Um berço na Sicília
Por Rafael Ruiz Pleguezuelos Luigi Pirandello, Catania, 1932. Foto: Mondadori / Reprodução Durante grande parte de sua vida, Luigi Pirandello foi seduzido pela ideia segundo a qual sua família poderia não ser sua, idealizando que pudesse ter sido trocado no berço ao nascer. Uma ama ainda mais fantasiosa acabou por fazer perdurar a dúvida para sempre. Em crises de egolatria entre infantil e suicida, percebia seu eu ― precisamente o dramaturgo da busca do eu ― menos mundano e mais espiritual que o da família onde havia nascido, um clã siciliano de cerradas tradições. A Sicília lhe parecia uma terra muito confusa e tradicionalista para ser sua, e levou a broma do filho trocado a tão longe que escreveu uma obra que ainda está por ser descoberta do grande público: essa Fábula do filho trocado que foi ofuscada pelo brilho cintilante de Seis personagens à procura de um autor . Pirandello jogou com o tema como uma pessoa tão séria como ele não podia fazer: produzindo uma g