberta, nos quais a intimidade se mescla ao ar sangrento do passado chileno
— o mesmo ar que se espalha por toda a radicalidade de Múltipla escolha.
Um conjunto impressionante de histórias perfeitas. Com traduções de Miguel Del
Castillo, Josely Vianna Baptista e José Geraldo Couto, o livro é publicado pela
Companhia das Letras.
Livro finalista do Prêmio São
Paulo de Literatura e primeira seleção do Prix Médicis Étranger, F traz uma narradora desumana e violenta para um debate extraordinário sobre
literatura, cinema e música.
O cineasta Orson Welles lançou sua
obra-prima, Cidadão Kane, aos vinte e cinco anos. Com a mesma idade, Ana, a
protagonista deste romance, planeja executar sua própria obra-prima: matar
Orson Welles. Assassina de aluguel conhecida pela sutileza na execução de seus
serviços, Ana mata porque tem talento e ganha bem por isso – mas prefere
trabalhos cujos alvos são pessoas de índole duvidosa. Não que isso faça
diferença: ela não acredita que o mundo possa vir a ser um lugar melhor. O que
importa, isso sim, é a arte — e, para Ana, matar é uma arte. Em seu plano
ambicioso para assassinar Welles, a jovem acaba se envolvendo em uma trama
complexa que sai de seu controle. Perdida entre memórias do passado e
alucinações do presente, ela não tem escapatória a não ser registrar no papel
tudo o que acredita ser verdade. Ambientado entre salas de cinema, discotecas e
quartos minúsculos em Paris, Los Angeles e Rio de Janeiro, F é um
romance feroz que celebra, de forma única, as fronteiras incontornáveis e
fluidas entre realidade e ficção. A nova edição do romance de Antônio Xexernesky é publicada pela Companhia das
Letras.
Trágico, sensual e cheio de vigor, Sula é um impactante relato sobre a amizade entre duas mulheres e a
pressão que a sociedade exerce sobre o desejo feminino. Uma das principais
obras da ganhadora do prêmio Nobel de literatura, este segundo romance de Toni
Morrison é obra inescapável da literatura mundial.
Quando meninas, Nel e Sula
compartilharam segredos e sonhos no pobre meio-oeste dos Estados Unidos. Mas
então Sula fugiu para viver seus sonhos e Nel se casou. Dez anos depois, Sula
retorna e ninguém, muito menos Nel, confia nela. Como é possível voltar a se
conectar com um passado que carrega tanta mágoa e um segredo tão profundo? Vista
como pária pelas pessoas que se ressentem de sua força, Sula é uma mulher
intransigente, uma força rebelde que desafia a pequenez de um mundo que tenta
controlá-la. Ao contar essa história, Toni Morrison explora, com a habilidade
literária que lhe é característica, o papel do medo em nossas vidas. Publicado
depois do aclamado O olho mais azul, Sula faz da amizade de duas
crianças negras em Ohio a janela para uma reflexão profunda sobre o poder que o
passado exerce no ser humano. A tradução de Débora Landsberg é publicada pela
Companhia das Letras.
DICAS DE LEITURA
Esta semana vamos aos ensaios. Aos
ensaios escritos por escritores e sobre obras de outros escritores. Os livros
selecionados nesta breve lista foram publicados recentemente entre nós.
1. Homo Poeticus, de Danilo
Kiš.
Em termos de recepção no Brasil, a obra do escritor sérvio padece de um curioso
paradoxo: é incensada pela crítica e quista pelos leitores, mas sua circulação
havia parado com dois livros no final dos anos oitenta do século passado. De
maneira que sua reentrada por essas terras não pode ser desprezada, sobretudo
quando o que nos chega é uma face ainda mais desconhecida de sua atividade
criativa — a do ensaísta. Jorge Luis Borges, Gustave Flaubert, Vladimir
Nabokov, Marquês de Sade e James Joyce estão entre alguns dos escritores
contemplados nas reflexões de Kiš. A tradução é de Aleksandar Jovanović e foi
publicada pela editora Âyiné.
2. Lições de Literatura e Lições
de Literatura Russa, de Vladimir Nabokov. Apresentados sempre juntos, estes
dois livros primorosos foram reeditados na estreia da editora Fósforo. No primeiro
encontramos, por exemplo, dois dos textos mais famosos do escritor russo: sua
leitura sobre Ulysses, de James Joyce e sobre A metamorfose, de
Franz Kafka. No outro, textos sobre, entre outros nomes, Nikolai Gógol, Ivan
Turguêniev, Fiódor Dostoiévski, Liev Tolstói, Anton Tchekhov e Maksim Górki.
Todo esse material resulta de um conjunto de aulas ministradas por Nabokov em
universidades estadunidenses entre os anos de 1940 e 1950. A tradução desses dois
volumes é de Jorio Dauster; cada livro da nova edição é enriquecido com alguns
textos de suporte.
3. Mecanismos internos e Ensaios
recentes, de J. M. Coetzee. A obra do escritor sul-africano não encerra apenas
nos limites do destacado romancista que conhecemos. O primeiro título de outra
casadinha publicada recentemente por aqui — esta pela editora Carambaia — já
era nosso conhecido. Reúne ensaios publicados entre 2000 e 2005, alguns como
prefácios de livros e outros na prestigiada New York Review of Books.
Walt Whitman, Willian Faulkner, Samuel Beckett, Saul Bellow, Gabriel García
Márquez, Nadine Gordimer, Günter Grass, V. S. Naipaul e Robert Musil são alguns
dos escritores contemplados nessas leituras. Junto com a reedição deste trabalho
traduzido por Sérgio Flaksman, este e a mesma casa editorial publicaram um
segundo volume com textos de Coetzee escritos entre 2006 e 2017; são vinte e
três ensaios que contemplam obras de autores como Gustave Flaubert, Liev
Tolstói, J. W. Goethe, Daniel Defoe, Philip Roth, Robert Walser, Samuel
Beckett, Ford Madox Ford, Antonio Di Benedetto e Patrick White.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Confluência dos astros? No dia
19 de agosto de 1929 nasceu Haroldo de Campos; um dia depois, dois anos antes,
Décio Pignatari. Os dois se juntariam mais tarde a Augusto de Augusto, para
compor um dos momentos de potência criativa na literatura brasileira.
Recordamos os dois aniversariantes nestas duas entradas do blog da Revista
7faces para alguns dos seus poemas: aqui, os de Haroldo de Campos; e aqui, os
de Décio Pignatari.
2. Uma maneira de traduzir a complexidade
de Finnegans Wake, romance de James Joyce publicado em 1939. Ximena Pérez
Grobet performa sobre neste trabalho que agora é parte do acervo da Thomas
Fisher Rare Book Library da Universidade de Toronto, no Canadá. Utilizando-se de
uma edição clássica de 1965 da Faber & Faber, o livro foi desmontado e
transformado numa peça de tricô; o tratamento respeita a ordem original das
páginas, preserva a mesma capa, mas suas dimensões foram estendidas: findaram
em quatro volumes cobrindo as quatro partes das 450 páginas da edição original.
É possível ver alguns registos do livro aqui e a performance neste vídeo.
BAÚ DE LETRAS
1. Esta semana publicamos em nosso
Twitter este poema de Fiama Hasse Pais Brandão. Recordamos que neste mês de agosto é aniversário da poeta portuguesa — ela
nasceu a 15 de agosto de 1938. No blog, o leitor encontra três publicações sobre
Fiama e em torno da sua obra: este breve perfil editado em 2008; este texto
sobre o seu livro Movimento perpétuo; e este ensaio que comenta aspectos
gerais da sua literatura.
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