O que nos ensinam os grandes romances sobre a peste
Por Orhan Pamuk Pieter Bruegel. O triunfo da morte , 1562, aproximadamente. Desde há quatro anos estou escrevendo um romance histórico ambientado em 1901, durante o que é conhecido como a terceira pandemia de peste, um surto de peste bubônica que matou milhões de pessoas na Ásia, mas não tanto quanto na Europa. Nos últimos dois meses, amigos e familiares, editores e jornalistas que estão cientes do tema do romance, Noites de peste ¹ , me fizeram muitas perguntas sobre pandemias. O que move essa curiosidade é, sobretudo, as semelhanças entre a atual pandemia de coronavírus e os surtos históricos de peste e cólera. E há uma superabundância de relações. Em toda a história da humanidade e da literatura, no que as pandemias se assemelham não é apenas a coincidência de vírus e bactérias, mas o fato de que nossa primeira reação é sempre a mesma. A resposta inicial ao surto sempre foi negá-lo. Os governos nacionais e locais sempre demoram a reagir, distorcem os dados e man