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Emil Cioran. Um escritor intempestivo

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Por Ignacio Vidal-Folch Alguns livros não existem para serem lidos mais ou menos de uma vez, mas para tê-los em mãos e folheá-los de vez em quando, ler uma página ou duas e voltar a fechá-los novamente. A lucidez e a energia que emana deles são muito fortes e podem se tornar tóxicas. São frequentemente livros fragmentários e inacabados, que não haviam sido concebidos como tais, que foram publicados um pouco aleatoriamente, e que, a propósito, acrescenta aquele certo encanto que tem o mais ou menos espontâneo, um certo traço de excepcionalidade, certa aura lendária. Essa qualidade de inconcluso e desorganizado, por outro lado, parece corresponder bem a um certo espírito de nosso tempo, um tanto cansado e incrédulo da obra redonda e da pretensão da totalidade. É o caso, por exemplo, do Diário de Jules Renard – reescrito várias vezes pelo autor, mas amputado por sua viúva –, do Livro do desassossego , de Fernando Pessoa ou dos Cadernos de Cioran (Rasinari, Romênia, 1911-Pari