Escrita instável para um tempo instável
Por Cruz Flores Anne Carson. Foto: Lawrence Schwartzwald Em seu livro Asfixia , Franco Berardi fala da poesia como “a linguagem da não-intercambialidade”¹, o último reduto de uma aliança perdida entre signo e significado, onde o “dizer” e o “querer dizer” se sobrepõem por um momento, apenas enquanto a função do poema existe. E por isso, a poesia se torna o incompleto: os projetos duram mais que seus autores, os autores não conseguem realizar o que querem e, no final, apenas os leitores ficam diante de um amontoado de palavras. Existe uma intensa vida no incompleto. Encontrar pedaços de textos esquecidos, relacionar-se com eles, imaginar o que existia antes, o que não será depois, é uma das experiências que mais guardo. Aproximar-me dos fragmentos de Hölderlin, por exemplo, e ver suas lacunas, os parênteses que estão no lugar de algo que o autor não conseguiu escrever, me dá uma sensação tanto de incapacidade como de ser livre: sou responsável, agora, por preencher e