Boletim Letras 360º #421
DO EDITOR
1. Saudações, caro leitor! Estas
foram as notícias apresentadas durante a semana na página do blog Letras
in.verso e re.verso no Facebook e o conteúdo das demais seções de leitura
criadas em momento posterior à existência deste Boletim. Reitero os
agradecimentos pela companhia do nosso trabalho. Espero que você esteja, dentro
do possível são e seguro. Boas leituras!
Yoko Ogawa. Foto: Hashino Yukinori. Premiado livro da escritora japonesa ganha edição no Brasil. |
LANÇAMENTOS
O livro de Yoko Ogawa finalista
do International Book Prize 2020 e do National Book Awards 2019 é publicado no
Brasil pela Estação Liberdade.
Em A polícia da memória,
publicado originalmente em 1994, o leitor é conduzido ao submundo das memórias
perdidas. Em tom de ficção cientifica, uma ilha governada por policiais que
buscam vestígios de lembranças. Na ilha, os objetos, casas, e famílias inteiras
somem sem deixar vestígios. Sem que as pessoas sequer se atentem, e notem os
desaparecimentos, pois as lembranças furtivamente também já se foram. Na trama,
uma escritora tenta manter intactos resquícios de histórias, de algo que possa
permanecer. Não é fácil, já que tudo ao redor desaparece, e ela não pode contar
sequer com a própria memória. O leitor é convidado, instintivamente, a acessar
o seu próprio arcabouço de lembranças, e percorre uma jornada de memórias que
gostaria de preservar. Acessar as memórias é acessar, também, o que criamos e o
que se mistura ao real. A tradução direta do japonês é de Andrei Cunha.
Para Isaac Asimov este livro é “a melhor introdução que se pode encontrar
sobre a maneira de perceber as dimensões”.
Planolândia é um mundo
bidimensional, habitado por formas geométricas que não conhecem dimensões além
de comprimento e largura. Submetidos a um regime autoritário, misógino e
clerical, estes círculos e polígonos são incapazes de imaginar a existência de
uma terceira dimensão. Quando um estranho visitante aparece misteriosamente e
transporta o incrédulo Quadrado para a Espaçolândia, sua visão de mundo é
destruída para sempre. Sátira social, ficção científica e teoria matemática,
Planolândia é uma paródia brilhante da sociedade vitoriana, uma obra que
continua a levantar questões provocativas sobre percepção e realidade. Planolândia:
um romance de muitas dimensões, de Edwin Abbott Abbott, é publicado
pela editora Tordesilhas. A tradução é de Rogério W. Galindo. O livro traz
ilustrações do autor e posfácio de Ana Rüsche.
A Editora Andarilho estreia com
a publicação de escritor inédito no Brasil.
Na estreia de Juza Unno no Brasil,
A última transmissão traz sete narrativas extraordinárias que envolvem
ciência, tecnologia, humor e grandes reviravoltas. A começar pelo “O banho de
música das 18 horas”, na qual um governo autoritário controla seus cidadãos
através da Melodia Nacional n. 39, uma música capaz de tornar os cidadãos da
nação Miruki mais eficientes e subordinados aos ideais de seu presidente.
Publicado em 1937, este texto é considerado a obra-prima antifascista de Unno.
Ao lado dos clássicos Nós e Admirável mundo novo, é uma das
primeiras distopias literárias do século XX. Em “O mundo após mil anos”, um
cientista desperta após mil anos em criogenia e observa o quanto o mundo mudou:
órgãos artificiais, energia ilimitada, guerra interplanetária e muito mais. No
conto “O homem quadrimensional”, conhece-se a história de um homem que fica
inexplicavelmente invisível e busca descobrir a causa desse estranho fenômeno. Com
“A misteriosa fenda espacial”, o leitor é transportado para dentro dos sonhos
peculiares de um homem, que podem estar relacionados a um possível crime. Essas
são apenas algumas das histórias presentes nesse livro, que reúne algumas das
melhores escritas por Juza Unno, o pai da ficção científica japonesa. O autor
influenciou toda uma geração, incluindo personalidades como Osamu Tezuka, um
dos gênios dos mangás e criador do icônico Astro Boy. A tradução é de Gustavo
Terranova e J. D. Wisgo.
