As sílabas de Amália, de Manuel Alegre
Por Maria Vaz Escrever sobre Amália Rodrigues é sempre um risco, na medida em que acaba por ser semelhante a quando entramos no mar e vemos e sentimos as ondas mas, do nada, ficamos sem pé ante a profundidade que a intensidade que os sentidos lhe faziam ressoar pela voz e encantar multidões. Um risco superado com distinção, como outra coisa não seria esperar, pelo poeta Manuel Alegre a quem, dentre outras distinções literárias, foi atribuído o Prémio Camões, em 2017. As sílabas de Amália foram melodias que arrebataram aplausos em palcos de todos os cantos do mundo, num tempo muito menos globalizado do que aquilo que é nos dias de hoje. Compreender o que Amália representou para o fado e para a cultura portuguesa, em geral, é complexo. E é complexo porque foi um fenómeno com muitas peculiaridades capazes de superar a humildade das suas origens e a sua timidez natural, que se desvanecia completamente quando entrava em palco. Tinha a voz, a presença, a elegância e, sobretudo, a ca