Da releitura como habitação
Por Guilherme Mazzafera “Ler é cobrir a cara. E escrever é mostrá-la” Alejandro Zambra, Formas de voltar para casa Sem título. Gianni De Conno. Há um pequeno gesto que fazemos ao querer dissipar um pensamento incômodo: um menear de cabeça, um estalar de dedos, um raspar de dentes. O vincar da unha na carne para impedir o espirro. No meu caso, é forçoso dizê-lo, tenho crises de releitura. Elas surgem sem aviso: irrompem em meio ao rijo tecido de uma rotina estrábica, avultam sem refreio, exigem controle do parco tempo administrável. Muitas vezes, basta ver o nome de um autor querido, há muito olvidado, em texto alheio. Outras, o rápido vislumbre de sua lombada esquiva no amealhar-se da estante. Em suma: saudade. Do texto, do autor, de nós mesmos enquanto lemos. No primeiro volume dos diários de Emilio Renzi há uma passagem que fala da pungência mnemônica do leitor, que resguarda não tanto versos, enredos, personagens, mas o lugar em que lê determinado livro e,