Boletim Letras 360º #412
DO EDITOR
1. Saudações, leitor! Na segunda-feira,
25, retornamos com as postagens diárias aqui no blog. E com este Boletim, as
seções criadas há algum tempo que acrescentam outras atividades, além das
informativas: as dicas de leitura; vídeos, versos e outras prosas; e baú de
letras.
2. Termina no dia 1º o prazo para
o envio de candidaturas para ser um dos colunistas no Letras. Você que guarda interesse
para tanto, saberá todas as informações necessárias neste endereço. Os resultados
devem sair até o final de fevereiro.
3. Ainda sobre a seleção referida
acima, nesta semana, foi disponibilizada em nossa página no Facebook uma post
com respostas às três dúvidas mais frequentes entre os leitores. De repente,
pode ser também a sua. Então, informe-se aqui. Se ainda restar alguma
questão, basta escrever ao blog através do correio eletrônico blogletras@yahoo.com.br
ou nas nossas redes: Instagram, Facebook ou Twitter.
4. Espero que você se encontre são
e seguro. Obrigado pela atenção. E vamos às notícias da semana publicadas em
nossa página no Facebook? Boas leituras!
Augusto de Campos. Foto: Liade Paula. O início de um ano de celebrações pelo 90.º aniversário de um dos nomes mais importantes da poesia brasileira. |
LANÇAMENTO
O primeiro romance de Carla
Madeira.
uma narrativa madura. Tudo é
rio é precisa e ao mesmo tempo delicada e poética. O romance narra a
história do casal Dalva e Venâncio, que tem a vida transformada após uma perda
trágica, resultado do ciúme doentio do marido, e de Lucy, a prostituta mais
depravada e cobiçada da cidade, que entra no caminho deles, formando um
triângulo amoroso. Na orelha do livro, Martha Medeiros escreve: “Tudo é rio é
uma obra-prima, e não há exagero no que afirmo. É daqueles livros que, ao ser
terminado, dá vontade de começar de novo, no mesmo instante, desta vez para se
demorar em cada linha, saborear cada frase, deixar-se abraçar pela poesia da
prosa. Na primeira leitura, essa entrega mais lenta é quase impossível, pois a
correnteza dos acontecimentos nos leva até a última página sem nos dar chance
para respirar. É preciso manter-se à tona ou a gente se afoga.” A metáfora do
rio se revela por meio da narrativa que flui – ora intensa, ora mais branda –
de forma ininterrupta, mas também por meio do suor, da saliva, do sangue, das
lágrimas, do sêmen, e Carla faz isso sem ser apelativa, sem sentimentalismo
barato, com a habilidade que só os melhores escritores possuem. O livro é
publicado pela editora Record.
Uma miniantologia poundiana do
trabalho tradutório que Augusto Campos vem fazendo ao longo de 60 anos.
Se o poeta-inventor nos tornou
capazes de OUVER um verso, o tradutor-inventor nos ensinou a OUVIVER um poema.
Eis a forma da experiência poética que Augusto de Campos nos convida a
vivenciar em suas traduções, particularmente nas re-criações de poemas de
Ezra Pound. A presente edição é uma miniantologia poundiana do trabalho
tradutório que Augusto de Campos vem fazendo ao longo de 60 anos. Trabalho de
arqueologia, pesquisa, ensaio e divulgação no Brasil da obra de um dos
maiores inventores da poesia no século XX. Ezra Pound não apenas conheceu
essas traduções, como manteve correspondência com o grupo Noigandres e
Augusto de Campos, um privilégio para o leitor que pode sentir o sabor do
saber da tradução-arte. Um jogo de criação, análogo ao futebol-arte, que
dribla não apenas a semântica das línguas e as palavras em estado de
dicionário, mas traduz também linguagem, redesenha formas e injeta o signo
novo na corrente sanguínea da língua portuguesa. Uma música que não é mais
melodia, mas timbre. Cortes que funcionam como um novo léxico,
palavras-valise, enfim, o novo novo, como o poeta grafou no seu livro Balanço
da bossa e outras bossas. Há seis décadas, Augusto de Campos, juntamente
com seu irmão Haroldo de Campos, deu sentido à arte de traduzir poesia como
projeto de criação. A obra de Ezra Pound nos obriga a decifrar seu enigma
(imagem). Augusto de Campos, figura rara da “Welt Literatur”, traduz o
intraduzível. A poesia é isso, afinal, uma ponte entre aquilo que não se
sabe se existe e quem encontra o que não existe. (Vanderly Mendonça). Extra
Pound é publicado pelo selo Demônio Negro.
