As nuvens, de Juan José Saer
Por Pedro Fernandes Juan José Saer. Foto: Ulf Andersen “Essa impressão de seres pintados que, desde minha infância, costumam dar-me às vezes os animais, talvez derive da impossibilidade que temos de pôr-nos no lugar deles, de imaginar o que se passa dentro deles e, ao mesmo tempo, exceção feita talvez aos cachorros, dessa espécie de indiferença enquanto indivíduos que lhes inspiramos, e que está presente tanto no pássaro que voa alto no céu quanto no cavalo que montamos ou no tigre que se prepara para devorar-nos. Excetuados seus atos exteriores de sobrevivência, são inacessíveis à nossa razão; é mais fácil para nós calcular os movimentos do astro mais remoto do que imaginar os pensamentos de uma pomba. Um grupo de borboletas em que todas fazem ao mesmo tempo, sem possibilidade de erro, o mesmo movimento mostra como são pobres nossas categorias de indivíduo e de espécie, e poucos conhecem o sentido da palavra exatidão se nunca viram um bando de pássaros revolutear sobre u