Embora a etiologia da doença seja
desconhecida, há um relativo consenso de quando se trata de um distúrbio
bioquímico, de origem genética e hereditária, mas com influências externos. A angústia,
a ansiedade ou uma experiência traumática podem desencadear um surto e levar ao
suicídio. Uma parcela de 20% dos doentes tira a própria vida e pelo menos 50%
tentam. A lista de escritores, músicos e pintores que se despediram do mundo
com um trágico estampido ou um gesto silencioso ultrapassa qualquer estimativa
superficial.
Ernest Hemingway é um dos casos
mais conhecidos. Filho de pai suicida, herdou a pistola que o deixou órfão por
toda a vida. Com um humor oscilante, que o fez passar da euforia e imprudência
a uma certa misantropia, no dia 2 de julho de 1961 explodiu a cabeça com uma
espingarda de cano duplo.
A ferida de Sylvia Plath
Sua neta Margaux preferia o
fenobarbital e escolheu uma data simbólica: o 1º de julho de 1996. Como o avô,
ela sofria de depressão e se refugiava no álcool. É importante notar que o
autor de O velho e o mar sofria de uma teimosa insônia, que só era
amenizada pela luz. A luz é um poderoso antidepressivo para muitos pacientes
bipolares, pois melhora seu humor e ajudando-os a ter uma parca esperança.
O suicídio de Sylvia Plath tem
todas as características das tragédias gregas. No dia 11 de fevereiro de 1963,
após longas depressões e tentativas anteriores de suicídio, ela se levantou em
seu apartamento em Londres e preparou o café da manhã para seus filhos. Em
seguida, abriu o forno da cozinha e enfiou a cabeça dentro, abrindo as
torneiras de gás. Separada de Ted Hughes, havia suportado um inverno de solidão
e privações que exacerbou suas tendências autodestrutivas.
A princípio, considerou que alugar
o apartamento onde W. B. Yeats havia morado representava uma aposta pela vida,
mas a ferida que assolava sua alma permanecia aberta desde que perdeu o pai aos
nove anos. Em seus belos e deslumbrantes Diários, ela já havia anotado
em julho de 1950: “Talvez nunca chegue a ser feliz, mas esta noite sou feliz.”
Em 1957, não houve nenhuma mudança esperançosa: “Tenho cambaleado por aí,
sombria, obscura, desolada, doente. Se superar este ano será a maior vitória
que já conquistei.” Em 1959, as coisas não melhoraram: “Minha cabeça é um
batalhão de problemas.”
Parece mesmo que a infelicidade é
o principal estímulo de seus Diários: “Só escrevo aqui quando estou num
beco sem saída.” Em maio de 1961, a escrita foi interrompida, mas a 16 de
outubro de 1962 escreve, referindo-se ao seu assombroso conjunto de poemas Ariel,
composto em poucas semanas, presumivelmente em meio a um surto de mania: “Eu
sou uma escritora de gênio; foi-me concedido esse dom. Estou escrevendo os
melhores poemas da minha vida, aqueles que vão me tornar famosa...”1.
Virginia Woolf é talvez o caso
mais famoso de uma escritora bipolar, atormentada implacavelmente pela doença.
A iminência de uma nova crise fez com que em 28 de outubro de 1961 se dirigisse
ao rio Ouse com os bolsos cheios de pedras. Deixou-se arrastar pela corrente e
seu corpo não foi recuperado até o 18 de abril. Seu marido enterrou suas cinzas
ao pé de uma árvore em Rodmell, Sussex. Virginia deixou um bilhete comovente: “Tenho
certeza de que vou enlouquecer de novo [...]. Não consigo mais lutar. Sei que
estou estragando sua vida, que, sem mim, você poderia trabalhar. E eu sei que
vai. Veja que nem consigo escrever direito. Não consigo ler. O que quero dizer
é que devo a você toda a felicidade da minha vida. [...] Perdi tudo, menos a certeza da sua bondade.
Não posso continuar estragando sua vida.” 2
Não menos dramático é o caso de David Foster Wallace, que se
enforcou a 12 de dezembro de 2008, aos 46 anos. O romancista e ensaísta que
poetizou sobre o mal-estar de uma época em que as mídias audiovisuais se
tornaram um critério de realidade, promovendo a desumanização e a desintegração
social, lutou por duas décadas contra uma bipolaridade com predomínio de
tendências depressivas. Por muito tempo, a fenelzina o manteve estável, mas os
efeitos colaterais (discinesias faciais, inibição sexual, excesso de peso,
perda de reflexos) o fizeram abandonar a medicação. Pouco depois de interromper
o tratamento, a depressão voltou com toda a sua ferocidade. Novos tratamentos
foram tentados, sem alcançar a remissão. Por fim, a tristeza venceu, semeando
consternação entre seus amigos e familiares, que assistiram sua morte com um
misto de estupor, raiva e fatalismo. Franzen, Zadie Smith e Don DeLillo falaram
em uma homenagem póstuma, lamentando a perda do cronista essencial da
pós-modernidade.
A bipolaridade afetou personalidades como José Agustín Goytisolo, Pedro Casariego, Leopoldo María Panero, Luis Martín Santos e Juan Ramón Jiménez. É difícil estabelecer um diagnóstico no caso de Juan Ramón, mas sua ansiedade generalizada, sua hipocondria, sua tendência ao isolamento, suas explosões emocionais, suas crises depressivas e sua obsessão pela morte, nos levam a pensar que a bipolaridade é uma explicação possível de uma personalidade difícil e propensa ao conflito. Luis Cernuda dedicou-lhe algumas palavras pouco compassivas, acusando-o de ser uma espécie de Mr. Hyde, mas Cernuda não parece o mais adequado para falar de equilíbrio e vontade de conciliar. Na época de Juan Ramón, não se falava de bipolaridade, mas de neurose, mas ousaria afirmar que sua neurose hoje seria diagnosticada como transtorno bipolar, sem excluir outras patologias concomitantes.
