Sobre Minha Luta, de Karl Ove Knausgård
Por Davi Lopes Villaça Cheguei ao fim do terceiro volume da série Minha luta tentando entender o que me atraiu na escrita do norueguês Karl Ove Knausgård. No que consiste sua estranha força poética? Acho que é preciso considerar, antes de mais nada, o tipo de relação que essa obra, exemplo recente de autoficção, estabelece com o tempo e a memória. No início do primeiro volume, o autor recorda um episódio em que, ainda criança, vê o pai trabalhar no jardim. A partir da imagem desse homem ele estabelece uma ponte entre o seu eu de antes e o seu eu de agora: “Quando meu pai erguia a marreta acima da cabeça e a deixava cair sobre a rocha naquele entardecer de primavera da metade da década de 1970, fazia isso num mundo que conhecia bem e que lhe inspirava confiança. Somente ao atingir aquela mesma idade eu aprendi que é preciso pagar um preço por isso. Quando sua perspectiva de mundo se amplia, não mitiga apenas a dor que acarreta, mas também o sentido dessa dor. Compreen