Sobre “O meio”, de Dostoiévski
Por Davi Lopes Villaça Edvard Munch. O assassino . 1910. Reprodução. Dostoiévski acreditava que uma sociedade deveria estar apoiada sobre valores morais sólidos – para ele, os valores transmitidos pelo cristianismo e há muito enraizados na alma do povo russo. O indivíduo deveria ser capaz de distinguir entre o bem o mal e fazer suas escolhas com base nessa distinção. Isto num momento histórico (tal como o nosso) de profundo relativismo moral, em que valores são continuamente colocados em questão. Não por acaso o tema da amoralidade ocupa um lugar tão importante em sua obra madura. O estudante Raskólnikov, de Crime e castigo , comete um assassinato para provar-se acima de quaisquer convenções morais; logo descobre, porém, que a ideia do bem e do mal estava tão entranhada nele que não podia refutá-la sem enfrentar sérias consequências psíquicas. É a partir do sofrimento decorrente de seu crime e, por fim, do reconhecimento de sua culpa que o herói recupera e consolida o se