Pedro Casariego, escritor, poeta e
pintor, irmão de Martín e Nicolás Casariego, escolheu o dia 8 de janeiro de
1993 para se jogar nos trilhos do trem da estação de Aravaca. Dois dias antes,
havia considerado sua obra gráfica e literária concluída ao finalizar Pernambuco,
o elefante branco, história concebida para presentear sua filha Julieta.
“Picado por um trem faminto”, ele deixou a memória de “um artista misterioso,
intrigante, incomum”, segundo Ángel González. Seu pai, o poeta Pedro Casariego
H. Vaquero, o descreveu como “um raro, com virtudes poderosas, como
honestidade, estoicismo, austeridade e clarividência”. Creio ser necessário
mencionar que, segundo Juan Ramón, “o poeta não é um filósofo, mas um
clarividente”.
O louco notável
Leopoldo María Panero é o louco notável,
que nunca escondeu sua desordem interior. Nascido em Madrid em 1948, sofreu a
sua primeira hospitalização psiquiátrica em 1970. Mais tarde, entraria por sua
própria vontade nas unidades psiquiátricas de Mondragón e Las Palmas de Gran
Canaria. Maldito, provocador, iconoclasta, incrédulo, apaixonado pelo álcool e pela
heroína durante uma década, sua poesia nasce de um desafio permanente à razão,
que não aceita as regras do pensamento lógico aplicadas à linguagem, à vida ou
à moral. Sua clarividência coexiste com sua progressiva desintegração pessoal.
Embora os médicos diagnostiquem esquizofrenia, um transtorno esquizoafetivo do
tipo bipolar não pode ser descartado. Em última análise, as pesquisas mais
recentes afirmam que o transtorno bipolar e a esquizofrenia têm uma causa
comum: a expressão defeituosa dos genes responsáveis pela produção de mielina
no sistema nervoso central.
No campo da literatura
latino-americana, podemos citar Alejandra Pizarnik, que paralisou seu coração
com 50 comprimidos de seconal sódico, um dos barbitúricos usados por Marilyn
Monroe em seu “provável suicídio”. Acredita-se que Pizarnik tenha sofrido de
Transtorno de Personalidade Borderline, um transtorno psicológico que inclui
instabilidade afetiva, sentimentos de vazio e inutilidade, parassuicídios
(automutilação) e irascibilidade. O diagnóstico diferencial atribui
características próprias a cada patologia, mas reconhece que algumas doenças
mentais podem coincidir e admite que o Transtorno da Personalidade Borderline
pode ser interpretado como o limiar da bipolaridade. Pizarnik escreveu: “Sinistra
ilusão de amar uma sombra. / A sombra não morre. / E meu amor / apenas abraça o
que flui / como lava do inferno.”3 Não é uma má descrição do
tormento interno dos bipolares. Nem a esquizofrenia, nem o transtorno bipolar
são caracterizados por uma dupla personalidade, que só existe na ficção
cinematográfica.
Quebra-gelo contra o cérebro
Você pode viver com transtorno
bipolar? Faulkner, Tennessee Williams, Twain, Tolstói, Dickens, Hermann Hesse, Górki,
Schubert, Beethoven, Stevenson ou Balzac tiveram sucesso, não sem prestar uma
notável homenagem ao sofrimento. Van Gogh, Schumann, Kurt Cobain, Cesare Pavese
ou Pier Angeli não tiveram tanta sorte. Um surto de mania é como um quebra-gelo
atingindo o cérebro. Durante longas noites sem dormir, as ideias crepitam como
uma floresta em chamas. A depressão é uma noite sem fim. Você sente que as horas
não existem, que você vagueia por um vazio perfeito. A morte não é uma intrusa.
É uma pequena clareira onde você se encontra novamente com o paraíso.
Eu não faço literatura. Convivo
com essa doença desde 1996 e conheço todas as suas fases. Nesse tempo, consegui
desenvolver uma atividade razoável como crítico literário e professor. Meu
irmão Juan Luis não teve tanta sorte. Ele cometeu suicídio em 1982. Existe uma
relação entre transtorno bipolar e criatividade? A mania imprime um ritmo
vertiginoso ao cérebro, favorecendo o surgimento de ideias e associações,
algumas completamente irracionais, mas que no campo da poesia são verdadeiras
fulgurações.
Não é surpreendente que Van Gogh
tenha criado cerca de 900 obras em dez anos, com interrupções causadas por crises
depressivas. Isso significa que o sofrimento é o preço da arte? Nietzsche
estava errado quando disse que “a dor nos torna profundos”? Hölderlin estava
certo ao afirmar que “só as obras capazes de expressar a experiência da dor
merecem o nome de arte”? A vida não opera em transações dessa natureza. Ninguém
escolhe a dor, mas o artista bipolar, rodeado de instabilidade, desolação e
morte, nos faz pensar que alguns homens nascem ― apesar de si mesmos ―
com um destino.
Notas
¹ A tradução é a partir do texto
original em espanhol.
² A tradução é de Hildegard Feist disponível
em Cartas extraordinárias (Companhia das Letras, 2014).
³ A tradução é a partir do texto
original em espanhol.
* Este texto é a tradução de “Retrato
del escritor bipolar”, publicado aqui, em El Cultural.
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