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Mostrando postagens de agosto, 2021

A carta de Flaubert que inspirou “Memórias de Adriano”

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Por Manuel Llorente   “Quando os Deuses tinham deixado de existir e o Cristo ainda não viera, houve um momento único na história, entre Cícero a Marco Aurélio, em que o homem ficou sozinho.” Este fragmento da carta que Gustave Flaubert escreveu em 1861 (?) para Edna Roger des Genettes foi o que despertou em Marguerite Yourcenar a ideia que a levou escrever Memórias de Adriano (1951), seu romance mais conhecido. Assim pensou a escritora francesa: “Muito da minha vida passaria na tentativa de definir, depois de retratar, este homem sozinho e, ao mesmo tempo, ligado a tudo”.   O autor de Madame Bovary foi um livro aberto. Ao longo das quase 4.500 cartas preservadas, deixou amostras de como progredia, muito lentamente, em seus romances, as decepções, os projetos, as reflexões literárias ou mundanas. Devem ser lidas ao mesmo tempo que seus livros para compreender a complexidade de um escritor solitário, tenaz e desencantado. E durante anos marginalizado, até que em meados do século passad

Os clássicos marginais de Josefina Vicens

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Por Mercedes Halfon Josefina Vicens. Foto: Lourdes Almeida.   O livro vazio (trad. livre para El libro vacío ), de Josefina Vicens, foi catalogado de várias formas, mas a que mais lhe convém é a de “clássico marginal”. Editado na Cidade do México em 1958 e reconhecido como obra-prima por seus contemporâneos, teve, algum tempo depois, o incompreensível destino do esquecimento. Demorou vinte anos para que sua segunda edição, no final dos anos setenta, chegasse a novos leitores que puderam apreciar a estranheza, a vitalidade, a profundidade que está escondida em suas páginas.   Josefina Vicens é uma autora central para as letras mexicanas. Uma precursora de muitos motivos e preocupações que hoje soam mais forte do que nunca. A obra publicada na Argentina quase quarenta anos depois da segunda edição mexicana inclui também o segundo romance da escritora, o belo Os falsos anos (trad. livre para Los años falsos ), este publicado quase um quarto de século após a primeira. Digamos que sua aut

Seis poemas-canções de Zeca Afonso

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Por Pedro Belo Clara (seleção e notas adicionais)     Zeca Afonso. Foto: Arquivo do jornal Público . MENINA DOS OLHOS TRISTES 1   Menina dos olhos tristes O que tanto a faz chorar? O soldadinho não volta Do outro lado do mar.   Vamos senhor pensativo Olhe o cachimbo a apagar O soldadinho não volta Do outro lado do mar.   Senhora de olhos cansados Porque a fatiga o tear? O soldadinho não volta Do outro lado do mar.   Anda bem triste um amigo Uma carta o fez chorar O soldadinho não volta Do outro lado do mar.   A lua que é viajante É que nos pode informar O soldadinho já volta Do outro lado do mar.   O soldadinho já volta Está mesmo quase a chegar Vem numa caixa de pinho Desta vez o soldadinho Nunca mais se faz ao mar.     CANTAR ALENTEJANO 2   Chamava-se Catarina O Alentejo a viu nascer Serranas viram-na em vida Baleizão a viu morrer   Ceifeiras na manhã fria Flores na campa lhe vão pôr Ficou vermelha a campina Do sangue que então brotou   Acalma o furor campina Que o teu pranto não fin

Boletim Letras 360º #442

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    DO EDITOR   1. Caro leitor, numa das postagens desta semana no Twitter foi levantada a hipótese de encerrar as atividades deste Boletim a partir de 2022. Isso ainda não é coisa certa, mas passa pelo horizonte dos interesses. E o motivo mais simples é: esta é a publicação mais trabalhosa e a que rende menos retornos (quando era para ser o contrário). Basta dizer que, das editoras, por exemplo, salvas raríssimas exceções, o blog não recebe absolutamente nada — se não importunação porque divulgou-se isso e não aquilo, silêncio e porta na cara quando batemos em procura de ajuda, como fizemos ao longo dos últimos meses com nossa campanha de levantar fundos para cobrir despesas com o domínio e hospedagem do blog na web . Ou seja, querem vender e só vender. É triste, mas algumas verdades precisam ganhar forma; esse mundinho glorioso que quem está do outro da tela acredita, é puro engodo. A mentalidade do mercado editorial brasileiro é necrosada. Mais interessante que investir em espaços s