O verdadeiro criador de tudo, de Miguel Nicolelis
Por Davi Lopes Villaça A ciência teve, nos tempos modernos, um papel importante no processo de desmitologização e dessacralização do mundo. Ela nos mostrou que o homem não ocupa o centro do universo e que a natureza, essa entidade impessoal, se desenvolve de acordo com leis próprias, insensível ao destino de suas crias. Foi um duro golpe para o nosso ego, que se amparava na ideia de que éramos os protagonistas da história universal ou, pelo menos, de que os astros não eram de todo indiferentes às nossas façanhas. A perda dessas ilusões contribuiu também para a ruptura de um vínculo precioso com o mundo exterior, outrora garantido pelo simbolismo de mitos e religiões, que determinavam nossa interação com o que acreditávamos ser algum tipo de ordem natural e divina ― mas que era, acima de tudo, uma ordem humana, engendrada em nós mesmos para dar forma mais compreensível à realidade. Depois, quanto mais passávamos a conhecer o mundo, menos familiar ele se tornava para nós. Entre o inter