Primeira mulher vencedora do
Prêmio Cervantes, María Zambrano uniu a filosofia e a poesia em um único
conceito.
Ao denominar a filosofia como a
busca concreta pelo saber, intrínseca ao ser humano, e a poesia como a
manifestação transcendental e fluida, aberta à diversidade, utilizada para
expressar a realidade, pode-se pensar que ambas as frentes seguem por caminhos
opostos, correto? Não exatamente. María Zambrano expandiu os horizontes e
construiu a ponte que interliga a razão e o mítico. A escritora e filósofa espanhola
apresentou de forma peculiar um método diferente de pensar filosofia, com um
estilo que caminha às margens, porém não foge nem renega as origens. Filosofia
e poesia é o primeiro lançamento da editora Moinhos em 2021 e tem tradução
de Fernando Miranda.
Livro reúne textos póstumos de
Mallarmé.
Stéphane Mallarmé, antes de
morrer, pediu que sua filha Geneviève queimasse todas as suas notas e um
conjunto de pequenas folhas manuscritas. Escritas entre 1879 e 1880, depois da
morte de seu filho de oito anos, essas páginas chegaram até nós com o título
Para um túmulo de Anatole, permanecendo, porém, inéditas até 1961. O autor
nunca quis publicá-las nem se referiu a elas em sua correspondência. Diferentes
de outros “túmulos”, gênero a que Mallarmé se dedicou para prestar homenagem a
Baudelaire, Verlaine e Poe, elas são anotações fragmentárias, em que convergem
fato brutal e trajetória estética, dissolução da concretude da morte em forma
inacabada que é tempo, eterno e fugaz. Em uma carta a seu amigo Henri Cazalis,
Mallarmé descreve a longa e inenarrável agonia do luto e conclui: “felizmente,
estou perfeitamente morto”. A morte, figurada ou não, age como uma nota musical
repetida a cada página deste Túmulo, que anuncia e acolhe a presença e a
ausência do filho, da doença, da paternidade incompleta, em uma escrita lacunar
e fraturada. “Quando um poema está maduro, ele se separa”, escreve Mallarmé a Cazalis
– talvez isso explique o destino do manuscrito, engavetado por tanto tempo. A
tradução desses fragmentos por Guilherme Gontijo Flores que agora o público
leitor tem à mão parece seguir o preceito mallarmeano de ceder iniciativa às
palavras e, para isso, opera um duplo movimento de fazer transparecer ora o
original francês, quando a tradução é mais literal, ora a recriação, em
formulações que tiram máximo proveito dos recursos expressivos de nossa língua.
Chega-nos uma escrita do luto, amadurecida pelos tempos que correm. O livro é
publicado pela Kotter Editorial.
Três títulos e uma rica
antologia de Paul Claudel.
Os títulos Cinco grandes odes
seguido de Processionário para saudar o novo século e Cantata a três
vozes formam um pórtico suntuoso para essa poesia cunhada em grandes
sínteses. Nesses textos líricos, ora impetuosos, ora delicados, constituídos de
alusões e de símbolos, o poeta é ao mesmo tempo sacerdote e bacante
ensandecido; a figura feminina assinala tanto redenção quanto perdição, e a
inspiração é força destrutiva dos laços entre os homens, sob a influência da
Musa, e é também chamado à salvação, nas mãos da Graça. No centro dessa
poética, o poder da palavra, explorada em sua potência sugestiva de múltiplos
significados e em sua musicalidade sutil e variada. Traduzido por Rodrigo de
Lemos, autor também do prefácio, a edição bilíngue é publicada pelo selo
Filocalia / É Realizações.
A editora Corsário Satã publica
antologia de um dos nomes mais proeminentes da poesia portuguesa, Rosa Oliveira.
