Guerra fria, de Pawel Pawlikowski
Por Pedro Fernandes Um amor que atravessa toda sorte de reveses, rente e se confundindo com o mesmo fluxo da conturbada história de quando uma parte da Europa envolvida sob o mesmo ideal de liberdade se deixava trair outra vez pelas amarras do poder das ideologias. Guerra fria é um documentário com uma narrativa de ficção ao fundo que aos poucos emerge e ganha forma. Sua narrativa acompanha o trânsito entre o reerguimento de uma Polônia profundamente destruída no fim da Segunda Guerra e a entrada do país num modelo de domínio tão cruel ou radical quanto este período: a assunção do ideário comunista, com as mesmas marcas da grande vaga que havia soterrado meio mundo poucas décadas antes. A alternativa encontrada pelo cineasta polonês, reconhecido um obcecado pela história, para acompanhar a escala dessa segunda grande noite, é acompanhar a formação de um grupo de dança folclórica dedicado à performance de música e dança. A larga escala ― que começa com um tratamento etnográfico