Vou-me embora para Porto Pim
Por Tiago D. Oliveira Lembro-me do primeiro contato com os versos de Fernando Moreira Salles. O livro era o Ser longe (2003), havia um espaço desmedido que não consegui inteiramente deter, ficou um tronco adentrando o quarto, empurrando a janela. Curioso é que quando acordei nesta manhã a mesma imagem desenhada ganhou carne e me levou novamente ao chamado de um verso que cavou em mim uma “Memória”, também título daquele poema, lembrar / é ser longe . Abri a janela mais e mais a cada página passada e deixei-me ir. Carrego em minhas mãos o Diário de Porto Pim e outros poemas editado em 2020 pela Iluminuras com a sensibilidade de quem acompanha o sol em seu deitar depois de mais um dia cheio de trabalho. A delicadeza da capa, feita pelo Eder Cardoso, dialoga perfeitamente com a atmosfera dos poemas diante de um desencanto com o mundo que caminha em seu destino para maturar o próprio caminhar. É como se o poeta entendesse que os versos são a lâmina abrindo a mata para o movimento