Este é o primeiro livro da autora
no Brasil. Natureza quase viva traz poemas dos quatro livros da autora: Cinza
(2013), Tardio (2017), Errático (2020) e Desvio-me da bala que
chega todos os dias (no prelo). Na orelha do livro, a poeta Marília Garcia
aponta que: “O tempo, em suas várias manifestações, parece atravessar esta
antologia de Rosa Oliveira e se impor, assim como aquele fio plástico no meio
das ruínas de Pompeia. Relógios, calendários e formas de medir a duração das
coisas: “Eu vinha para os dias e tive horas”, diz ela. E também muitos passados
acumulados, restos, ruínas, cinzas: o que fica da memória, certa frase que
perdura, anos de cheiro acumulado, ou a luz de uma estrela que já morreu e vem
do passado até nós. Além do tempo pausado e das maneiras de capturar o
presente, esse “tempo inexistente”, um olho a piscar, o instante em que uma
gota d’água pendurada na torneira cai.” Rosa Oliveira nasceu em Viseu e vive em
Coimbra. É poeta e professora do ensino superior.
Livro reúne cinco dos mais
célebres títulos do mestre do microconto chinês, Lao Ma.
A China é aqui. Em A festa de
um homem só, Lao Ma nos oferece uma série de breves relatos que capturam,
nos pequenos detalhes do cotidiano, uma China ao mesmo tempo estranha e
familiar. Combinando a leveza do humor com o absurdo dos meandros políticos
chineses, Lao Ma nos conduz, de conto em conto, através da história recente de
um país que está outra vez ocupando uma posição de destaque no imaginário
global. Segundo o próprio autor, são narrações belas, tristes, perspicazes e
humorísticas que não pertencem somente ao povo chinês, mas sim a qualquer
leitor e a qualquer povo que possa se sentir identificado e tocado por elas. O
leitor reconhecerá nesses contos a impotência e a raiva provocadas pela
corrupção endêmica, a generosidade de vizinhos, o labirinto do funcionalismo
público, a mesquinharia de pequenos funcionários, o prazer de uma boa refeição,
o silêncio entre amigos, a claustrofobia de um ônibus lotado às seis da tarde e
a melancolia de tempos passados. A festa de um homem só é, ao mesmo
tempo, uma aula de história e um exemplo do prazer da leitura. Lao Ma (劳马), pseudônimo de Ma Junjie (马俊杰),
foi professor de literatura na Universidade Renmin da China e atualmente é
Vice-Secretário da pasta de Educação e membro do Comitê Central da Associação
Chinesa de Escritores. Conhecido como o pai do microconto na China, iniciou sua
prolífica carreira literária na década de 1990 e já conta com centenas de
textos publicados entre contos, novelas e ensaios. Suas obras foram traduzidas
ao coreano, japonês, vietnamita, mongol, hindi, inglês, francês e espanhol,
entre outros. A festa de um homem só reúne cinco de seus mais célebres
livros. É o primeiro livro de Lao Ma traduzido para o português, diretamente do
chinês por Caio Yurgel. O livro é publicado pela Jaguatirica Edições.
Começa a publicação, pela
Editora Nós, dos diários de Virginia Woolf.
Este é o primeiro volume de um
diário que Virginia Woolf manteve, com alguns hiatos, por 44 anos, desde a
adolescência até poucos dias de sua morte. Vivido como uma escrita sem fim, o
diário de Virginia Woolf representa o seu anseio por um sistema capaz de
incluir tudo, sem distinções – o rasteiro e o sublime, o público e o privado.
No primeiro volume, a jovem de 33 anos, recém-casada e ainda não publicada,
retoma a escrita de um projeto de diário que havia interrompido no final da
adolescência. As lacunas são um dos principais traços desse início. A vontade de
usar o diário como terreno para se consolidar como escritora vê-se agora
barrada por dois colapsos mentais que sofreu, primeiro em 1913 – e do qual mal
estava recuperada em 1915, quando começa o volume – e em seguida um mês e meio
depois de iniciá-lo. Virginia ainda está encontrando, com grandes dificuldades,
sua voz literária e uma forma para o seu diário. Até 1919 ele assumirá o rosto
que terá nos anos posteriores, abarcando às vezes em um mesmo parágrafo
comentários domésticos, análises literárias e dos acontecimentos da época,
trivialidades e trechos de extrema beleza – a aridez do cotidiano lado a lado
com o questionamento do espírito. Grande leitora do gênero que é e com um
projeto muito claro para seu diário, Virginia o afasta do estereótipo de texto
confessional e o transforma em um campo de testes para seus experimentos,
usando-o acima de tudo para observar sempre: o mundo, os outros e, em especial,
a si mesma. Assim, o que se vê ao longo de suas centenas de páginas não é o
retrato consolidado de uma “única” Virginia Woolf, mas o registro de uma
constante mudança. Quando este volume se abre, Virginia e Leonard, que haviam
se casado em 1912, estão morando em Richmond, cidade próxima a Londres. O
diário neste início é muitas vezes lido por Leonard, a pedido da própria
Virginia. Ela está prestes a publicar seu primeiro romance, The Voyage Out
– e o fato de só o mencionar uma vez não significa que não fosse fonte de
angústia: muitas vezes no diário ela trata obliquamente os acontecimentos mais
impactantes da sua vida. Supõe-se que a expectativa dessa publicação tenha sido
um dos gatilhos do seu segundo colapso.
