As solas dos pés de meu avô, de Tiago D. Oliveira
Por Pedro Fernandes a memória é um tamarindal em movimento e harmonia na imagem que não cessa A literatura é, por vezes, feita de memória. As primeiras formas poéticas mais elaboradas que chegaram até nós dão contas de um trabalho de recriação das figuras inscritas no tempo pela potência de seus feitos permitindo, assim, mantê-las vivas entre as gerações futuras. Esse tratamento não se filia em exclusivo à experiência do vivido. É verdade que o poeta é o principal sujeito da enunciação, mas esta é constituída de uma cooperação entre o ente da palavra e as Musas ― elas, sim, presenciam, sabem tudo e o poeta é um ouvinte dos rumores do que rememoram. Esse fenômeno que explica as bases da tradição clássica constitui toda a atividade criativa com a palavra e suas implicações se verificam em culturas das mais variadas; também os cantos populares no interior do sertão nordestino, por exemplo, remontam o tratamento da poética clássica. Desconsidera-se aqui a ideia do re