Há lágrimas na natureza das coisas: “Máquinas como eu”, de Ian McEwan
Por Guilherme Mazzafera “Mas apenas a grande arte exige interpretação deliberada ou exaustiva e, ao mesmo tempo, resiste a ela” (George Steiner, Depois de Babel ) Em um instigante texto-resposta à animosa crítica do famigerado Edmund Wilson (um grande crítico, aliás) a O Senhor dos Anéis (1954-55), de J.R.R. Tolkien, Douglas Parker cravou uma observação de elegante percuciência: “A Fantasia sofre uma depreciação geral como gênero, como gênero sério, tendo por corolário que tudo de bom que dela emerge é imediatamente recategorizado.” 1 Se tomarmos a liberdade de congregar fantasia e ficção científica sobre um mesmo teto, assumindo a alcunha de “ficção especulativa” – termo possivelmente questionável por sua aparente redundância –, o fenômeno descrito por Parker ganha ares de ubiquidade. Suas palavras se fazem carne, mais uma ...