LITERATURA E INTERMÍDIA
Uma série a partir da
obra-prima da literatura de F. Scott Fitzgerald, O grande Gatsby.
O romance publicado em 1925 já
conheceu quatro leituras pelo cinema; a mais recente para o 3D em 2013. Agora,
chegou a vez de ganhar as telas da TV. O projeto coordenado por Michael Hirst,
e com produção até agora pela A+E e ITV Studios America tem as mãos dos
herdeiros do escritor estadunidense. O roteiro de Hirst trabalhado desde há
três anos encontra, segundo ele, o terreno fértil para tomar forma, agora que
os Estados Unidos buscam outra vez se reinventar. Descrita como uma
reimaginação de O grande Gatsby a série não deixar de explorar questões
adjacentes à narrativa. Segundo o Hollywood Reporter, Hirst irá explorar
a comunidade negra de Nova York dos anos 1920 e a cultura musical periférica,
além de se aprofundar mais no passado das personagens no intuito de trazer à
superfície as contradições e o desfazimento do american dream.
REEDIÇÕES
Um clássico para os estudos
literários ganha nova edição revista e ampliada.
A edição brasileira de Mimesis,
a obra monumental de Erich Auerbach, referência absoluta para os estudos
literários e literatura comparada, completa cinquenta anos de sua primeira
publicação. O ensaio permanece vivo em seu campo, ajudando a formar multidões
de pensadores, não obstante as profundas mudanças pelas quais o mundo
atravessou nesse tempo e o aparecimento de grandes teóricos da crítica
literária. Mimesis encanta pela abrangência da análise, seja pelo vasto
período de tempo, seja pela multiplicidade de obras e estilos que traz, que lhe
dá, nas palavras de Manuel da Costa Pinto, um “sentido épico […] – nada menos
do que um afresco da civilização ocidental por meio de suas obras mais
representativas”. Mimesis é obra de um homem que perde sua pátria e é
obrigado a se exilar e se isolar. Em terra estranha, nas margens de uma Europa
conflagrada pela Segunda Guerra Mundial, Erich Auerbach, sem um futuro à sua
frente, para seguir vivendo agarra-se àquilo a que dedicou a vida, a literatura
– que naquele momento ardia em fogueiras imensas em sua Berlim natal. Em seu
espírito descortina-se uma nova perspectiva, que ele quer compartilhar: a da
representação da realidade na literatura ocidental. Como ele próprio afirma, o
que aqui se apresenta é uma visão, jamais uma teoria fechada. Auerbach
seleciona seus locais aprazíveis e não por acaso começa com Homero e a Bíblia,
os dois pilares do Ocidente europeu. Dali até o farol de Virginia Woolf será
uma longa, insólita e, como o tempo o provou, inesquecível jornada, de
abrangência inaudita, da qual cada capítulo deste livro é um instantâneo, um
recorte. O mundo que originou esta obra já não existe mais. Aquela guerra
também acabou, ainda que suas palavras de ordem continuem encantando
seguidores, inclusive hoje. Mimesis também permanece – vital como no
tempo em que foi escrito, resiliente como o leitor de todos os tempos e
quadrantes –, reerguendo-se das cinzas da ignorância sempre mais uma vez, pois
como afirma Edward W. Said, “seu exemplo humanista permanece imorredouro”. A
nova edição de Mimesis é publicada pela editora Perspectiva e traz
ensaios de Manuel da Costa Pinto e Edward Said.
