Os melhores de 2020
Ilustração: Ilya Milstein |
Será repetir o óbvio ao dizer que
este 2020 guardou o pior das expectativas que levantamos todo final ano para o
tempo por vir. O mais doloroso, entretanto, é descobrir a esta altura, com
quase todos os doze meses de reclusão, que pioramos um pouco mais como cidadão
e como humanidade. Esses duros tempos podem ter produzido uma ou outra variação
de ritmo em nós, mas, no geral, as perspectivas são nada animadoras. Não é um
discurso fatalista, mas custa ser positivista numa ocasião quando assistimos a
vigarice, o mau-caratismo, a desumanidade, o cinismo, o negacionismo gratuito,
o medíocre, a parvoíce triunfarem. Ao mesmo tempo, toda a carestia desse tempo
cobra o que mais nos falta: um desvio para a civilização e para o humano. Mas,
este outro caminho se mostra, mais ou menos visível, não com expectativas e sim
com atitude. O possível se realiza pela ação.
E, uma alternativa para melhor,
consiste numa reeducação dos sentidos; aguçá-los para a crítica, para o
sensível. Invente o que inventar, a arte continuará sendo a melhor das
possibilidades. Também será repetir o óbvio, mas, é muito provável ― por
experiência de um confinado há dez meses ― que o convívio com a
literatura, com a música, o cinema e outras expressões têm contribuído para a
sanidade do nosso espírito. Nós, brasileiros ― os lúcidos sabem ―
enfrentamos toda uma variedade de outras comorbidades (parte delas citadas
acima) que só ampliaram os impasses no primeiro ano da peste. Numa realidade
tão áspera, o contato com a arte se não terá chegado a reanimar nossos
sentidos, tornou a abafada atmosfera um tanto mais respirável. Fora isso, só
outra atitude: o trabalho.
Juntemos assim, as duas coisas ao
tratar sobre as listas deste ano. Diferentemente das anteriores, encontrará o
leitor a tímida presença dos nossos colunistas; alguns elaboraram suas escolhas
sobre o que leram durante este 2020 e de alguma maneira marcaram seus sentidos
ao ponto de recomendar a expansão da experiência a outros leitores. O que mais
gosto nessas listas é disso, afinal, o que partilhamos quando expomos
publicamente algo dessa intimidade é o desejo de estabelecer, com e para o
outro, novos afetos.
No mais, eu propriamente continuo
o curso das listas de outros anos, isto é, ressaltando os livros de poemas, os
de prosa (sobretudo o romance, a forma literária que estudo e portanto a que
mais leio), os projetos editoriais e os filmes. Anteriormente, uma seção desta
lista era ocupada pelo gosto dos leitores ― com informações colhidas de
nossas comunidades virtuais. Mas, as atribuições, que sempre foram muitas e
agora entraram numa metástase descontrolada, impediram de realizar essa
consulta. De toda maneira, a caixa de comentários aí existe para quem quiser
fazer observações e acréscimos com suas escolhas e mesmo suas próprias listas.
Comentários