A Faria e Silva Editora
continua projeto de publicação da obra de Cornélio Penna.
Repouso apresenta uma técnica
narrativa e uma sobriedade que muitas vezes afasta o leitor de qualquer indício
de leitura fácil, unindo-o ainda ao pudor impenetrável da análise psicológica,
onde o que vemos é a angústia e a solidão das coisas insolúveis. Trata-se de um
romance de frustração, pois o que caracteriza seus personagens são exatamente
as experiências não realizadas, em todos os sentidos, visto que no fundo eles
são como “joguetes” — pela incapacidade em que se encontram de escolher um
destino, mas suficientemente lúcidos para esboçar alguns gestos de revolta,
frutos da fermentação contínua de suas almas para, vencendo as veleidades de
compreensão e simpatia, se enrijecerem na obediência aos preconceitos e às
convenções do meio em que são forjados.
Romance de Émile Zola que
aborda a especulação financeira na Paris do século XIX.
Em Paris, Aristide Saccard
recomeça do zero após uma sequência de maus negócios. Após vender sua luxuosa
propriedade, inicia um serviço que promete ganhos rápidos a pequenos
investidores. Com uma estratégia de divulgação agressiva, seduz vários
clientes. Rapidamente, Saccard alcança de novo a riqueza e o prestígio na alta
sociedade — mas o negócio que criou é um esquema de investimento fictício e
ilegal. Enésimo romance da série Rougon-Macquart e escrito em 1891, O
dinheiro aborda a especulação financeira na época em que Paris operava uma
das maiores bolsas de valores do mundo. A obra traz muitas similaridades com o
mundo contemporâneo com enredos que envolvem crise bancária e financeira,
práticas ilícitas, manipulação da imprensa, política, poder e sexo. A tradução
é de Nair Fonseca e João Alexandre Peschanski; o livro é publicado pela Editora
Boitempo.
REEDIÇÕES
O primeiro romance de Charles
Bukowski.
“Tudo começou como um erro”,
anuncia Charles Bukowski na primeira linha de Cartas na rua, agora de
volta às livrarias em nova tradução de Pedro Gonzaga. O “erro” do escritor
conhecido pelos porres homéricos e humor ferino foi se candidatar à vaga de
carteiro temporário no início dos anos 50. Quando viu, estava em seu segundo
emprego nos Correios, como auxiliar, e já somava catorze anos em uma rotina
maçante — ainda mais para um homem de meia-idade sempre de ressaca. Mas tinha
em mãos, enfim, a matéria-prima para seu primeiro romance, que já nasceu um
clássico: pela voz de Henry Chinaski, seu alter ego, Bukowski narra suas
memórias em tom hilário e melancólico. Lançado em 1971, Cartas na rua é
um marco na obra de um dos mais cultuados — e imitados — autores estadunidenses.
O livro é publicado pela L&PM Editores.
DICAS DE LEITURA
1. A violoncelista, de
Michael Krüger. Este é um daqueles escritores estrangeiros que chegam ao Brasil
com permanência promissora, mas logo cai no esquecimento e ninguém sabe,
ninguém leu. O primeiro romance deste alemão por aqui foi A última página
e, depois deste, quase uma década mais tarde, aparece o título agora
recomendado. A envolvente narrativa se arma em torno de dois episódios que
dominam todo o curso da narração, como se uma alternativa de acesso aos vários
dos acontecimentos na vida do narrador, um compositor de posições bastante
marcadas pelo seu interesse para com o seu trabalho: a composição de uma ópera
testemunha da morte da lírica a partir da vida e obra do poeta russo perseguido
pelo regime comunista soviético Óssip Mandelstam; e a chegada repentina na vida
deste compositor da filha de uma mulher com quem se envolveu num passado de
sonho brilhante em torno da música. As duas linhas propiciam um encontro do
narrador com suas memórias e uma aguda reflexão sobre o lugar da arte na
sociedade moderna. A tradução é de Sergio Tellaroli e foi publicada pela
Companhia das Letras.