O último romance de García Márquez
ganha nova edição.
Memória de minhas putas
tristes é um romance nostálgico, cujo narrador, do qual não sabemos o
nome, resolver dar-se de presente uma noite com uma virgem para comemorar seus
90 anos. Tudo que sabemos sobre ele é que trabalha para um jornal como crítico
de música e que passou a vida em meio a prostitutas. Podemos dizer que é um
homem culto e que nunca pensou em se casar. Ele inclusive abandonou a noiva no
dia do casamento. Sabemos também que o apetite sexual desse nonagenário é
impressionante e que ele faz sexo com frequência. Para realizar o sonho sexual,
o narrador recorre a uma velha conhecida, uma cafetina aposentada, que já havia
intermediado negócios para ele (prostitutas), no passado, e pede a ela que
organize esse encontro. As dificuldades de atender ao pedido ficam claras desde
o início. Mas ele vai conseguir o que quer, não importa o quanto custe. Essa
senhora se vê então com uma difícil tarefa: como encontrar uma virgem? A
cafetina então acha uma menina de 14 anos que trabalhava pregando botões e que
cuidava dos irmãos mais novos. Ela estaria esperando o idoso num quartinho
reservado para os clientes mais ilustres. O narrador coloca sua melhor roupa e
vai até o bordel. Como a adolescente fica nervosa, a cafetina oferece a ela um
chá com efeito calmante e a jovem adormece. A senhora então sugere ao narrador
que realize seu sonho de tirar a virgindade da menina sem acordá-la, para
protegê-la da dor da experiência. Ele se despe, mas fica com receio de tirar
vantagem da menina. Então encontra uma solução: ele simplesmente dorme ao lado
da menina, desfrutando da sensação de estar ao lado de uma mulher. Só quando
acorda ao lado da ainda pura ninfeta é que esse personagem vai ganhar a
humanidade que lhe faltou enquanto fugia do amor. A tradução de Eric Nepomuceno
é reeditada pela editora Record.
EVENTOS
Evento sublinha os 90 anos do
poeta Augusto de Campos.
Augusto de Campos nasceu em São
Paulo a 14 de fevereiro de 1931. Com seu irmão Haroldo de Campos e Décio
Pignatari, formou o grupo Noigandres que lançou a poesia concreta, movimento
que ganhou dimensão internacional. Publicou numerosos e importantes livros de
crítica e tradução. Sua obra poética está quase toda reunida nos livros Viva
Vaia (1979), Despoesia (1994), Não (2003) e Outro
(2015). Entretanto, sua poesia explora, também, outros formatos e suportes:
poemas-objeto em Poemóbiles (1974) e Caixa Preta (1975) e
diversos trabalhos em novas mídias como painéis eletrônicos, holografias e
animações digitais. Em 2015, Augusto foi reconhecido com o Prêmio Pablo Neruda,
em 2016 com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Cultural e em 2017 com o Janus
Pannonius Grand Prize for Poetry. Para destacar e discutir esses multiaspectos
da criação artística de Campos uma programação especial organizada por Julio
Mendonça para a Casa das Rosas reúne palestras, cursos, concerto, show, sarau e
exibição de vídeos. É este um momento de celebração para de um dos poetas mais
importantes da poesia brasileira e mundial. O evento se desenvolve entre os
dias 2 e 25 de fevereiro de 2021. Todas as informações estão disponíveis aqui.
DICAS DE LEITURA
1. A tirania do amor, de
Cristovão Tezza. A obra do escritor brasileiro que ganhou alta projeção a
partir da publicação do romance O filho eterno em 2007 dispensa grandes
apresentações; é a obra de um polígrafo, mas uma das mais criativas da nossa
literatura. O livro aqui recomendado é seu mais recente trabalho – saiu há três
anos pela editora Todavia. Breve e denso, porque intercalam-se vários
procedimentos narrativos, da narração em terceira pessoa ao fluxo de
consciência, este romance é testemunho das várias frentes assumidas pelo termo crise
na sociedade e vida particular nas últimas duas décadas. No primeiro nível, o
narrador perfaz o complexo drama da nossa história, constituído entre a esperança
por outro país e a ruína e decadência. No segundo, os declínios da meia-idade:
um casamento pelo fio, uma carreira no mercado financeiro em iminência de
encerramento sem quaisquer glórias. Este é, possivelmente, um dos mais
elaborados romances de Tezza, escritor que, a cada obra tem se esmerado na arte
de narrar.
2. Não digam que estamos mortos,
de Danez Smith. Este é um livro que foi publicado recentemente nos Estados
Unidos; causou certo burburinho entre os leitores e alcançou um posto entre os
finalistas do National Book Award, uma das premiações mais importantes neste país.
Fez um caminho inusitado, sobretudo para obras do gênero. Quatro anos da sua edição
original, foi traduzido por aqui; trabalho conduzido por André Capilé e editado
pela Bazar do Tempo. E o que tratam os textos de Smith? São poemas
profundamente encarnados na história estadunidense, em face dos históricos e
recentes episódios que ampliam as divergências e os impasses entre raça. Circunscrito
a um contexto específico, esses textos não estão presos ao circunstancial, porque
afinal o espinhoso tema pertence a um lugar universal.
3. Um esboço do passado, de
Virginia Woolf. Enquanto alguma casa editorial não investe no projeto de
publicação de uma coleção ou mesmo de um volume que reúna os ensaios completos da
escritora inglesa, precisamos nos contentar com os textos esparsos, as breves
antologias. Noutro Boletim recomendamos o lindo trabalho artesanal da Arte
& Letra com os cinco textos reunidos sob título de A leitora comum.
Agora, recomendamos este que assinalou a estreia da escritora no catálogo da editora
Nós – esta semana, conforme se lê acima – saiu o primeiro volume dos seus diários
completos, algo também inédito entre nós. Um esboço do passado é um dos
últimos textos de Virginia Woolf, um esboço do que ela intencionava chamar de
sua autobiografia, e reflete sobre o passado enfocando uma variedade de assuntos
que vão dos temas familiares aos da criação literária. A tradução brasileira é
de Ana Carolina Mesquita.
VÍDEOS, VERSOS E OUTRAS PROSAS
1. Aproveitando o gancho da seção
anterior, lembramos esta semana que agora termina começou com o aniversário de Virginia
Woolf. No seu país natal foi leiloado recentemente um livro de confissões literárias
da escritora – o material cujo conteúdo se constituído de um jogo de perguntas
e respostas revela, por exemplo, quem ela considerava um gênio e o pior
escritor inglês. O questionário, composto por 39 perguntas, cobre o período de
1923 a 1927. O livro foi descoberto pelo neto de Margaret Kennedy, William
Mackesy, autora também convidada a responder o referido inquérito. O livro foi
arrematado por 21 mil Libras. No nosso Tumblr copiamos algumas imagens com as páginas deste material.
2. Ainda no mesmo tópico. No dia
28 de janeiro passou o aniversário de Vergílio Ferreira. Em nossa página no
Facebook, na galeria de vídeos, disponibilizamos a reprodução do documentário Vergílio
Ferreira: retrato à minuta. Dirigido por Diana Andringa e Miguel Soares, o
filme foi exibido na televisão portuguesa RTP poucos dias antes da morte do
escritor e reúne imagens raras suas, depoimentos de diversas personalidades e
leituras da sua obra realizadas por ele próprio e por atores. Está disponível
aqui.
BAÚ DE LETRAS
1. Para voltar ao dia 23 de
janeiro, quando se passou 80 anos do aniversário de João Ubaldo Ribeiro,
recordamos aqui dois textos, dos vários publicados neste blog sobre a obra e o
escritor: a) um breve perfil composto em 2008 quando foi galardoado com o
Prêmio Camões; b) e uma leitura de Rafael Kafka acerca de um dos romances
conhecidos de Ubaldo Ribeiro, Viva o povo brasileiro.
2. Em 2016, Pedro Fernandes leu o
romance A tradutora, de Cristovão Tezza, publicado no mesmo ano pela
Editora Record. O livro foi comentado neste blog aqui.
3. Sobre Vergílio Ferreira,
acrescentamos a esta lista duas outras recomendações retiradas do nosso baú; à
maneira do primeiro item desta seção: um perfil biográfico sobre o escritor
português; e a leitura de Pedro Belo Clara sobre um dos romances fundamentais
do escritor português, Aparição.
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