2. Fotobiografia de João Cabral
de Melo Neto. Organizada pelo também poeta Eucanaã Ferraz, este livro tem
vaga garantida entre as melhores publicações de sempre. Um trabalho
meticuloso perfaz todos os passos da vida do poeta que ignorava o fato
biográfico e, por extensão, se dizia avesso ao derramamento sentimental. Organizado
por núcleos que conjugam vida, obra e temáticas ou referências criativas, o
percurso recupera não apenas imagens, mas as histórias em seu entorno, passagens
pela obra, apurações de acontecimentos ainda desencontrados na biografia do
poeta, entre outras novidades. Um daqueles livros para amantes ou indecisos da
obra de um dos nossos mais importantes nomes da poesia de língua portuguesa.
Esse trabalho amplia as ricas edições em torno de João Cabral publicadas pela
Verso Brasil Editora; antes, os leitores tiveram contato — e foram recomendados
por aqui —com a edição reconstituída do ensaio Miró e de Aniki Bóbó.
3. Águas-fortes cariocas,
de Robert Arlt. Entre as febres literárias passadas pelo Brasil está a pela
obra do escritor argentino, um dos nomes mais importantes na literatura do
século XX no seu país. Entre as várias edições de obras suas apresentadas por
aqui, está este livro de crônicas organizado por Gustavo Pacheco, também o
tradutor dos textos. O título é tirado de empréstimo de uma coluna assinada por
Arlt durante muitos anos para o jornal El Mundo “Aguafortes porteñas”; nela,
o escritor se especializou, pela destreza, novidade e constância, na
construção de um retrato verbal do cosmopolitismo e transformações vividas pela
Buenos Aires do seu tempo. Neste livro aqui recomendado Arlt retrata em trinta
e nove textos a cidade do Rio de Janeiro dos anos 1930, no período de pouco menos
de dois meses que escritor esteve na capital carioca.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Aos que acompanham de perto as
novidades do mercado editorial brasileiro sabem que desde há muito o poeta e
tradutor Guilherme Gontijo Flores trabalha numa nova tradução de um dos livros
mais importantes para a poesia moderna nos Estados Unidos. E uma amostra desse
projeto foi demonstrada no dia 1.º de abril, quando nos foi oferecia uma
leitura integral do poema “Song of myselef”, por ele traduzido como “Canção do
meu ser”. Sim, é Walt Whitman — do agora Folhas de capim. O livro sai
pela Editora 34. Você pode ver a leitura aqui.
2. Várias figuras notáveis
gravaram leitura de poemas de Carlos Cardoso. Uma delas, recordada nas redes da
revista 7faces por esses dias é este vídeo com a leitura de Patricia
Pillar para “Pedra dura”, um texto do seu livro já comentado aqui no blog, Melancolia.
Você também pode ler poemas inéditos do poeta na edição n. 22 da 7faces, aqui.
3. Antonio Carlos Secchin, além de
exímio crítico e poeta, é desses colecionadores amantes do livro. Em sua
vivência na web partilhou com os leitores essa preciosidade: um poema de
Cecília Meireles até agora inédito em livro. O texto, segundo ele, saiu apenas
no número 2 da Revista Mundo Literário (1922). Leia aqui.
BAÚ DE LETRAS
1. Neste sábado, 3 de abril de
2021, passa-se uma década da morte de Graham Greene. Recordamos a tradução
deste texto de Rafael Narbona sobre o romance O poder e a glória, do
escritor britânico.
2. Ainda sobre datas. O domingo, 4
de abril, marca o nascimento de Marguerite Duras, em 1914. No blog, o leitor
encontra vários textos sobre a obra e a escritora francesa. Recordamos três
deles: a) este, de Alfredo Monte sobre O amante; b) este comentário de Gabriel Stroka
Ceballos sobre A dor c) e este breve perfil sobre Duras.
* Todas as informações sobre lançamentos de livros aqui divulgadas são as oferecidas pelas editoras na abertura das pré-vendas e o conteúdo, portanto, de responsabilidades das referidas casas.
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